Pendurada no céu
a nuvem olhava a vida,
veio um vento, soprou-a
e a nuvem mudou de lugar,
depois se esticou
para ver o lírio que
acabara de nascer
mas, foi tão afoita
que lá de cima
se despencou
e nas pétalas do lírio
se alojou
e com ele se casou

Pendurada no céu
a nuvem olhava a vida,
veio um vento, soprou-a
e a nuvem mudou de lugar,
depois se esticou
para ver o lírio que
acabara de nascer
mas, foi tão afoita
que lá de cima
se despencou
e nas pétalas do lírio
se alojou
e com ele se casou


O sol caminha pelos corpos
indecentemente
libertino,
doura peles,
cria imagens
em olhos invisíveis,
desperta sonhos,
veste fantasias,
faz-se poeta
e escreve um poema,
beija corpos deitados na areia,
brinca com as ondas do mar,
depois, vai-se embora,
porque outra luz está por chegar
(Da obra: POEMAS EM TRÂNSITO)
PODEROSA DEUSA
Encontrei Atena
Com as antenas ligadas
E ela me falou assim:
– É por isso que
Quando alguma coisa me enerva,
Quem não sabe da minha história,
Insiste em me chamar de Minerva
Veja bem, nasci em toda a glória,
Sou filha de Zeus e Métis
Que, transformada em mosca morta,
Minha mãe foi engolida
Por meu pai apavorado
Achando que eu
Era uma Deusa prometida
E que iria mais tarde
Seu trono abocanhar
Mas como eu sempre fui
Artista e muito sabida
Deixei o velho com tamanha
Dor de cabeça,
Uma baita enxaqueca
E o poderoso Zeus
Não aguentando a parada
Pediu ao amigo Hefesto
Para dar uma machadada
Bem no meio do seu quengo
Assim que o feito se deu
Eu saltei toda paramentada
Com armadura, elmo e escudo
E eu não era nenhum monstrengo
Era uma deusa virgem e uma linda guerreira
(Sempre me consideraram virgem
Quem sabe ou quem saberá?)
E como fui gerada perto do cérebro
Nasci já sabendo de tudo
Com uma lança na mão
Mas não significava guerra, não
Eu usava uma estratégia
Para vencer qualquer turbilhão
Inventei o freio, amansei cavalos
Para que os fortes marmanjos
Conseguissem os bichos domar
Atenas era a minha cidade preferida
Já que leva o meu nome
E está sempre a me homenagear
O meu tio Poseidon veio comigo disputar
Para o nome de um ou de outro
Uma cidade assim chamar
Titio com seu tridente
Fez jorrar água do mar
E um cavalo a trotar
Já eu, mulher de coragem,
Domei aquele cavalo
Também dei a todo mundo
Uma linda oliveira
Que produzia alimento, óleo e também madeira
Por isto esta cidade o meu nome sempre terá
Sendo mulher guerreira
Nunca quis me apaixonar
E pedia aos outros deuses
Para por mim não se apaixonarem
Porque se eu ficasse grávida
Não poderia mais guerrear
Depois passei a Minerva me chamar
Pois junto com o povo de Atenas
Ao caso Orestes fui julgar
Ele que matou a mãe para o seu pai vingar
Dei o voto de Minerva
E Orestes seu crime não foi pagar
Apenas por ser mulher
Não pude o trono ocupar
E ser a rainha do Olimpo
Mas isto não foi problema
Pois o trono que ocupo
É o da sabedoria, da prudência
E ainda sou considerada
A amante da beleza e também da perfeição
E convenhamos, amigos,
Isto não é para qualquer um não.

Fazer sexo é fácil,
Se for apenas para a procriação
Mas o sexo prazeroso
Aquele que é bem gostoso
Depende de toques e retoques
E nada de não me toques
Só não vale levar
A tristeza a reboque
É preciso ter tesão,
É preciso ter paixão,
É preciso entregar alma,
E o corpo, com total devoção,
Pois se não houver nada disto
Não haverá emoção
Sexo só é gostoso
Quando o egoísmo
Fica bem longe e
A dor logo se esconde,
Para fazer renascer
Eros abraçado a Tanatos
Deixando quem faz amor
Entre o viver e o morrer
Sendo domado e selvagem
A gritar e a gemer
Somente por puro prazer
Praticar sexo de verdade
É gesto de generosidade
Com uma boa dose
Do que chamam
Libertinagem

LABIRINTOS (por Sônia Moura)
Quando os homens que carregaram meus móveis pesados
Saíram lá de casa
As marcas de seus sapatos enlameados
E de seus passos apressados
Marcaram fortemente o meu chão
Criando labirintos na minha imaginação
Quando o homem que eu amei por tanto tempo
Saiu da minha vida
Todas as nossas lembranças foram embalsamadas
E as marcas de todos os nossos risos
Fantasiaram – se de alegrias esperançosas
E ainda hoje formam labirintos na minha imaginação
[Da obra: Coisas de Adão e Eva]

