COLUNAS

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Colunas (Autoria: SÔNIA MOURA)

Ajeitou-se na cadeira porque a coluna já reclamava e o incômodo era evidente, mas precisava escrever sua coluna para o jornal, no entanto seu olhar teimava em tirar-lhe a concentração, atraído que estava pela coluna de mármore que se mostrava soberana, segurando, tal qual Atlas, o prédio antigo, que ficava bem em frente, no prédio onde fora seu local de trabalho,um  prédio que guardava muitas histórias, as quais os jornalistas haviam registrado em suas colunas.
Seu pensamento voou para o passado e ele se viu em meio aos antigos colegas de escola, armando-se para fulgurar como membro da quinta coluna, com a finalidade de combater a ditadura e os ditadores, que, a cada dia, se incrustavam cada vez mais na vida do povo e do do país, tal e qual colunas geológicas, encravadas no dia-a-dia de todos, e, com certeza a maioria  preferia que eles não estivessem ali.
O tempo corria, precisava voltar ao presente, a súbita presença do passado precisava colocar-se em seu devido lugar.
Sentado em seu trono, uma vez que, ali, sentia-se um verdadeiro rei, o afamado jornalista comparou-se a uma coluna monolítica, estava muito solitário.

Aprumou-se, sacudiu a poeira da auto-piedade e da saudade de outrora,  não havia tempo de lamentar-se ou perder-se em recordações, precisava preparar suas colunas para os jornais e para as revistas, pois era por meio destas colunas que a coluna vertebral de toda a sua família era sustentada, assim como a coluana do vão central sustentava o ar que circulava naquele antigo prédio.

(Do livro: Súbitas Presenças, de SÔNIA MOURA)

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