AH! SE EU PUDESSE…

AH! SE EU PUDESSE… (Autoria: Sônia Moura)

O problema é que eu não posso fazer
Tudo o que quero com você

Virar você pelo avesso,
Fazer de você gato e sapato
Ora príncipe, ora sapo
Fazer você correr feito um tigre
Ou voar como um passarinho
Ou fazer você dançar
Até não mais aguentar
Que nem uma barata tonta
Vasculhando todo o meu ser
Marcando-o de ponta a ponta

Ah! seu eu pudesse
Virar você pelo avesso
Ontem, hoje e amanhã
Mostrando que te mereço
E o quanto eu estremeço
Nos teus braços e com teus beijos
E que ao embalo de seus afagos
Eu simplesmente me perco

E, depois de virá-lo pelo avesso,
Deixá-lo do lado direito
Da nossa cama quentinha
Num quarto cheirando a sexo
Onde estaremos juntinhos
Você com a cabeça em meu ombro
Ronronando feito um gatinho

Ah! se eu pudesse
Fazer de você gato e sapato
Ora príncipe, ora sapo
E fazer de você o meu gato
Pra eu te encher de carinho
Te dando todo leitinho
Que você quiser sorver

E em seguida, na hora do nosso amor
Em príncipe te sagrar
Para depois te abraçar
E sugar dos teus beijos o teu sabor

Mas, na hora em que você vai embora
Deixando meu coração tão triste
Eu juro que você é um sapo
Pois eu fico tão sozinha
Desejando a sua volta
Fazendo pirraça e beicinho
Brigando com o tempo e o relógio
Que insistem em nos separar
Fazendo com que eu duvide
Da transitividade do verbo amar

Ah! se eu pudesse
Transformar você em tigre
Ou mesmo em um passsarinho
Um tigre quando me ama
E faz festa em nossa cama
Me enlouquecendo de vez
Ou ver você como um lindo passarinho
Que me traz no seu biquinho
O doce de nosso mel
Transformando tudo em graça
E me levando ao céu

Ah! se eu pudesse
Te deixar feito barata tonta
Para comigo dançar
Até não mais aguentar
Na horizontal ou então na vertical
E eu, como a sua fêmea fatal,
Exalando por todos os poros
Amor, gozo e alegria
Em todos os momentos mágicos
Da nossa sagrada orgia!

(Do livro: Poemas em Trânsito de Sônia Moura)

Ah! se eu pudesse

(DES)AMOR

(DES) AMOR            dESAMOR

Ouço alguém dar uma bela definição sobre o que é o amor de mão única: “Amar sem ser amado é o verbo no tempo perdido”.

Convenhamos, nem mesmo o melhor dos gramáticos ou o melhor dos lexicógrafos daria uma definição tão contemplativa para esta composição verbal.

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LENITIVO

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LENITIVO (Autoria: Sônia Moura)

Amei-te ontem e te amo agora
Beijo teus lábios- só em minha mente
Vivo nossos belos sonhos de outrora
E assim revivo nosso amor de sempre

A música tocada pela harpa
Traz a saudade que mora comigo
Os pássaros, quando entoam cantares,
Despertando assim teu amor-amigo

Pudesse eu ter-te aqui entre meus braços
Feliz aos deuses agradeceria,
A todos os anjos me curvaria

Eu me agarraria a essa alegria
E deste amor jamais escaparias
E pra sempre comigo ficarias

(Do livro : Poemas em Trânsito de Sônia Moura)

ESPERANÇA

ESPERANÇA (Autoria: Sônia Moura)

Aconteceu um acidente horrível
Um avião perdeu-se em meio a tempestade
E caiu no mar
Misturaram-se ali o céu e o ar

Penso na dor e no horror
Dos que estavam na aeronave
Que momentos foram estes?
Quanto pavor!


Ouço alguém falar
Que a procura dos corpos e destroços
Será longa, muito longa
Pois muito grande é o mar

Ouço alguém falar
Que o homem só consegue mergulhar
A 300 metros
É tão profundo o mar…

Me ponho a pensar
Como somos pequeninos
Perdidos aqui na terra
Ou perdidos em alto mar

Esperança misturada ao choro
Alegria da mulher que desistiu de embarcar
Tristeza do amigo, do pai, da mãe e do irmão
Afogaram-se em águas salgadas tantos corações

Mas, ainda resta esperança
No olhar, no amar e no sonhar
Ainda que a dor se espalhe
O amor nos fortalecerá

Pelo vigor da esperança
Pela força do amor
O que nos resta é rezar
Pedindo a Deus o conforto

Tão difícil é aceitar
A perda de quem se ama
A ausência de quem se quer
Ah! Só Deus para nos consolar!