Narrando uma história incerta
Para validar uma certa história
Ou quem sabe, uma história certa,
O poeta reduplica o real
Não separa o bem do mal
Bota tudo no mesmo balaio
Dá destaque à fantasia
Porque a fantasia compensa
O abandono e o tédio
E não há outro remédio
A não ser fantasiar
E deixar a vida passar
Com astúcia e leveza.
Assim, este paralisa o tempo
Funde o objeto e o sujeito
Num verso ou numa estrofe
Eterniza o não vivido
Para que no mesmo poema
Brinquem a leveza dos tempos
E a leveza da festa
Cria imagens misturadas
Pastiches de muitos tempos
Pastiches de muitos eventos
E de sujeitos divididos
Tudo transformado em mito
Convida o sonho e a fantasia
Para alagarem o real
Pois ele sabe muito bem
Que a vida é um grande talvez
E que sem margem não há limites
Por isso, andar por extremos
Pode ser tão perigoso
Ainda assim ele se arrisca
Segue em frente, sai da pista,
Cambaleia, se recompõe,
Cultiva em seu viveiro
Palavras e desafios
E, para não dar na vista,
Usa muita alegoria
Mistura tristeza e alegria
Faz da poesia
Seu momento de orgia
E, juntamente, com o deus Baco
Propaga aos quatro cantos
Que a palavra é seu encanto
E que este é o seu “barato”
[Da obra: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura]

Seu amor é fractal
E, como tal,
Hora faz bem,
Hora faz mal
(Da obra: Poesia dia a dia, se Sônia Moura)

O amor me pegou de jeito
Não há como recuar
Atravesso esta ponte
Ou me jogo neste mar?
Não sei mesmo o que fazer
Enfrento esta tempestade
Abro cortinas para o sol entrar
Ou deixo a vida me levar?
Afasto a nuvem pesada
Afasto o medo de amar
Acordo o silêncio antigo
Ou será melhor me calar?
Dinamito a incerteza
E me lanço no vazio
Agarrada a doces lembranças
Ou desafio um rio bravio?
Abraço-me com o silêncio
Coloco lágrimas ao vento
Grito palavras bem raras
Ou entro para um convento?
Não sei mesmo o que fazer
Se solto a alma no espaço
E arrisco a me perder ou
Se me escondo na caverna
E me arrisco a não viver
Preciso me decidir
Já sei o que vou fazer
Vou me espalhar neste amor
Vou fazer um carnaval
Vou me embolar com o prazer
Quero uma ilha deserta
Não para me acovardar
Mas para viver sem “não pode”
Fazer o que der na telha
Entregar o corpo e a alma
Abandonando qualquer dúvida
Adoto toda a certeza
E vou pelo mundo a fora
Praticando o verbo amar
(Da obra: COISAS DE ADÃO & EVA, de SÔNIA MOURA)

-Uai, moço, aqui num tem nada não,
Só esse riozinho,
Esse pomar fresquinho,
Esses lindos passarinhos,
Esses jardins floridos,
Esse céu tão colorido,
Esse sossego de amigo
– Uai, moço, acho que este é que é
Aquele lugar tão “bão”,
Pra qualquer um viver
Basta apenas nós querer
E ele assim vai ser
E, então, no seu dizer
-O que é um lugar “bão”?

Sobraram raízes
Daquela paixão
Em forma de voz,
Em forma de tom
Do som do seu riso,
Da falta de siso
Nasceram frutos
Com gosto de orvalho
E troncos tão fortes
Mas galhos tão frágeis
Que isolaram a razão,
Violaram a emoção
Criaram espaços sombrios
Invadiram meus poros
Trouxeram arrepio
Deixaram minh´alma
À flor da pele
Tiraram minha vida do sério,
Misturando a verdade e o mistério
Rasguei minha alma,
Entreguei-me a um pranto
Que formou mil rios
E em meu desvario
Vi estrelas cadentes
Como beijos ardentes
Sonhei acordada
Caminhei por uma estrada
Que pensei ser o tudo
Mas que me levou ao nada
Lutei, quis fugir,
E não consegui
Voltei aos seus braços
Chorei e sorri
Fui tola e sábia
Ouvi mil palavras
E um castelo montei
A você coroei
Como único Rei
E a mim proclamei
Sua abelha rainha
O amor recendia
A paixão renascia
E reinava a alegria
Mas, ao certo não sei,
Se vivi ou sonhei
(Da obra: Coisas de Adão e Eva, de Sônia moura)