OUTRAS ‘musas’ – HISTÓRIA e MEMÓRIA

                                                                              OUTRAS “musas”- HISTÓRIA E MEMÓRIA

II – OUTRAS “musas”- HISTÓRIA E MEMÓRIA

Museus artísticos já existiam desde a Antigüidade (Pinacoteca de Atenas), mas foi com o Renascimento e com o gosto pelo colecionismo que os primeiros acervos consideráveis, puderam ser amealhados por nobres e Cardeais. Após o séc. XII, lado a lado com os gabinetes de curiosidades, em núcleos dos grandes museus nacionais.

Cabe ressaltar que, segundo Francisca Hernández Hernández, “colecionismo e a ilustração” são feitos importantes, no que diz respeito à origem dos museus. O primeiro está ligado às conquistas e aos “saques” praticados pelos conquistadores; o segundo (o Iluminismo) ‘existia, dentro do ambiente cultural da época a necessidade de criar este tipo de instituições”; Francisca. Hernandéz ainda destaca: “ Quizás el paso más decisivo sea la conversión de las colecciones privadas en un patrimonio colectivo, es decir, en un acto jurídico institucional.”

Três acepções ligadas ao museu precisam ser repensadas: 1) a visão romântica, por exemplo, a de que se vai ao museu só para contemplar; 2) a visão depreciativa: museu como sinônimo de “asilos póstumos”, “mausoléus”, “santuários” ou “isto é peça de museu (= lugar de coisa velha); 3) a visão “pós”- moderna: de o museu como bolsa de valores, como um grande negócio, como “lugar de espetáculo”. A museologia pode despi –lo destes e de outros rótulos que lhes são atribuídos e fazê -lo envergar outro paramento, no qual o velho e o novo se coadunem, aproveitando o que ambos têm de melhor a oferecer ao novo- velho Sr. Museu.

QUEBRA-CABEÇA

QUEBRA-CABEÇA (SÔNIA MOURA)

O amor é assim como um quebra-cabeça.            QUEBRA-CABEÇA

Às vezes, se consegue organizar todos as peças com certa rapidez- então está tudo certo. Outras vezes, demora-se um pouco mais, mas, ainda assim, tudo dá certo.No entanto, há vezes, que se tenta, tenta, mas não se consegue fazer com que tudo se organize direitinho, para que a figura, tão desejada, seja formada, ainda assim, ccom esforço, tudo poderá dar certo.

Mas, o pior mesmo é quando um jogador descuidado deixa uma peça jogada a um canto, por descaso ou por certezas exageradas de que esta ou aquela peça não lhe fará falta.

Pode ser também que, no caso do amor, por obra de Cupido ou de qualquer outro deus ou mesmo do destino, uma peça se perca. Neste caso, qualquer peça perdida, danificada ou negligenciada deixará a obra incompleta, pois o amor é um jogo por meio do qual se precisa combinar diferentes peças para com elas formar um todo.

É, o amor é mesmo como um quebra-cabeça.

Às vezes preocupa, às vezes inquieta, às vezes incomoda e, às vezes, é um problema complicado.

Por outro lado, às vezes, nos enche de uma felicidade transbordante que nos alucina e nos faz ver que vale a pena viver cada cada  milésimo de segundo que a vida nos oferecer.

Mas…

Quando a tal peça fica faltando para o encaixe perfeito que irá formar o desenho final do quebra-cabeça (ou para desenhar o amor [quase] perfeito), a obra inacabada nos levará sempre a um mistério.

Por isto, se um dia você tiver o amor batendo à sua porta, tome cuidado com cada peça que o destino lhe entregar, para que este não venha a lhe pregar uma peça e, por um bobo descuido ou por pura desatenção, o que deveria ser lúdico, venha a se transformar em tristeza e em incompletude permanente.