ESPERANÇA

Nossa Atenção

Tragédia

NOSSA ATENÇÃO (Sônia Moura)

A dor se espalha e estamos todos envolvidos pela dor da incerteza que agora toma conta dos parentes e amigos dos passageiros e tripulantes do voo Rio-Paris, que está desaparecido.

Como cada parente e cada amigo deseja que seu ente querido esteja vivo, boiando agarrado a uma poltrona ou qualquer parte de destroço, aguardando que alguém o resgate, no fundo, também sonhamos com a possibilidade de estarem todos vivos. Seria tão bom se nossas esperanças fossem transformadas em realidade.

É muito justo e compreensível que o desaparecimento de uma aeronave com 228 pessoas nos comova, logo, é natural que a imprensa dê a este fato todo o espaço que uma notícia como esta merece.

No entanto, neste exato momento, temos, no nordeste brasileiro, muitas vidas que estão sendo violentamente arrancadas de seus donos, ainda que nem todos estejam mortos e cabe à imprensa não se esquecer de que estes brasileiros também precisam de nossa solidariedade e respeito.

Tomara que a imprensa não se esqueça destas pessoas, pois, tragédias são tragédias, tanto faz se um avião desaparece ou se casas ou casebres se desmoronam pela força indomável das águas.

Quem conhece interiores do grande nordeste brasileiro, sabe perfeitamente o estado de carência das diversas cidades que formam estes interiores.

Portanto, tanto as vítimas deste terrível desaparecimento em alto mar, ou seja, na água ou o “desaparecimento” de casas, pessoas, animais e até mesmo cidades no interior do nordeste, provocado por enchentes que estão destruindo vidas, todos merecem nossa atenção. Todos!

DOCES E SALGADOS

                                     DOCES E SALGADOS

DOCES e SALGADOS (Autoria: SÔNIA MOURA)

Nossa vida se mistura ao sentido das palavras, pois ela é uma sequência de relações nem sempre lineares, mas com um encadeamento associativo de idéias, por onde caminhamos, entre os verdes de nossas vozes ou pelo azul das vozes do mar. E é através do mistério das palavras que a vida nos serve doces ou salgados momentos.

Nossas janelas dos olhos ou nossas portas da alma se abrem sobre as coisas do mundo, para que possamos nos embriagar com os saquês, com os vinhos ou com os néctares que escorrem das palavras e se perdem nos grãos de areia de nosso viver, deixando nossos corpos e nossas almas nus e permitindo que as luzes das verdades ou das fantasias iluminem as colinas sinuosas de nossos pensamentos.

Ao saborear o doce ou o salgado do mundo, vacilamos entre a vida e a morte, quando o amargo e/ou o azedo de nossas trajetórias nos atormentam, então, na tormenta das ruelas das decepções, das angústias e da saudade, precisamos fazer destes sabores bolhas de sabão, que logo, logo irão explodir, perdendo-se no ar.

Doces e salgados podem ser nossas vivências e nossas querências em relação ao ser amado. A demora da chegada ou a certeza da partida de um ente amado, muitas vezes nos fazem esquecer o doce sabor de outros recomeços, ensurdecendo-nos, para que não ouçamos os ecos de novas aventuras que virão e que não nos deixarão recuar, a fim de que permitamos que outros sabores possam vir, no porvir.

Gerado pelas palavras, o gosto dos sabores  molda nossos gestos e nos ajuda a dar passos sobre as planícies, sobre o chão de barro, sobre pedras ou sobre ervas daninhas dos nossos corações, e assim, nos soltamos, mulheres e homens, para prosseguirmos em viagens, que começam em todo o tipo de ventre e que depois são jogados aos ventos do destino, para que, como pássaros, possamos dar nossos espetáculos em vôos espetaculares, transitando entre os doces e os salgados que a festa da vida vier nos oferecer.

