COR DA SAUDADE

Cor da Saudade (Autoria: Sônia Moura)

Ontem, sonhei que estávamos à beira-mar
Sorvendo o melhor do luar
Enquanto nos beijávamos
A lua veio também nos beijar
E chegou tão perto, tão perto
Que chegamos nela tocar

O dia não amanheceu
Eu amanheci
E em meus olhos
A luz do luar
Dizia adeus
E com ela você se foi
E me deixou com saudades
Dos beijos, dos afagos
Da cor da prata
Cor da saudade
Agora a me beijar

(Do livro: Reflexos Serenos de Sônia Moura)

LUZ DO LUAR

Porta-seios

Porta – Seios (por SÔNIA MOURA)  Sutiã

 Porta-seios – antigamente,  era assim que se chamava o sutiã, palavra trazida da língua francesa para o seio de nossa língua portuguesa.

O famoso porta-seios protegia e/ou segurava o que alguns chamavam de “cofrinho”, pois as mulheres guardavam “coisas” entre os seios (ou “neles”) e o sutiã era a porta ou a parede deste cofrinho especial.

Houve um tempo, em que se propôs que os porta-seios (ou sutiãs) fossem queimados, hoje com o famoso porta-seios ou sem eles, nós, até pouco tempo, conhecidas como o “sexo frágil”, mostramos a nossa força, fomos à luta e conquistamos muitos direitos.

Agora só portamos o tal porta-seios se quisermos ou se precisarmos, porque, afinal de contas, a tal lei da gravidade é crudelíssima, e não há revolução, revolta ou passeata que a modifique, então, só  resta  nos rendermos a ela.

No entanto, além de portar os nossos seios, o sutiã (ou o porta-seios), quem diria, pode ajudar a salvar vidas.

Vocês não acreditam?, pois bem, leiam esta notícia:

 

                    Dinheiro no sutiã salva vida de mulher baleada na BA- 3/04/2009 às 12:18

http://www.atarde.com.br/brasil/noticia.jsf?id=1123049


Foram R$ 150, em notas de R$ 20 e R$ 10, enrolados e guardados dentro do sutiã, que salvaram a dona de casa Ivonete Pereira de Oliveira, de 58 anos, de tiros disparados por dois assaltantes, no ônibus em que estava, em Salvador, na tarde de sábado. No tiroteio, morreu o sargento reformado Luiz Alberto Araújo da Silva, de 52 anos. Um dos assaltantes, ainda não identificado, teria sido atingido na perna, mas conseguiu fugir.

 

 

 

CHOCOLATE, VÉU E GRINALDA

CHOCOLATE, VÉU E GRINALDA (Autoria: Sônia Moura)

chocolate.jpg

Olhava o véu e a grinalda sobre a cama e pensava na armadilha em que o destino a aprisionara, e ela não sabia se iria conseguir livrar-se desse enredo fatal.

O tempo passava rapidamente, os sinos tocavam ao longe, parecendo repetir o refrão dos versos de Alphonsus de Guimarães que diziam: “Quantas grinaldas pelo céu: Alguém decerto vai casar.”

E Violeta sabia que este alguém era ela, era ela.

Quem sabe não aconteceria um milagre e Gilberto desistisse de tudo, quem sabe? Talvez um anjo viesse salvá-la daquele desconforto, sim um anjo, porque ela sabia que os príncipes salvadores sobrevivem apenas nos livros de histórias infantis.

A mãe entrou no quarto, beijou a filha e lhe deu alguns conselhos, como boa mãe, naquele momento tinha um objetivo maior: ajudar a sua Violeta a ser a noiva mais linda entre todas.

A mãe não percebera ou fingira não perceber, Violeta deixava lágrimas molharem o véu de noiva que aguardava pacientemente sobre a cama.

Violeta pensava na Deusa do Amor, aquela que surgiu das profundezas e foi coberta pelos vapores da terra e do mar, como se estes vapores fossem véus. Quem sabe esta Deusa viesse em seu socorro e desse a ela a chance de fugir para bem longe e reviver, ainda que por um momento, os risos com sabor de chocolate que outrora tanta alegria traziam ao seu coração.

Sílvio e ela adoravam chocolate, gostavam de com ele se lambuzar e depois deixar o riso e a sensualidade brincarem junto com eles.

