PRESENTE NA SAUDADE

PRESENTE NA SAUDADE (Autoria: Sônia Moura)

pRESENTE NA SAUDADE

A um canto da sala, encolhida, Mariana curva-se ao peso daquela verdade. Sente-se desamparada, parecia que havia um punhal espetando o seu peito, ferindo-lhe não só o corpo, mas sua alma,.a vida e a sua mais linda história.
Desolada, deixa os braços penderem-se ao longo do corpo como se fossem dois galhos de uma árvore sem raiz, e, mesmo pisando sobre aquele tapete macio, sentia seus pés tocarem em imensos pedregulhos. Tudo feria seu corpo e sua alma.
Seus olhos claros estão turvos e olham para o nada. Sem forças, ajoelha-se, pega o lenço, tentando conter as lágrimas que jorram sem parar, seu corpo entorpecido parece ter o peso triplicado.
Entontecida pela dor, com as pálpebras a pesaram-lhe a ponto de a cabeça pender pesadamente para frente, Mariana senta-se à beira da lareira e adormece.
Em seu sonho, envereda-se pelo mata e lá encontra um cão vagando, este será seu novo amigo, em seguida ela encontra um lindo chapéu de cor azulada, com um lindo laço de fita. Sem hesitar, Mariana coloca aquele chapéu com uma aba tão larga que lhe cobre toda a visão, Marina já não consegue ver tudo que está a sua volta.
De repente, alguém lhe oferece uma tigela fumegante de um mingau que sua mãe sempre lhe servia todas as manhãs. Mariana dobra a larga aba do chapéu, inclina-se e começa a saborear aquele manjar dos deuses, neste momento, tudo se transforma o tempo regride, a saudade diminui e ela se vê menina olhando nos olhos daquele menino de cabelos negros e sentindo que o amor por ele acabava de tomar posse d seu coração.
Flores que mais parecem sinos dobram-se e vêm acariciar-lhe a fronte, como se fossem as mãos do homem amado, enquanto borboletas lhe trazem mel em conchas douradas.
Ela não recua, deixa-se beijar por aquele momento único, deita-se no meio dos arbustos, abre a boca e deixa que o mel escorra por sua garganta, para adoçar-lhe a alma tão sofrida.
Como Celso pudera fazê-la sofrer tanto assim, depois de tantos anos, como? Ele não deveria ter partido daquele jeito, de repente, sem um abraço ou um beijo. Sentia-se tão só, depois de 35 anos ele a deixou naquela noite fria sem dizer adeus. Lágrimas.Um frio intenso entra pela janela escancarada por uma rajada de vento, dói-lhe o corpo.
Mariana vai despertando sob a emoção do sonho e a emoção da realidade. Olha o relógio, são 02 horas e 33 minutos de uma madrugada fria, esta era a primeira noite que ela dormiria sozinha por conta daquele maldito enfarte que levou o seu amado para sempre.
Deixou-se ficar no tapete em frente à lareira e nas chamas já cansadas viu o rosto de Celso a sorrir-lhe. Sorriu para aquela imagem e seu coração, por uns segundos se acalmou.
Um novo dia estava nascendo.
(Do livro: Minimamente Crônicas de Sônia Moura)

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