O ANEL

O ANEL (AUTORIA: SÔNIA MOURA)

   ANEL DE DIAMANTE

Lygia Langer Lester, este era o seu nome. Moça elegante, de família abastada, estava agora de caso com um simples porteiro. Como pode? Como? Como? A família entrou em polvorosa. Desmaios, chiliques. Desespero! Enquanto todos se atormentavam, Lygia sorria.
A família reuniu-se para decidir o que fazer com a jovem. Viaja amanhã. É, de amanhã não pode passar! A moça, agora era prisioneira em seu quarto e só tinha como companhia o presente que recebera de Antônio Lúcio: um anel, cravejado de diamantes e com uma conta escarlate. Pelo menos foi assim que a jovem o descreveu para os pais. Todos riram muito, só podia ser piada. Claro que o anel era fantasia.
Lygia não viajou, casou-se com Antônio Lúcio que calou a boca de toda a família, o anel era verdadeiro. O porteiro ganhara sozinho um concurso de loteria.
A família estava eufórica, desta vez o anel não se foi e, ainda, salvaram-se todos dedos da família.

(Do livro: CONTOS E CONTAS de Sônia Moura)

DÁ ATÉ SHOW

DÁ ATÉ SHOW por Sônia Moura

Em tempos de globalização econômica e cultural, somos colocados frente a telas que nos dão visões culturais multiplicadas e, ao mesmo tempo, unificadas, histórica, econômica e ideologicamente. Igual, tudo igual. Será mesmo verdade? Ou haverá marcas de um passado em que o que marcava de fato eram as diferenças?
Ideologias, mercado, ética, educação, trabalho, sobrevivência, culturas, políticas, produtos e bens culturais, numa simbiose louca, tentam nos convencer (e às vezes convencem) de que a melhor cultura é a hegemônica. De que serve a heterogeneidade, se todas as tribos devem conviver e sobreviver no maravilhoso mundo da fantasia, gerenciado por poucos e assimilado por muitos? Este é o nosso admirável velho mundo novo.
“Tudo é igual, não me iludo é contudo…” (Caetano Veloso), portanto, não tenhamos ilusões tardias, uma vez que a lógica do capitalismo é ilógica: fragmenta, diversifica e unifica produtos; se apossa de bens culturais, produz comportamentos, fabrica “políticas culturais”, uniformiza culturas.
No entanto, a globalização não deve ser olhada somente pelo prisma defensivo, se assim o fizermos estaremos “globalizando” nosso julgamento, tornando- o hegemônico. Não nos deixemos levar pelo (des) controle, não somos máquina, e podemos criar nossa mídia, podemos criar mercados.
O sistema de significações, operado pela cultura, mesmo que se promova o palimpsesto cultural, dá ao homem uma visão ordenada do mundo, e esta rede sim faz a diferença, pois é esta marca simbólica, significativa, identitária que manterá em convergência tradição e modernidade, mesmo nos momentos exacerbados da globalização econômico- cultural, desta imensa aldeia global.
Eu gosto, tu gostas, ele gosta, nós gostamos… ? Respondemos quase que numa só voz: SIM, porque eles gostam. Quem? Os mercadores de tudo, inclusive da(s) cultura(s), não respeitam fronteiras, destroem barreiras, conjugam e nos fazem decorar o verbo consumir (consumir tudo, inclusive cultura – não importa o que entendamos por cultura). Não se oponha, não questione, apenas consuma o que eu mando, o que nós mandamos e não o que você(s) gosta(m).
Historicamente, os povos dominados, colonizados, explorados e ou “civilizados” são induzidos a olhar o dominador com o olhar de admiração e tudo o que dele vier será melhor, mais bonito, mais isto e mais aquilo. E, assim, muito vai sendo jogado por nossas goelas ávidas dos saberes, das artes, das culturas e das línguas alheias e nos empanturramos com o que é do outro, com um sorriso nos lábios.
Estrategistas de lá e de cá nos afogam em belas novidades, em luzes e em cores, em sabores e em odores. Empanturrem-se, assim não terão fome da sua própria comida. Boquiabertos, arrastando uma cultura bancorrota , nos ancoramos no olhar alheio, num mundo alheio, somos todos irmãos, somos filhos dos mesmos pais (ou do mesmo país sem fronteiras?). Somos todos iguais (desde que usemos o mesmo tênis). Aliás: “Tudo é igual quando canto e sou mudo…” (C. Veloso).
Afastando-se de xenofobias, exclusões, sectarismos, o produtor cultural terá papel primordial na desmontagem dos paradigmas globalizados. Se a globalização deseja o monólogo da arte e da cultura, cabe ao produtor abrir canais a novos diálogos, ficar atento ao espetacular, sem ser espetaculoso, saber tirar o chapéu na hora certa, se a idéia for boa, saber negociar, driblar inferências e interferências, dar voz à sua cultura, sem deixá-la se apoderar do microfone e sem jamais ser a voz do produtor a única voz no cenário.
