O ESPELHO E AS MUSAS

I – O ESPELHO e as MUSAS (Autoria: SÔNIA MOURA)

Estas são algumas das perguntas que circulam atualmente nos meios acadêmicos, institucionais, empresariais, quando se pensa na instituição secular que historicamente, até pouco tempo, tinha seu papel bem delineado e delimitado nos campos sociais e artísticos: recolher, classificar, conservar e expor objetos e documentos de valor artístico, histórico ou científico, estudando-os e os difundindo pelos meios a seu alcance.

Atualmente, estamos em busca das identidades perdidas, por exemplo, não conseguimos ver com nitidez a face do Sr. Museu. Ainda não lhe rasgaram a velha identidade por completo, mas nela, o retrato do secular Senhor está embaçado, distorcido, amarelado; não se consegue distinguir-lhe os traços, outrora tão nítidos, tão bem definidos, tão bem postos nos meios sócio – culturais. É pelos versos de Cecília Meireles que o Sr. Museu desabafa: “Eu não dei por esta mudança,/ tão simples, tão certa, tão fácil:/ – Em que espelho ficou perdida / a minha face?

É preciso sair em busca do tempo perdido, da identidade perdida, do prazer perdido, da relação perdida e de um papel social que está rasgado, mas que ainda não foi jogado no lixo, por enquanto e oxalá não o seja. Meneando a cabeça, o Sr. Museu sorri e aprova esta asserção.

Comecemos pela origem do termo museu: do grego mouseîon, s.,(pelo latim: musoeu- ou museu-) “ templo da Musas, local onde residem as Musas ou as ninfas; lugar onde alguém se exercitava na poesia, nas artes; escola; cântico poético”. Já designou também parte do palácio de Alexandria, lugar onde Ptolomeu reunia os mais célebres sábios e filósofos para que estes pudessem se entregar de “corpo e alma” à cultura das ciências e das letras.

Quem tem um “passado” desses, certamente terá um futuro, mesmo que no presente, por vezes, as Musas, os sábios e os filósofos dêem lugar aos “bons negócios”, a butiques, à diversão, ao turismo e à espetacularização. Musas são Deusas e, reza a lenda, que os Deuses (e as Deusas) nunca morrem e o museu é um local que pertence a elas.

No mundo globalizado e confuso, o sujeito pós-moderno procura o seu lugar, deslocam-se identidades culturais. Neste emaranhado de novidades, algumas vozes em fúria concedida (ou não) se levantam e, assim como na narrativa épica de Luís de Camões(Os Lusíadas/canto VII/ estrofe 87:) “... e as Musas, que me acompanharam,/ Me dobrarão à fúria concedida,/Enquanto eu tomo alento, descansado,/ Por tornar ao trabalho, mais folgado”, o Sr. Museu, no centro das discussões, à espera de decisões, vê, em lugar de seu rosto refletido no espelho, as Musas que lhe deram o nome, a refletir- lhe a fama.

(Trabalhado apresentado em 2005 – UFF )

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