Presente Especial

PRESENTE ESPECIAL      Presente especial

Com quatro dias de antecedência, no dia 18 de fevereiro, recebi um belo presente de aniversário. Um presente daqueles que não se compra em loja, nem pela internet, nem se manda buscar no exterior. Não, este presente é a herança multiplicada do encontro de corações apaixonados, ela é a semente germinada do amor.

Embora não haja nada de novo nas histórias de amor, que antecedem à chegada deste meu maravilhoso presente, mesmo que digam que esta é somente a aventura da vida, que é repetida e aguardada por todos (ou por quase todos), as histórias de amor sempre nos emocionam.

O meu presente ficou guardado por nove meses, dentro da embalagem mais segura do mundo, depois, apareceu para nós, todo embrulhadinho em mantas ou seria em mantos, já que é um anjo?

E ei-lo que chega definitivamente para nossa família e é recebido com toda alegria e emoção. Todos nós sorrimos carinhosamente para ele, como se ele entendesse alguma coisa. Não sei se entendeu, mas sei que a energia circula e ele, certamente, a recebeu.

Falo do meu lindo presente: José, meu neto, que chegou para se juntar às duas princesas:Tatiana e Fernanda, minhas netas, e alegrar a vida de todos nós.

José

Mora na filosofia…

 Mora na Filosofia (Sônia Moura)

Conselho filosófico desta manhã:

A você,  amigo, que insiste nesta rima imprópria e muito, mas muito pobre:

 

” Mora na filosofia / Pra que rimar amor e dor?”

Mora Na Filosofia(Monsueto / Arnaldo Passos)

Eu vou te dar a decisão
Botei na balança
E você não pesou
Botei na peneira
E você não passou
Mora na filosofia
Pra que rimar amor e dor
Se seu corpo ficasse marcado
Por lábios ou mãos carinhosas
Eu saberia, ora vai mulher,
A quantos você pertencia
Não vou me preocupar em ver
Seu caso não é de ver pra crer
Ta na cara

mora na filosofia

DROGAS PONTUALIZADAS

                                                                   PONTO DE EXCLAMAÇÃO

DROGAS PONTUALIZADAS [por Sônia Moura]

Assisto a um programa que mostra  diversas drogas, das mais variadas e alucinógenas possíveis e, diz a reportagem, são comuns em um tipo de festa, em todo o Brasil.

Não só nestas festas, mas em diferenciados momentos, todas as formas de loucuras e riscos são apresentadas, por meio de cápsulas, comprimidos, líquidos, ácidos ou pó.

Toda esta ilusão é colocada à disposição de pessoas, quase sempre jovens, ávidos por aventurar-se num mundo desconhecido, quando são estimulados a entrarem no vácuo da esperança vazia, acreditando que suas vidas ficarão mais coloridas.

No entanto, é sabido que dentro do plano da ilusão fugaz, a droga proporciona algo mais, como prolongamento do falso prazer, por outro lado, o que não é dito ao jovem é que este prazer alongado se perde no meio do caminho e transforma-se em dor e desespero, pois, por produzir a interrupção do pensamento, a droga provoca hesitação e/ou excitação e, em ambos os casos, a droga só serve mesmo para realçar a ilusão.

E pensar-se que tudo começa como uma simples vírgula que serve para separar a realidade e a fantasia, ressaltando na segunda o seu poder ilusório de um prazer eterno.

Depois, vem o ponto e vírgula, quando, a cada uso que se faz da droga, a sensação de separação entre o certo e o errado, entre a realidade e a fantasia, entre o amor e o desamor, é largamente aumentada.

Em seguida, o consumidor de drogas tenta justificar o uso desta por falsas enunciações, entram em cena os dois pontos: “Não vou me viciar, fumo/cheiro/inalo/aplico só por brincadeira, largo quando eu quiser, só quero sentir o gostinho, a sensação da alegria e do prazer.”

Então, entra em cena o ponto de exclamação, quando, estupefatos, os pais descobrem que seu filho embarcou em viagens com trágico fim, ao conhecer o mundo das drogas.

Logo depois, vem o ponto de interrogação quando os pais sentem-se culpados e se perguntam: Onde foi que eu errei?
As ilusões são tão frágeis e breves quanto à juventude, enquanto as drogas são como reticências que provocam a suspensão do pensamento ou a interrupção da vida.