Agora, o véu e a grinalda já estavam em seu devido lugar e Violeta, “plantada” na porta da igreja, precisava desabrochar, aquela cena era suficiente para confirmar o que ela já sabia, ninguém viria salvá-la daquela armadilha, só ela poderia sair correndo dali, mas lhe faltava coragem.

A porta se abriu, a marcha de Mendelssohn deslizou altaneira por ouvidos emocionados e a súbita presença materializava um anjo que parecia dizer a ela, prossiga, tudo vai dar certo. O anjo sorria. Empertigou-se. Segurou firme o braço do pai e entrou com passos cadenciados para cumprir o ritual.

O padre, as luzes, o sorriso do noivo, as lágrimas da mãe, o sim, Violeta via tudo através do véu de noiva, as ilusões precisavam fugir para seus esconderijos. O show estava em andamento.

Após a cerimônia religiosa, foram todos para o salão comemorar, afinal, era uma festa maravilhosa e a noiva fez questão de que em tudo ou em quase tudo tivesse presente o chocolate.

E, assim, mergulhada no mar de chocolate, Violeta envolvida pelos braços do agora marido, florescia, apesar da erva daninha do passado teimar em vir sufocá-la.

Chocolate, véu e grinalda

(Do livro: Súbitas Presenças de Sônia Moura)

TAMBORES D`ÀFRICA

Tambores d`África (Autoria: Sônia Moura)   tambores.jpg

A madrugada enluarada descansava à beira do lago, enquanto o calor de um continente, atravessado quase ao meio pela linha do equador, refrescava-se à luz do luar e o vento acariciava as folhas da vegetação local. Pois foi nesta hora, entre o sono e sonho que ouvi, pela primeira vez os tambores d`África a chamarem por mim.
Vi meus antepassados chamando-me a participar da roda dos tambores.
Certamente eu conhecia aquele lugar e, ali, sentia-me à vontade, estava em casa e corria solta por um espaço de alegria, descalça, levantando a poeira com meus pés de menina ainda livre. Tudo era uma festa.
Saudávamos alguns orixás ou seria somente uma reunião para que a lua se sentisse feliz, talvez cantássemos para ela.
O cheiro da madrugada provocava em mim um torpor, eu me sentia leve e parecia flutuar ao som dos tambores que marcavam o compasso daquela terra e daquela gente, da minha gente. Como eu estava feliz!
Com os cabelos de algodão, uma negra acolheu-me em seus braços e incentivou-me a acompanhar com os pés o ritmo, que se espalhava pela savana e fazia dançar quem o escutasse.
De repente, colocaram-me no meio da roda e eu dancei toda a minha juventude, todo o meu presente, nem me importei com o passado ou com o futuro, o meu tempo era aquele, ali eu estava viva e com os olhos dos meus a pousarem em mim, com uma ternura que eu jamais havia experimentado.
Senti-me acolhida e muito amada, sentia-me parte da terra e das águas africanas.
A súbita presença de meus antepassados veio banhar meu corpo, com uma infusão feita com folhas sagradas para o meu povo de origem, enquanto o toque dos tambores consagrava aquele momento.
Os tambores d`África chamavam-me a viajar em meio a minhas raízes, aquelas que me foram sonegadas, raízes que se perderam no meio de tristes histórias.
Qual o nome africano de meus antepassados? De que lugar da África eles foram caçados? Eu não sabia nada, não havia registro, não havia nomes, só havia sombras e sofrimentos.
A partir daquela madrugada, meu corpo e minha alma ficaram para sempre marcados pelos rastros do passado e eu jamais deixei de ouvir o som dos tambores d`África.

(Do livro: Sùbitas Presenças de Sônia Moura)

MUTANTES

Mutantes (Autoria: Sônia Moura)        menino-passarinho

MUTANTES (Autoria: Sônia Moura)

Din-don acordou bem cedo
E foi ver o sol nascer
Subiu na duna mais alta
E começou a cantar
Precisava deste canto
Pra o destino mudar

A manhã se espreguiçou
E a lua foi dormir
O sol mostrou o seu rosto
Ainda com cara de sono
De quem dormiu e sonhou

Din-don se pôs a sorrir
Olhou o horizonte
E ali ficou quietinho
Vendo o dia aparecer
Surgindo atrás do monte

