Do folhetim ao folhetim- Entretenimento – educação- ideologia
(Sônia Moura – UFF)
CONCLUSÃO
A questão do nacionalismo é a questão da igualdade, da polarização do eu e do outro, do universal e do particular, por isto, a idealização pode servir para destruir nossas ambiguidades: mestiçagem e primitivismo, base de um povo que se formou em meio a culturas bem divergentes – a primitiva e a européia. Colonizados, ambíguos e tendo na bagagem muitos recalques, muitas questões conflitantes e difíceis de serem resolvidas, mas que por conta de um Estado Novo ficaram escondidas, adormecidas…por um bom tempo.
Observa-se que com o Romantismo tentamos alçar voos heróicos, hiperbólicos, metafóricos indo à busca de nossa identidade, rumo ao nacional, mas não fomos muito longe; nossas asas foram podadas pela divisão da memória afetiva e secular que nos jogava para o presente e para o passado que tanto queríamos naquele momento, mas o ufanismo exagerado cegava-nos e atava-nos os pés e, assim, nosso olhar se voltava para o particular.
Queríamos a liberdade, mas ainda não a dávamos a muitos que aqui estavam, não queríamos os dominadores, mas nossa arte estava nas mãos de outros que, doravante, desempenhariam o mesmo papel, queríamos exclusividade de fatos que são universais. Mesmo com as asas podadas conseguimos nossos primeiros voos, conquistamos algum espaço, fizemos e nos perpetuamos nas artes e a história nos tem em sua conta.
Embalados pelo desejo nostálgico queremos, a qualquer custo, encontrar nossas origens. Valorizando o passado, elegemos um herói, precisamos deste reflexo no espelho do passado, porque só assim teremos futuro, e no futuro, quem diria, revolveríamos novamente esta gaveta à procura do retrato perdido.
A ideia latente da identidade está no íntimo, não é superficial, é a pátria e sua representação, rejeitamos pois, aqueles que querem nos roubar a pátria.
A negação Romântica das influências lusitanas em nossa cultura atesta que esta aversão consciente esconde, na verdade, uma atração inconsciente por raízes culturais e afetivas que já se entrelaçaram com as nossas, e o nosso desejo inflamado de total segregação vira utopia.
Debaixo do véu diáfano do nacionalismo exuberante, exaltado, moderado ou político, escondem-se as marcas vivas do colonizador e da colonização, pela presença da velha – nova classe dominante.
Evidentemente, a nova classe dominante é a que contesta o colonizador, é a que propõe mudanças, enfim, as classes dominantes precisam sempre manter a classe.
Não se pula de um pólo ao outro sem tropeçar na história, a mágica do apagamento ainda não foi criada, assim, os Românticos, atraídos pelo passado bem distante, despertados pela curiosidade, se esquecem de que em seu passado mais recente, se alarga a história e os portugueses já estão inscritos nela, se esquecem de que eles, os Românticos, estão fabricando o futuro.
Para os Modernistas o futuro é tão (e, às vezes, ) mais atraente que o passado, no entanto a vedete da história é o tempo presente. A nova Era (Era Vargas) nos traz o passado vestido com as roupas do presente, o passado e o presente se mesclam, assim, o Estado prestigia a arte moderna, prestigia o cinema, e, através das artes e dos meios de comunicação, o regime político faz a conexão: individual/coletivo.
Neste novo tempo precisamos olhar o passado, pois no presente temos um pai que nos protege e protege as artes, estamos todos sob a tutela estatal.
O país cheio de contrastes, amolda-se às novas formas da expressão deste presente renovante que nos foi entregue dentro do caldeirão em ebulição de uma guerra e de muitas mudanças políticas.
Era preciso correr, tínhamos o automóvel; era preciso correr, o tempo é fugaz; era preciso correr, tínhamos a máquina. Tudo está acelerado, é preciso viajar. Burgueses, industriais, os barões (principalmente do café), os burgueses intelectuais, o nordestino, o professor, o padre e o imigrante se esbarram nas calçadas, é preciso “enlouquecer”; é preciso ser anarquista; é preciso conquistar; é preciso (re)descobrir o Brasil; é preciso inovar, o nosso estado é um Estado Novo, portanto, sejamos Modernos, é preciso modernizar.
Enfim, “entre parentes”, continuamos atados por elos da mesma corrente, há o “lá” majestoso, mas há também o “aqui” que “lá” está; não há como negar, “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”, e também tem Macunaíma que é índio, branco, negro, feiticeiro, canibal, colonizador e imigrante.
Com o bailar do tempo, a forma muda, mas a essência fica porque “Sou filho das selvas, nas selvas cresci, Guerreiros, descendo da tribo Tupi”, eu descendo “das legiões de homens negros como a noite”, sou Iracema e sou Ceci, sou Peri e sou Martim, sou trabalhador, sou brasileiro, enfim “Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta.. Mas um dia afinal eu toparei comigo…