QUEBRA-CABEÇA

O ESPELHO E AS MUSAS

I – O ESPELHO e as MUSAS (Autoria: SÔNIA MOURA)

Estas são algumas das perguntas que circulam atualmente nos meios acadêmicos, institucionais, empresariais, quando se pensa na instituição secular que historicamente, até pouco tempo, tinha seu papel bem delineado e delimitado nos campos sociais e artísticos: recolher, classificar, conservar e expor objetos e documentos de valor artístico, histórico ou científico, estudando-os e os difundindo pelos meios a seu alcance.

Atualmente, estamos em busca das identidades perdidas, por exemplo, não conseguimos ver com nitidez a face do Sr. Museu. Ainda não lhe rasgaram a velha identidade por completo, mas nela, o retrato do secular Senhor está embaçado, distorcido, amarelado; não se consegue distinguir-lhe os traços, outrora tão nítidos, tão bem definidos, tão bem postos nos meios sócio – culturais. É pelos versos de Cecília Meireles que o Sr. Museu desabafa: “Eu não dei por esta mudança,/ tão simples, tão certa, tão fácil:/ – Em que espelho ficou perdida / a minha face?

É preciso sair em busca do tempo perdido, da identidade perdida, do prazer perdido, da relação perdida e de um papel social que está rasgado, mas que ainda não foi jogado no lixo, por enquanto e oxalá não o seja. Meneando a cabeça, o Sr. Museu sorri e aprova esta asserção.

Comecemos pela origem do termo museu: do grego mouseîon, s.,(pelo latim: musoeu- ou museu-) “ templo da Musas, local onde residem as Musas ou as ninfas; lugar onde alguém se exercitava na poesia, nas artes; escola; cântico poético”. Já designou também parte do palácio de Alexandria, lugar onde Ptolomeu reunia os mais célebres sábios e filósofos para que estes pudessem se entregar de “corpo e alma” à cultura das ciências e das letras.

Quem tem um “passado” desses, certamente terá um futuro, mesmo que no presente, por vezes, as Musas, os sábios e os filósofos dêem lugar aos “bons negócios”, a butiques, à diversão, ao turismo e à espetacularização. Musas são Deusas e, reza a lenda, que os Deuses (e as Deusas) nunca morrem e o museu é um local que pertence a elas.

No mundo globalizado e confuso, o sujeito pós-moderno procura o seu lugar, deslocam-se identidades culturais. Neste emaranhado de novidades, algumas vozes em fúria concedida (ou não) se levantam e, assim como na narrativa épica de Luís de Camões(Os Lusíadas/canto VII/ estrofe 87:) “... e as Musas, que me acompanharam,/ Me dobrarão à fúria concedida,/Enquanto eu tomo alento, descansado,/ Por tornar ao trabalho, mais folgado”, o Sr. Museu, no centro das discussões, à espera de decisões, vê, em lugar de seu rosto refletido no espelho, as Musas que lhe deram o nome, a refletir- lhe a fama.

(Trabalhado apresentado em 2005 – UFF )

o ESPELHO E AS MUSAS

TEMPLO

 TEMPLO

TEMPLO (Autoria: Sônia Moura)

Meu corpo é um templo
E só tu nele podes penetrar
Só tu a ele podes adorar

Meu corpo é o teu templo
Sagrado, amado, adorado
E só tu podes me dominar,
Consagrar e depois me devorar

Meu corpo é o templo
E em qualquer tempo
Só tu nele podes adentrar
Sem se anunciar
Sem tempo nem hora para chegar
Sem hora ou tempo para partir
Basta que saibas me fazer sorrir

Meu corpo é teu templo
Podes sobre ele se deitar
E rezar, gozar, se lambuzar, sonhar…
Podes dentro dele te esbaldar
Podes fugir do mundo
Podes se aninhar

Meu corpo é teu templo
Só teu, de mais ninguém
Dentro dele tu podes ir além
Muito, mas muito mais além,
Podes orar, blasfemar, se confessar

E, depois de tudo, eu te direi amém!