Urge buscar parcerias, ouvir o outro, entrelaçar idéias, deixar a caverna sem destruí-la, mas, principalmente, colocar o foco na pessoa, ser sábio, saber manipular o aço temperado da globalização, acendendo o candeeiro e a luz neon, usar a pena da escrita e digitar idéias e ter muito cuidado com o que vai deletar, confirmando, assim, que a faculdade única da cultura não está só no nome.
Desta forma, novas abordagens de temas atávicos e novas práticas deverão ser adotadas com a finalidade de que comunidades se reconheçam, se valorizem e, assim, a cultura ( brasileira) se revitalize.
Eventos diferenciados (do rock ao samba) em locais diferenciados (do armazém ao museu) serão pontes por onde transitarão experiências distintas, formando uma só corrente. O produtor cultural, um dos elos desta corrente, deverá estar disposto a receber todo o mundo e todos os mundos, investindo na criação de projetos nos quais as idéias sejam estimuladoras, onde os espetáculos façam rir, façam chorar, mas que nos façam pensar, pois estes são, também, papéis da arte e da cultura.
Pensar a estética do espetáculo cultural é de suma importância, mas não nos esqueçamos da ética ( embora saibamos que neste mundo pós – moderno/globalizado a ética por vezes é triturada, incinerada e jogada no lixo, fica à mercê de toda a forma de interesse), contudo, a ética é o carro-chefe de qualquer espetáculo, e o produtor cultural não deve se afastar dela, senão, passará a ser apenas um insignificante reprodutor cultural.
Possibilitar a exploração, a recuperação e a atualização de imagens da história do povo, unindo presente e passado é uma das formas de driblarmos o lado mais perverso da globalização cultural, para tal, quem produz cultura precisa estar atento aos fenômenos diferenciadores da globalização econômico – cultural e do uso individual das informações dos novos tempos, explorando tesouros escondidos, vasculhando endereços camuflados, reconduzindo a cultura a seu verdadeiro posto, quando ela precedia o mercado, é preciso, eticamente (re) equilibrar o âmbito cultural e o âmbito comercial.
Cabe ao produtor cultural ser o implacável arqueólogo do seu tempo e dos tempos imemoriais, estabelecendo laços entre o ontem e o hoje. Ousar dizer, ousar fazer, sem embarcar no nacionalismo estreito, pois somos plurais sendo únicos, temos o nosso discreto charme latino – europeu – indígena -negro- oriental – ocidental, somos o Brasil.
A globalização de agora é exercida por organizações econômicas mundiais, por tecnologias da informação e comunicação, e é difícil lutar contra estes monstros, mas como se sabe, monstros podem ser vencidos, monstros são lendários, e os produtores culturais precisam ter condições de compreender, analisar, refletir, criticar o fenômeno da globalização cultural, para que seus projetos e fazeres culturais compartilhem, compactuem com os pontos positivos deste fenômeno, sem que seus espetáculos percam de vista a identidade cultural local ou nacional.
O controle remoto da globalização cultural passa pela mão dos que produzem a ideologia dominante, dos que desenvolvem pensamentos coletivos, dando a nós os nós. Para desfazer estes nós, não podemos nos afastar do novelo, é preciso entender as mazelas dos novos tempos e dos novos recursos e o produtor cultural, que é traço de união, deverá se apropriar dos recursos disponíveis de acordo com a realidade vigente, driblando imposições e intenções.
Unindo ética, competência, educação, cultura e cidadania, manteremos nossos bens culturais, criando projetos culturais e produtos culturais, que poderão provocar a ampliação de conceitos, aproximando modos culturais, modificando representações culturais, fazendo acontecer a união e a unificação de modos culturais, sem descaracterizar inteiramente identidades culturais.
Assim, nossa representação cultural, conduzida por mãos hábeis e ágeis de bons produtores culturais, apesar do arrastão globalizado, com toda certeza, dá até show.

gLOBALIZAÇÃO

NEM VEM QUE NÃO TEM!!!

WILSON SIMONAL

NEM VEM QUE NÃO TEM!!! (Autoria: Sônia Moura)

Assistindo ao bom documentário: “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei”, confesso que chorei, que me revoltei e me rebelei, por saber que Simonal não está mais aqui para, ao menos, ter a chance de ouvir os aplausos que ecoaram ao final da apresentação cinematográfica, pois, ficou claro que, antes de mais nada, as palmas eram para o grande Simonal, eram palmas solidárias, ecoavam assim, sentia-as assim.
Salve, Simonal!