Às vezes, ainda há tempo para que o jovem seja salvo deste mundo de ilusões reticentes, mas, na maioria dos casos, a droga dá um ponto final a uma vida que poderia ser pontuada de alegrias e vitórias.

alucinação

AMANHCECENDO…

AMANHECENDO

Assim como a manhã que nasce todos os dias, também estamos sempre amanhecendo, às vezes, o parto é difícil, outras vezes, nem tanto, mas estamos sempre amanhecendo.
Amanhecer é aprender a cada dia, com cada sol, com cada chuva, que é preciso se reinventar e reinventar o mundo, ainda que ele pareça igual, para podermos anoitecer  com alegria e sabedoria.

manhã=mulher

ENCANTADORA DE CORAÇÕES

ENCANTADORA DE CORAÇÕES (por: Sônia Moura)

Fui à festa de aniversário de minha amiga Sueli, que, para nós é somente Su ou Sussu. Bela festa, polvilhada pelos sorrisos e abraços verdadeiros de amigos também verdadeiros.
Muita música, muita dança e muita alegria, tudo isto regado a comes e bebes de primeira qualidade.
Neste dia, eu não estava bem, não estava sequer com vontade de sair de casa, mas como deixar de aceitar tão amável convite? Como deixar de comparecer à festa de aniversário da queridíssima Sueli?

Impossível, eu não me perdoaria. Fui, gostei e gratifiquei-me.
Sueli não é daquelas amigas se vê todo dia ou toda semana. Sueli é uma amiga com quem me encontro, geralmente,  uma vez por ano.

No entanto, como é uma pessoa muito, mas muito especial,  consegue envolver a todos em laços de amizade forte e sincera, encantando a todos, com sua ternura e bom humor, o tempo curva-se ante o seu poder de conquistar os amigos e mantê-los.
Ao final da festa, aqueles que assim o desejassem, diriam algumas palavras homenageando a aniversariante.
Eu não havia pensado em nada, porém, quando o microfone ficou à disposição dos convidados, apresentei-me para prestar minha homenagem à querida Sueli e, sinceramente, as palavras que saíram foram de beleza e de uma honestidade que até brinquei com alguns amigos , dizendo que havia “baixado um santo poeta,” que me inspirou a dizer o que disse, levando-me às lágrimas.
Eis o brevíssimo pronunciamento:

“Quero deixar um abraço recheado de alegria à maior encantadora de corações que eu conheço: Sueli”

Encantadora de corações

QUADRINHAS

                         Poço

QUADRINHAS (Autoria: Sônia Moura)

I

Qual uma cantiga de roda
Assim ficou meu coração
Ao ver teu olhar no meu
Nesta manhã de verão!

II

Meu coração bateu forte
Quando encontrou o seu
Minh´alma ficou feliz
Com este amor que é só meu!

III

A flor presa nos cabelos
Teus olhos nos olhos meus
Teus braços para os meus abraços
São um presente de Deus!

IV

Sonhar com tua chegada
É viver no paraíso
Sentir a sua presença
É tudo de que preciso!

V

Só sei que é preciso amar
Para o mundo compreender
Por isso digo ao mundo
O quanto amo você!

(Do livro:Poemas em Trânsito de Sônia Moura)

PENEIRAS

 PENEIRA

PENEIRAS (Autoria: Sônia Moura)

Do outro lado da rua, o homem peneirava a areia, enquanto Denise peneirava as palavras.O homem precisava construir a casa; Denise precisava construir seus textos.
Por alguns instantes, pararam suas tarefas e deixaram seus olhos se encontrarem, e, ainda que a distancia os separasse, a força do olhar se fez presente.
O vento espalhava alguns grãos de areia que o homem peneirava, mas a maior parte caía dentro do recipiente adequado; o pensamento espalhava alguns grãos de palavras que a mulher peneirava, mas a maior parte ficava grudada na tela do computador, e, em ambos os casos, não se sabe ao certo se o que ficava nos devidos recipientes era o melhor, no entanto, era com estes grãos que o homem e a mulher iriam construir suas obras de arte, deixando para o mundo a sua visão de mundo.
Mais uma vez, os olhos se cruzaram e este encontro de olhares repetiu-se por alguns dias, enquanto sentimentos eram peneirados.
Juntando areia, terra, cimento e pedra, o homem dava forma à sua obra, juntando ideias e palavras, a mulher dava forma à sua obra.
Ele se arriscava, construindo algo novo: novas formas de uma nova arquitetura. Com certeza, aquela era uma obra diferente.
Ela se arriscava, construindo algo novo: novas formas de um novo texto. Com certeza, aquela era uma obra diferente.
O tempo passava e as obras iam tomando forma. O tempo passava e os olhares iam dando forma à casa e ao romance. Cresciam as obras, crescia o desejo. Precisavam se encontrar.
Enquanto eles terminavam suas obras, o destino também peneirava a vida e tecia a sua obra.