Seu canto foi cantar longe
Para um neném adormecer
E acordar quem precisa
Bem cedo ir trabalhar
Para depois descansar

Din-don era um canarinho
Que uma bruxa muito doida
Há muito tempo encantou
E quem era menino
Em passarinho tornou

Mas Din-don gostou desta história
De viver só a cantar
E agora dizem as más línguas
Que ele não quer mais trocar

Ser um passarinho é tão bom
Mas era preciso voltar
E Din-don arranjou um jeito
De seu destino mudar

Din-don pensou, pensou
E foi com a bruxa falar
Então ficou acertado
Din-don em dois mundos estaria
E lá e cá viveria

Nos dias pares, seria um menino
Correndo pelas campinas
Viveria para brincar
Nos dias ímpares, passarinho
A voar, voar, voar
A cantar, cantar, cantar

E como aquele dia
Era dia de número par
Din-don virou um menino
E depois de muito brincar
Correu até sua casa
E foi ver televisão
Até o dia acabar

No dia seguinte, então,
Tão ímpar como o dia
Dind-don era um passarinho
Que voando sempre ao léu
Foi bem  pertinho do céu
Cantando sem parar
Até o dia acabar

A bruxa, doida demais,
Também gostou da idéia
E passou a viver assim
Um dia ela era bruxa
Que sabia remédios fazer
E no outro era uma fada
Que iria encantar
Mas, o fato é que bruxa ou fada
Iria surpreender

O mundo também é assim
Ninguém é sempre um só
Hoje filha, amanhã, mãe
Hoje neta, amanhã avó
A gente se multiplica
Menino, homem, filho e pai
Menina, mulher, filha e mãe
Ninguém jamais é um só

Não somos como as estátuas
Temos alma e coração
E como o mundo giramos
Somos todos uns mutantes
Vivemos para renovar
Assim como fez Din-don!

(Do livro: Brincadeira de Rimar, de Sônia Moura)

No reino dos desencantados

No reino dos desencantados (por: Sônia Moura)   castelo

Num reino não tão distante, um reino em que quase todos estão sempre desencantados, um rei declarou que o problema da crise dos bancos daquela aldeia global foi provocado por um grupo que domina todo território do planeta e disse que este grupo tem os olhos azuis.

Todos entenderam o que ele quis dizer: o poder econômico está mão de muito poucos, enquanto a pobreza é a companheira de muitos.
Mas, como havia inimigos do rei, estes inimigos começaram a criticar o rei e a deturpar suas palavras.

A coisa piorou muito, quando o audacioso rei teve a coragem de dizer que nunca soube que um homem de pele escura fosse dono ou mesmo presidente de qualquer banco de alguma província.

Estas declarações causaram um total rebuliço naquele reino não tão distante, onde alguns desencantados viviam espalhando a desilusão, ainda mais que, era a primeira vez, que alguém botava a única  verdade absoluta: o poder econômico está nas mãos de poucos.

Mais uma vez, os inimigos queriam crucificar o rei, mas como estava muito perto das comemorações da Páscoa, quando segundo uma das religiões do reino, um rei verdadeiro ressuscita, eles desistiram, acho que ficaram com medo.

Assim sendo, os inimigos do rei espernearam, mas tiveram que engolir a verdade, aquela que cisma em ficar escondida, mas, tal gato com o rabo de fora, sempre aparece.

Ainda bem que este fato não ocorreu no meu país e sim, naquele reino nem tão distante assim, lá onde os seus habitantes têm a auto-estima baixíssima e, por isso, mesmo quando tudo parece que vai dar certo ou mesmo quando tudo está dando certo, eles insistem em dizer: aqui nada dá certo!

Ufa, ainda bem que no meu reino as coisas são bem diferentes.

ESCOLA E PODER

                                         

Escola

Escola e Poder (Autoria: SÔNIA MOURA)

O professor atento, volta e meia, se depara com alunos desanimados, pois estes associam “seus fracassos”: dificuldade na aprendizagem notas baixas, desmotivação , suas dúvidas, ao não- domínio de determinada disciplina.

É este o implacável dilema que se agiganta no cenário educacional: de quem é a “culpa”, do sistema, do governo, da família, da religião, do indivíduo, da escola? Afinal, de quem é a bola? (Baseado no texto: DE QUEM É A BOLA?)