(Do livro: Poemas em Trânsito de Sônia Moura)

GULA

 Gula

GULA (Autoria: Sônia Moura)

Saboreie meu corpo
Quero a sua luz
Quero o rumo
A que me conduz
O sabor do seu falo

Leve é o seu corpo sobre o meu
Pesado é o fardo de não ter você
Assim como é amarga a separação
Tão doce é a hora de lhe encontrar
E poder amar, amar

Suaves são seus lábios
Sobre minhas bocas
Quando em compassos
Que me descompassam
O quente de sua boca
Me faz delirar
Enquanto mil sonhos
Por mim passam

Tome o meu corpo
E me faça sua
Alcance o meu desejo
Quero seus beijos
Procuro teus abraços
Ouço seu canto,
São loucos gemidos
Sinto o deslizar de suas mãos
Beijo seus dedos
Sinto o seu pulsar

Estamos agora
Entre Eros e Tanatos
Abro-lhe meu corpo
Dou-lhe minhas fendas
Em múltiplas oferendas

Comemos do manjar dos deuses
Bebemos do vinho dos amantes

Nossos corpos
Estremecem em espasmos
E seguimos seguros
Seguros na cauda de um cometa
A cavalgar até o infinito
É hora do orgasmo,
É a hora infinda do prazer
Vem, meu bardo
Vem meu louco amor
Vem, meu companheiro
Vem meu versejador
Vem, meu anjo lindo,
Para dentro de mim
Um poema de amor compor

(Do livro POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)

PRECE

prece

PRECE (Autoria: Sônia Moura)

Eis-me aqui a teus pés ajoelhada
Suplicando tua intervenção
Não quero amar, não, não quero não.
Afastai-me, Senhor, desta tentação

Creia-me, Senhor, fui embebedada por Cupido
E assim despi minha armadura de defesa
E, agora, Senhor, encontro-me indefesa
A implorar a ti que venha me valer
Por favor, eu lhe rogo a tua graça
Senhor, não me deixe sofrer

Mandai, Senhor, um de seus escudeiros
Para que ele revire os canteiros
De minhas verdades assim tão resolutas
E me defenda do mal de uma paixão
Não é de um mal qualquer, não

Defenda-me, Senhor, do mal de amar
Preciso encontrar outro caminho
Antes que eu me coloque de novo
Em outro ninho
E nele me deite a sonhar
Antes que ao invés de colher a flor
Nascida num fim de verão
Segura pelas garras da paixão
Só colha da flor a dor e o espinho

Protegei-me, Senhor,
É só o que eu te peço

Senhor, eu não mereço sofrer
Mais uma vez do mal de amar
Quero apenas ter o direito de sonhar
Com um amor racional, normal,
Sem exageros, sem erros

(Como se fosse possível amar sem errar)

Atai meu coração à rocha mais pesada
E lançai-o ao amar
Livrai-me, Senhor, do mal de amar
Tape meus ouvidos aos apelos do amor
Fecha meus lábios,
Eu te suplico
Impeça-me a loucura
Livrai-me, Senhor, desta criatura
Poupai-me, Senhor, de mais uma desventura

Mas…

Se o Senhor achar que devo amar
Deixe-o comigo, só mais um pouquinho,
Quero ao menos uma vez mais
Sentir este gostinho diferente
Que mistura mel e fel na boca da gente
Quero sentir este momento
Que mistura no mesmo rosto
O riso e o pranto
E “um contentamento descontente”
A viajar entre o céu e o inferno
Para depois, no entanto,
Nos deixar prostrados a teus pés
A te pedir o impossível
A blasfemar contra o que é santo
Deixando de lado a fé e a coragem
E a te pedir tanta bobagem…

Perdoa-me, Senhor, pela blasfêmia
Ao te pedir que afaste de mim
A dor e a delícia de amar
Perdão, Senhor, perdão
Rogo por sua graça divina,
Perdoa este menina
Que não quer partir
Por isso vive a te pedir por um amor
Para depois, perdida, aturdida
Com ele não saber o que fazer
Não me tire este amor
Não me tire o direito de sonhar

Por isso, Senhor, eu confesso,
Minha culpa,minha culpa, minha máxima culpa

Então, Senhor, humildemente
Mais uma vez te peço
Por favor, me deixe amar…
Permita- me sonhar
Mas, Senhor, por favor, antes de tudo
Ensina-me a amar…

Amém!

