PRECE

prece

PRECE (Autoria: Sônia Moura)

Eis-me aqui a teus pés ajoelhada
Suplicando tua intervenção
Não quero amar, não, não quero não.
Afastai-me, Senhor, desta tentação

Creia-me, Senhor, fui embebedada por Cupido
E assim despi minha armadura de defesa
E, agora, Senhor, encontro-me indefesa
A implorar a ti que venha me valer
Por favor, eu lhe rogo a tua graça
Senhor, não me deixe sofrer

Mandai, Senhor, um de seus escudeiros
Para que ele revire os canteiros
De minhas verdades assim tão resolutas
E me defenda do mal de uma paixão
Não é de um mal qualquer, não

Defenda-me, Senhor, do mal de amar
Preciso encontrar outro caminho
Antes que eu me coloque de novo
Em outro ninho
E nele me deite a sonhar
Antes que ao invés de colher a flor
Nascida num fim de verão
Segura pelas garras da paixão
Só colha da flor a dor e o espinho

Protegei-me, Senhor,
É só o que eu te peço

Senhor, eu não mereço sofrer
Mais uma vez do mal de amar
Quero apenas ter o direito de sonhar
Com um amor racional, normal,
Sem exageros, sem erros

(Como se fosse possível amar sem errar)

Atai meu coração à rocha mais pesada
E lançai-o ao amar
Livrai-me, Senhor, do mal de amar
Tape meus ouvidos aos apelos do amor
Fecha meus lábios,
Eu te suplico
Impeça-me a loucura
Livrai-me, Senhor, desta criatura
Poupai-me, Senhor, de mais uma desventura

Mas…

Se o Senhor achar que devo amar
Deixe-o comigo, só mais um pouquinho,
Quero ao menos uma vez mais
Sentir este gostinho diferente
Que mistura mel e fel na boca da gente
Quero sentir este momento
Que mistura no mesmo rosto
O riso e o pranto
E “um contentamento descontente”
A viajar entre o céu e o inferno
Para depois, no entanto,
Nos deixar prostrados a teus pés
A te pedir o impossível
A blasfemar contra o que é santo
Deixando de lado a fé e a coragem
E a te pedir tanta bobagem…

Perdoa-me, Senhor, pela blasfêmia
Ao te pedir que afaste de mim
A dor e a delícia de amar
Perdão, Senhor, perdão
Rogo por sua graça divina,
Perdoa este menina
Que não quer partir
Por isso vive a te pedir por um amor
Para depois, perdida, aturdida
Com ele não saber o que fazer
Não me tire este amor
Não me tire o direito de sonhar

Por isso, Senhor, eu confesso,
Minha culpa,minha culpa, minha máxima culpa

Então, Senhor, humildemente
Mais uma vez te peço
Por favor, me deixe amar…
Permita- me sonhar
Mas, Senhor, por favor, antes de tudo
Ensina-me a amar…

Amém!

(Do livro Poemas em Trânsito de SÔNIA MOURA)

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