Diríamos que geralmente esta falta de definição atrelada à necessidade de se apontar um “culpado” é uma das máscaras usadas pelo poder, advindo da escola, da família, da igreja, do sistema etc., em qualquer lugar ou situação em que o indivíduo se sinta indefeso, uma vez que a imagem do o poder amedronta e ameaça, como nos mostra Jacques Goimard:

A experiência do poder está profundamente ancorada em nossa vida cotidiana: desde seu nascimento, a criança é entregue a essas personagens onipotentes que são o pai e a mãe. Na escola, sabe que o menor está em poder do maior, o forte em poder do fraco, o solitário em poder do líder…O tema do poder está ligado à experiência vivida da desigualdade.”  (GOIMARD, Jacques., La Grande Antologie de la science –fiction,, Les pouvoirs [Introdução]. [APUD .: HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. São Paulo: Summus, 1980, p.125.)

É sabido que em todo e qualquer processo de construção e transmissão de conhecimento são necessários: sedução, confiança, respeito, motivação para que se desenvolvam habilidades, caso estes fatores sejam substituídos pelo medo, toda e qualquer aceitação será de imediato rechaçada, dando lugar ao descaso.

O poder trasvestido de autoridade é uma barreira intransponível para que os objetivos propostos pela educação sejam alcançados, pois os alunos terão dificuldade em lidar com a transmissão e com o transmissor de saberes, aqui representado pela figura do professor inflexível, contundente, aquele que mostra todo o seu poder despudoramente, em que a negociação nunca dá lugar ao diálogo crítico, aquele que foge do conflito, aquele que tem medo, então, este comportamento, em qualquer circunstância, cria uma situação em que o processo ensino- aprendizagem terá como resultado uma aprendizagem vaga, pobre, sem luz , sem lastro e sem lustre.

No entanto, no momento em que a condução de limites, imprescindíveis à convivência social, cede lugar à liberdade excessiva ou ao poder ilimitado, em qualquer ambiente (famíliar, escolar etc.), o resultado do processo de transmissão de conhecimento terá suas bases deterioradas, por obstáculos criados pela ruptura relacional entre aprendiz e facilitador da aprendizagem.

E, quando não estão/são bem alinhados, o poder e o saber intervêm no processo de aprendizagem, provocando um resultado desastroso inevitável, no qual a interação didático – pedagógica imprime trocas inócuas, uma vez que o processo educacional, em qualquer circunstância, estará limitado a este quadro: um manda e o outro obedece, nada mais.

Sabemos que o poder e o saber, são linguagens universais em suas essências, por suas maneiras constantes e regulares de serem difundidos pelo mundo, o que lhes dá o traço diferencial é a cultura de cada lugar, mas nem mesmo a cultura tira o traço de união entre eles, pois em ambos os casos eles se tornam, para muitos e em muitos casos, em verdade irrefutável.

Esta é a marca do poder, é nesta circunstância que ele nubla as formas de saber, garantindo sua própria e absoluta soberania.

Assim, de acordo com o veículo da aprendizagem e de acordo com quem conduz a transmissão do conhecimento, se os objetivos primordiais da educação forem bem focalizados e condições para que propósitos, iniciativas, reconhecimentos, posições, competências e responsabilidades forem postas em relevo, e em favor da disposição de ensinar e aprender, para que deste modo as trocas se processem, as falhas provocadas pelo uso extrapolador do poder, existem enormes chances de estas falhas serem corrigidas, e a transmissão de conhecimento ser [re]conduzida a seu lugar de direito e de fato.

O BENQUERER – Reforma Ortográfica II

O benquerer (por Sônia Moura)

As mudanças apresentadas pela Reforma Ortográfica para o emprego do hífen, no meu modesto entendimento, não vieram para simplificar. Mas isto não é novidade alguma, pois, o hífen é um chato de galocha, com a reforma ou sem ela.

Segundo a nova ortografia, algumas formas iniciadas pelo prefixo “bem-” sofrem alteração, mas, segundo o texto do Acordo, a aglutinação ocorre apenas em duas famílias de palavras.

São elas:

1 – A palavra “bem-feito”, que perde o hífen e passa a “benfeito”, por força de ajustá-la ao padrão de “benfeitor”, “benfeitoria” ou “benfazejo”, todas já aglutinadas e pertencentes à mesma linha de cognação.