(Do livro Poemas em Trânsito de SÔNIA MOURA)

QUESTÕES DE UMA HISTÓRIA EXEMPLAR

QUESTÕES DE UMA HISTÓRIA EXEMPLAR
(Autoria: SÔNIA MOURA)

Toda cultura, vista aqui como interação do meio e representação simbólica deste, transparece por seus aspectos materiais e imateriais. A revelação de elementos e das manifestações de um determinado grupo, apresentada por formas dessemelhantes de ver e viver o mundo, pode parecer obscura para indivíduos de outros grupos os quais percebem o mundo por um prisma diferenciado.
Quando acontece a aproximação de elementos detentores de outros saberes, os diversos aspectos de uma cultura tentam-se revelar, pois as práticas culturais entronizadas por um determinado grupo, não perdem a possibilidade de alheamento, vindo ao encontro de novas leituras pela necessidade de sua manifestação.
O olhar o outro e a aceitação do olhar do outro, abertos os olhos, a mente e a alma, poderão tirar o homem da condenação de uma imensa solidão, se este conseguir não cercear a interação e não se impuser a própria renúncia da inserção da sua existência na história.
O encontro de culturas diferentes transforma o indivíduo que consegue ver além de seus limites em testemunha mais que perfeita da história do homem, dando-lhe uma visão abrangente de realidades as quais se aproximam pelas diferenças, uma vez que o elemento sustentador destas realidades é o igual pontilhado de diferenças.
Lembrei-me hoje do filme: ONDE SONHAM AS FORMIGAS VERDES, direção de Werner Herzog*, ao qual há algum tempo assisti. Este filme nos mostra como o olhar não preparado, privado, portanto, de uma visão acolhedora, não apreende as novas informações, porque não consegue sair do plano das negações, ao olhar o mundo como senhor absoluto , em vez de aprender a vivenciar a liberdade.
A questão do sagrado e do simbólico, absorvida por aquele povo, transforma-se em força pela luta da manutenção de suas invioláveis crenças e pela continuidade de sua própria história , à qual o homem está atado consciente ou inconscientemente.
O europeu, representado no filme como o que não consegue ver o outro (não todos), movido por interesses e ganância desenvolvidos em sua cultura, pensa esvaziar o valor cultural dos aborígenes, ao vencer-lhes no embate judicial ou ao construir um estabelecimento em lugar sagrado. A prova da resistência cultural é apresentada pela continuação da ida dos nativos ao lugar do sonho, (de sonhar o filho) reconstruindo o valor simbólico, mesmo no campo minado pelo dominador e sem recuar ou ceder às desconsiderações do outro.
A relação dos olhares: o olhar do lucro e o olhar da cultura cruzam-se em ambigüidades transformam-se, na verdade, em salvaguardas de uma cultura, ao colocar em alerta memórias dos tempos que hão de se repetir na (re)construção de uma nova história, pela articulação dos contrários.
Na representação cultural, as marcas históricas de um povo estarão sempre presentes.No filme duas histórias são enfocadas e levadas aos tribunais, mas só o tempo (o tempo da dominação) de uma delas, a do dominador, do ïnvasor”, irá ser levado em conta, já o tempo referente ao passado dos habitantes milenares daquela terra é esquecido. Prevalece a força, mas não morre a cultura, esta certamente irá-se intercambiar e se aliar a história de um outro povo miscigenado que irá se formar.
Para os nativos, a contagem do tempo corre à margem da que conhecemos, a desmontagem temporal evidencia uma postura diferenciada frente às coisas do mundo.
No centro de tudo está o homem e suas crenças, gerando uma força que se abre ao ciclo de uma possível metamorfose cultural e comportamental, apresentada pelo conjunto de imagens dinâmicas, não na forma e sim no conteúdo das ações exibidas.
Imagens de natureza mais espacial que temporal expõem o homem neste campo de embates,onde, superficialmente, existe só um vencedor.
A metamorfose e a simbiose de culturas marcam as diferenças na existência do outro, quando as diversidades das expressões culturais se aproximam ou se afastam e são permeabilizadas umas pelas outras, adquirindo um novo corpo vivo, levando o homem ao seu próprio encontro.