E tenho a absoluta certeza de que você está alegrando o ambiente celeste, sim, você só pode estar no céu, pois seu inferno foi aqui na terra mesmo, e que inferno!

Simonal era O ARTISTA, assim mesmo, com todas as letras maiúsculas (isto ainda é muito pouco para dimensionar a grandeza deste artista) e foi, como bem disse Miéle em seu depoimento, o maior cantor brasileiro de todos os tempos. Alguém duvida?

No entanto, dos caldeirões de magia torta, saíram poções de inveja, vingança, despeito e, principalmente de preconceito contra sua negritude, tudo isto temperado com o suor de um inocente útil que, por ignorar que não era deus, falou bobagem, fez-se menino a gabar-se de vitórias tortas, de feitos fantasmagóricos, ao mostrar-se íntimo de quem não devia e a quem, a bem da verdade, ele sequer conhecia ou sabia quem eram os homens que serviam à ditadura.

Como bem disse Chico Anísio, Simonal sequer sabia o que significava a sigla SNI.

No entanto, a bem de  interesses escusos, toda esta mentira foi transformada  em verdade e por isto Simonal foi morto, ainda que seu corpo continuasse por aqui por longos trinta anos.

Nunca lhe deram a chance de se explicar, nunca. Nunca lhe deram qualquer voz e qualquer vez. Por quê? Por quê? Porque a sua própria classe se calou e se cala até hoje, com raras exceções. Porque a imprensa tornou o boato verdade e bateu duramente nesta tecla e neste homem.

Quem o odiava tanto a ponto de querer mantê-lo como um morto-vivo, pois, como se sabe, o artista que não pode praticar a sua arte é um espectro, somente isto, nada mais.

Tento imaginar o quanto deve ter sofrido este menino grande, quantas dores, quantas lágrimas, meu Deus e ninguém, ainda que fosse por compaixão, ninguém lhe deu uma chance, umazinha sequer, para que sua imagem tão maculada, pudesse voltar a ser limpa.

Tudo o que aconteceu com Simonal, foi o resultado de dois fatores preponderantes:

1 – A ignorância do homem Simonal em relação à vida, ao mundo, que é cruel mesmo com os inocentes e com os despreparados para lidar com ódios, invejas, poderes e poderosos de direita ou de esquerda, como é o caso em questão, e a ignorância moral e espiritual dos que o condenaram, mas, seria tão bom se fosse feita justiça (do céu ou da terra) e que devolvesse aos algozes de Simonal ao menos uma parte da dor que este sentiu, garanto-lhes que eles não suportariam.  Para mim está e sempre esteve bem claro: Simonal foi/é injustiçado.

2 – A intolerância do homem Simonal em relação à possível/provável falha de seu contador (que, a meu ver, procurou, mais uma vez, incriminar aquele que tanto padecera) e a intolerância dos que brigavam por tolerância e justiça e que agiram exatamente como os que eles condenavam, tornando-se os verdugos, que impiedosamente degolaram uma carreira artística, um homem, sua arte, sua família e, principalmente, sua vida.

Quem não conhece a história do lobo mau e dos três porquinhos – Prático, Heitor e Cícero? Com todo o respeito que os animais merecem, a história de Simonal mostra que um lobo-bobo, ingênuo caiu na armadilha de alguns porcões. Seus nomes? A história certamente um dia fará justiça a Simonal e os nomes destes ferozes e implacáveis “porquinhos”, que até hoje chafurdam na lama da maldade, serão revelados, é só esperar, pois, como diz o velhíssimo ditado: A justiça tarda, mas não falha!

Enfim, oxalá Simonal tivesse o poder de ressuscitar mais escolado em relação às coisas da vida, e, neste brilhante retorno, cantasse para aqueles que ousassem colocar-lhe à frente qualquer arapuca: “Nem vem que não tem…”.

GOSTO DE MAÇÃ

     

maçã

GOSTO DE MAÇÃ (Autoria: Sônia Moura)

Me acorde antes do sol
Me acorde sorrindo e com beijos
Numa manhã qualquer
Naquela hora em que
A lua se esconde do outro lado
Fazendo meiguices de mulher
Faça o tempo sem tempo
Deixe e não deixe o tempo passar
Me dê um abraço suave
Beije meus cabelos
Deixe eu te abraçar e te amar

Preciso te olhar com os olhos da manhã

E, sendo Eva, te oferecer
Na mesma bandeja de prata
Meu corpo com gosto de maçã

(Do livro Entre Beijos e Vinhos de SÔNIA MOURA)

mulher