2 – O vocábulo “bem-querer”, que passa a “benquerer”, em analogia com “benquisto” e “benquerença”, termos já aglutinados.

** No texto oficial, não há menção a outros casos.

Em relação à palavra “benfeito” (Significando: algo bem acabado; esmerado ou algo/alguém elegante; gracioso ou ainda: como forma de alguém, por vingança ou mágoa, jubilar – se com a desgraça alheia: “Benfeito, ele não conseguiu o emprego.”), excetuando-se a justa correção que foi feita em relação a palavras da mesma família (benfeitor, benfazejo), com ou sem hífen, nada irá mudar.

Já o vocábulo “benquerer” que antes era escrito separado e com o emprego do hífen, agora se escreve juntinho.

Não é uma beleza? Esta nova ortografia tem tudo a ver com a significação deste vocábulo, onde já se viu benquerer separado? É, não combinava mesmo!

E não é apenas porque seus pares (benquisto, benquerença) eram/são escritas sem hífen, que o benquerer foi aglutinado, mas a verdade é que o benquerer separado era, a bem da verdade, uma enorme incoerência linguística.

Os bem-amados agradecem a mudança e a união perfeita do amor perfeito.
alma gêmea

COLUNAS

                               COLUNAS

Colunas (Autoria: SÔNIA MOURA)

Ajeitou-se na cadeira porque a coluna já reclamava e o incômodo era evidente, mas precisava escrever sua coluna para o jornal, no entanto seu olhar teimava em tirar-lhe a concentração, atraído que estava pela coluna de mármore que se mostrava soberana, segurando, tal qual Atlas, o prédio antigo, que ficava bem em frente, no prédio onde fora seu local de trabalho,um  prédio que guardava muitas histórias, as quais os jornalistas haviam registrado em suas colunas.
Seu pensamento voou para o passado e ele se viu em meio aos antigos colegas de escola, armando-se para fulgurar como membro da quinta coluna, com a finalidade de combater a ditadura e os ditadores, que, a cada dia, se incrustavam cada vez mais na vida do povo e do do país, tal e qual colunas geológicas, encravadas no dia-a-dia de todos, e, com certeza a maioria  preferia que eles não estivessem ali.
O tempo corria, precisava voltar ao presente, a súbita presença do passado precisava colocar-se em seu devido lugar.
Sentado em seu trono, uma vez que, ali, sentia-se um verdadeiro rei, o afamado jornalista comparou-se a uma coluna monolítica, estava muito solitário.

Aprumou-se, sacudiu a poeira da auto-piedade e da saudade de outrora,  não havia tempo de lamentar-se ou perder-se em recordações, precisava preparar suas colunas para os jornais e para as revistas, pois era por meio destas colunas que a coluna vertebral de toda a sua família era sustentada, assim como a coluana do vão central sustentava o ar que circulava naquele antigo prédio.

(Do livro: Súbitas Presenças, de SÔNIA MOURA)

COLUNA

PASSARINHO PASSEIA PELO MERCADO

PASSARINHO PASSEIA PELO MERCADO  (por Sônia Moura)

A vida nos reserva surpresas sensacionais e hoje aconteceu algo inusitado, diria eu, quase impossível.
Tratando-se de um sábado com o sol “à meia boca” na cidade maravilhosa, e, já que o dia “não deu praia”, o mercado (super ou não) acaba sendo uma “opção”. Portanto, o mercado (hoje, hortifruti; antigamente, quitanda) estava bem cheio.
De repente, eis que surge um belo pássaro voejando, pra lá e pra cá, passeava como se estivesse em casa.
Possivelmente, atraída pelo cheiro das frutas, a ave adentrou o recinto sem nenhuma cerimônia, bicou algumas frutas, deu olé em quem tentava fotografá-la, voou, pousou, xeretou e encantou.

Ninguém ousava mexer com o bichinho que parecia estar em um parque de diversão.
Nestes tempo em que o celulares fazem quase tudo, muitos saíram das bolsas e bolsos, inclusive o meu para registrarmos o momento. E o mercado ia ficando cada vez mais cheio. Por alguns minutos, todos se esqueciam das comprar para admirar o passarinho que, assim como chegou, partiu.

A vida voltou ao “normal”.PASSARINHO