 

* Werner Herzog sabe como nenhum outro diretor explorar os limites das condições humanas. Nesta produção ele usa como palco uma extensão de terra desolada no coração da Austrália. Duas tribos de aborígenas, os Wororas e os Riratjingus, preservam suas lendas e cantos ancestrais. Eles entram em conflito com as leis da Austrália moderna e com os interesses de uma companhia que quer explorar urânio num de seus redutos sagrados: as terras onde sonham as formigas verdes. 

 

Sônia Moura – UFF – 2007

Questões de uma história exemplar

POBRE MENINO RICO

                   Michael Jackson

POBRE MENINO RICO (Autoria: SÔNIA MOURA)

A vida de Michael Jackson é recheada de sofrimento e glória. Ele sempre foi um menino desamparado e muito só.
Como fã de sua imensa e incomparável qualidade artística, confesso que fiquei triste com a sua morte, pois, creio que, no fundo tinha esperanças de que o deixassem ser feliz, mas isto, desastrosamente não aconteceu.
Foi maltratado na infância que nunca pode viver, não viveu sua adolescência e na idade adulta, também não teve paz.
Parecia querer anular sua imagem, transformar-se e mudou tanto que acho que nem ele mesmo se reconhecia, na verdade.
A história das transformações de Michael aproxima-se, de certa forma, da história da bruxa perdida, a qual tanto buscava no espelho a imagem desejada, a imagem que iria deixar-lhe em vantagem em relação a todas as mulheres, especialmente de sua enteada Branca de Neve.
Acredito eu que, a diferença entre eles, é que Michael buscava sua imagem tão diluída ao longo dos tempos e de tantos e dos fortes tristes eventos que pontilharam sua vida, não buscava beleza, buscava a si mesmo, precisava muito era ser ele mesmo, coisa que nunca conseguiu.

Se existe um céu, espero que ele esteja lá, ao lado de um pai todo poderoso, mas que o ame de verdade, que o acarinhe, que ele possa ser o menino que nunca foi, mas que sempre desejou ser.

Michael é divino e incomparável, e, principalmente era surpreendente e foi deste modo que morreu o menino que nunca viveu, de fato.

Pobre menino rico

REFORMA ORTOGRÁFICA IV (ou Acordo Ortográfico) – CREDELEVE e agora?

REFORMA ORTOGRÁFICA IV (ou Acordo Ortográfico)
CREDELEVE – e agora?

(Autoria: Sônia Moura)

Quando menina, aprendi que devíamos colocar o “chapeuzinho” ou o acento circunflexo nas vogais tônicas fechadas “e” – “o”, assim como a acentuação tônica da vogal “a” seguida de m e n, por exemplo: tônico, ipê, lâmpada, pânico.

Mais tarde, também aprendi que, quando a vogal estivesse dobrada e o som fosse fechado(“vôo, lêem), lá deveria estar o famoso acento circunflexo.

Já naquela época, eu me perguntava: -Se o som é fechado, porque o chapeuzinho está sempre aberto? Coisa de criança curiosa, dirão.

