ESCOLA E PODER

                                         

Escola

Escola e Poder (Autoria: SÔNIA MOURA)

O professor atento, volta e meia, se depara com alunos desanimados, pois estes associam “seus fracassos”: dificuldade na aprendizagem notas baixas, desmotivação , suas dúvidas, ao não- domínio de determinada disciplina.

É este o implacável dilema que se agiganta no cenário educacional: de quem é a “culpa”, do sistema, do governo, da família, da religião, do indivíduo, da escola? Afinal, de quem é a bola? (Baseado no texto: DE QUEM É A BOLA?)

Diríamos que geralmente esta falta de definição atrelada à necessidade de se apontar um “culpado” é uma das máscaras usadas pelo poder, advindo da escola, da família, da igreja, do sistema etc., em qualquer lugar ou situação em que o indivíduo se sinta indefeso, uma vez que a imagem do o poder amedronta e ameaça, como nos mostra Jacques Goimard:

A experiência do poder está profundamente ancorada em nossa vida cotidiana: desde seu nascimento, a criança é entregue a essas personagens onipotentes que são o pai e a mãe. Na escola, sabe que o menor está em poder do maior, o forte em poder do fraco, o solitário em poder do líder…O tema do poder está ligado à experiência vivida da desigualdade.”  (GOIMARD, Jacques., La Grande Antologie de la science –fiction,, Les pouvoirs [Introdução]. [APUD .: HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. São Paulo: Summus, 1980, p.125.)

É sabido que em todo e qualquer processo de construção e transmissão de conhecimento são necessários: sedução, confiança, respeito, motivação para que se desenvolvam habilidades, caso estes fatores sejam substituídos pelo medo, toda e qualquer aceitação será de imediato rechaçada, dando lugar ao descaso.

O poder trasvestido de autoridade é uma barreira intransponível para que os objetivos propostos pela educação sejam alcançados, pois os alunos terão dificuldade em lidar com a transmissão e com o transmissor de saberes, aqui representado pela figura do professor inflexível, contundente, aquele que mostra todo o seu poder despudoramente, em que a negociação nunca dá lugar ao diálogo crítico, aquele que foge do conflito, aquele que tem medo, então, este comportamento, em qualquer circunstância, cria uma situação em que o processo ensino- aprendizagem terá como resultado uma aprendizagem vaga, pobre, sem luz , sem lastro e sem lustre.

No entanto, no momento em que a condução de limites, imprescindíveis à convivência social, cede lugar à liberdade excessiva ou ao poder ilimitado, em qualquer ambiente (famíliar, escolar etc.), o resultado do processo de transmissão de conhecimento terá suas bases deterioradas, por obstáculos criados pela ruptura relacional entre aprendiz e facilitador da aprendizagem.

E, quando não estão/são bem alinhados, o poder e o saber intervêm no processo de aprendizagem, provocando um resultado desastroso inevitável, no qual a interação didático – pedagógica imprime trocas inócuas, uma vez que o processo educacional, em qualquer circunstância, estará limitado a este quadro: um manda e o outro obedece, nada mais.

Sabemos que o poder e o saber, são linguagens universais em suas essências, por suas maneiras constantes e regulares de serem difundidos pelo mundo, o que lhes dá o traço diferencial é a cultura de cada lugar, mas nem mesmo a cultura tira o traço de união entre eles, pois em ambos os casos eles se tornam, para muitos e em muitos casos, em verdade irrefutável.

Esta é a marca do poder, é nesta circunstância que ele nubla as formas de saber, garantindo sua própria e absoluta soberania.

Assim, de acordo com o veículo da aprendizagem e de acordo com quem conduz a transmissão do conhecimento, se os objetivos primordiais da educação forem bem focalizados e condições para que propósitos, iniciativas, reconhecimentos, posições, competências e responsabilidades forem postas em relevo, e em favor da disposição de ensinar e aprender, para que deste modo as trocas se processem, as falhas provocadas pelo uso extrapolador do poder, existem enormes chances de estas falhas serem corrigidas, e a transmissão de conhecimento ser [re]conduzida a seu lugar de direito e de fato.

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