Tempos depois…

Usando um processo mnemônico, ensinava a meus alunos uma forma de “guardar” quais os verbos (e derivados), em que uma das vogais deveria ser acentuada. Esta era a forma: CREDELEVE [crer-dar-ler-ver].
A partir do novo acordo, vivo a me perguntar: O quer fazer com o gostoso CREDELEVE? E agora?
Agora o meu gostoso CREDELEVE não tem mais nenhuma serventia, só me reta jogá-lo no lixo. Que pena, eu gostava tanto dele…

O tempo passou e …

Embora a maioria das regras referentes ao emprego do acento circunflexo continuem firmes e fortes, eis o novo “não-uso” do acento circunflexo:

“Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos “crer”, “dar”,“ler”, “ver” e seus derivados. A nova grafia para algumas das flexões destes verbos é creem, dêem, lêem vêem.Assim como foi abolido o acento circunflexo em palavras terminadas em hiato “oo”, como “enjôo” ou “vôo” -que se tornam “enjoo” e “voo” “.

REforma ortográfica IV

PRESENTE NA SAUDADE

PRESENTE NA SAUDADE (Autoria: Sônia Moura)

pRESENTE NA SAUDADE

A um canto da sala, encolhida, Mariana curva-se ao peso daquela verdade. Sente-se desamparada, parecia que havia um punhal espetando o seu peito, ferindo-lhe não só o corpo, mas sua alma,.a vida e a sua mais linda história.
Desolada, deixa os braços penderem-se ao longo do corpo como se fossem dois galhos de uma árvore sem raiz, e, mesmo pisando sobre aquele tapete macio, sentia seus pés tocarem em imensos pedregulhos. Tudo feria seu corpo e sua alma.
Seus olhos claros estão turvos e olham para o nada. Sem forças, ajoelha-se, pega o lenço, tentando conter as lágrimas que jorram sem parar, seu corpo entorpecido parece ter o peso triplicado.
Entontecida pela dor, com as pálpebras a pesaram-lhe a ponto de a cabeça pender pesadamente para frente, Mariana senta-se à beira da lareira e adormece.
Em seu sonho, envereda-se pelo mata e lá encontra um cão vagando, este será seu novo amigo, em seguida ela encontra um lindo chapéu de cor azulada, com um lindo laço de fita. Sem hesitar, Mariana coloca aquele chapéu com uma aba tão larga que lhe cobre toda a visão, Marina já não consegue ver tudo que está a sua volta.
De repente, alguém lhe oferece uma tigela fumegante de um mingau que sua mãe sempre lhe servia todas as manhãs. Mariana dobra a larga aba do chapéu, inclina-se e começa a saborear aquele manjar dos deuses, neste momento, tudo se transforma o tempo regride, a saudade diminui e ela se vê menina olhando nos olhos daquele menino de cabelos negros e sentindo que o amor por ele acabava de tomar posse d seu coração.
Flores que mais parecem sinos dobram-se e vêm acariciar-lhe a fronte, como se fossem as mãos do homem amado, enquanto borboletas lhe trazem mel em conchas douradas.
Ela não recua, deixa-se beijar por aquele momento único, deita-se no meio dos arbustos, abre a boca e deixa que o mel escorra por sua garganta, para adoçar-lhe a alma tão sofrida.
Como Celso pudera fazê-la sofrer tanto assim, depois de tantos anos, como? Ele não deveria ter partido daquele jeito, de repente, sem um abraço ou um beijo. Sentia-se tão só, depois de 35 anos ele a deixou naquela noite fria sem dizer adeus. Lágrimas.Um frio intenso entra pela janela escancarada por uma rajada de vento, dói-lhe o corpo.
Mariana vai despertando sob a emoção do sonho e a emoção da realidade. Olha o relógio, são 02 horas e 33 minutos de uma madrugada fria, esta era a primeira noite que ela dormiria sozinha por conta daquele maldito enfarte que levou o seu amado para sempre.
Deixou-se ficar no tapete em frente à lareira e nas chamas já cansadas viu o rosto de Celso a sorrir-lhe. Sorriu para aquela imagem e seu coração, por uns segundos se acalmou.
Um novo dia estava nascendo.
(Do livro: Minimamente Crônicas de Sônia Moura)