Assim,  numa manhã de domingo, a súbita presença da arte uniu o casal. Encontraram-se numa feira de artesanato, se reconheceram, se aproximaram, peneiraram as diferenças sociais e construíram a sua melhor obra: um novo rebento.

(Do livro SÚBITAS PRESENÇAS de Sônia Moura)

TEXTO

DÉBITO AUTOMÁTICO

 

rouxinol

 DÉBITO AUTOMÁTICO (Autoria: Sônia Moura)

Carminda era louca por rouxinóis, possivelmente influenciada pela fala de jovem apaixonada, em Romeu e Julieta, de William Shakespeare:

“Julieta. – Então queres já partir ? O dia ainda não vai despontar! Foi o rouxinol, e não a cotovia, que fez assustar o teu ouvido. Todas as noites ele costuma cantar pousado naquela romãzeira. Podes crer, meu amor, que era o rouxinol.”

Além do mais, Carminda era fascinada por esta ave que, na maior parte do tempo, vive solitária, é difícil de ser vista, e que, quase sempre, se esconde atrás de um arbusto para cantar. Um pássaro que, geralmente,  cantava à noite, com certeza  seu canto jamais separaria os apaixonados, pensava a moça.

E a cotovia? Ah! esta era, segundo Romeu, mensageira da manhã, por isto, para Carminda, o canto da cotovia era um sinal de que os amantes, não só os de Verona, deviam se separar.

Um dia, Roberto, um amigo muito querido, presenteou Carminda com um CD, onde estavam gravados o cantar de vários pássaros. Era a primeira vez que ela ouvia o canto do rouxinol, melodioso, encantador, tentador e envolvente.

Depois de ouvir muitas vezes o canto do rouxinol, Carminda jura ter visto esta ave, pousada na janela de seu quarto.

Esta súbita presença permitiu a revelação do encanto e da magia  deste cantar, então, a partir daquele momento, Carminda passou a ter  um débito automático com o amigo Roberto, que lhe abriu as portas dos diversos caminhos da ilusão, por meio dos sons e dos sonhos, mesmo que de olhos abertos.

(Do livro: Súbitas Presenças de Sônia Moura)

romeu e julieta

QUEM AFIOU O MACHADO DE ASSIS?

Quem afiou a Machado de Assis? (por SÔNIA MOURA)

Teria sido Lima Barreto ou, mais contemporaneamente, Lima Duarte?

Machado de Assis

Esta e outras perguntas faziam parte de um repertório das chamadas ”perguntas tolas”, que só serviam para divertir, alegrar.
Vejamos alguns exemplos:

1- Quem é o centro avante do ataque cardíaco?
2- Em perna de pau nasce pelo?
3- Linha de ônibus serve para costurar?
4- Quem nasce na ilha da madeira é cara de pau?
5- Quantos filhos tem o pai Sandù?
6- Pé de alface tem chulé?

(Esta era uma inocente brincadeira de tempos que lá se vão.)

A bem da verdade, o que era afiado em Machado de Assis era o seu humor que, para alguns, beirava o cinismo, e também era sinônimo de uma ironia, que andava em perfeita sintonia fina com a vida.

Para outros, o humor machadiano era a prova viva de uma inteligência sagaz.

Quem afiou sua mente para que ele conseguisse penetrar com tanta audácia e certeza nos meandros da psique e da alma alheia?

Quem afinou sua pena para que ele ousasse conversar com o leitor, chamando-o para o centro da roda narrativa, o que acaba por tornar leitor e autor cúmplices do que estava sendo narrado?

Quem afinou a lógica da escrita machadiana que, através de períodos curtos, diretos, alcançava o objetivo desejado, prendendo a atenção do leitor, sem deixar o texto tornar-se tedioso, a fim de que a leitura fosse o mais possível prazerosa.

Este afiado Machado de Assis era um implacável crítico da sociedade e do ser humano, sabia como “limar” as aparências, buscando revelar ao leitor os lugares secretos das ações humanas, as essências da vida, através da análise do mundo interior dos personagens.

A afiada ironia machadiana, na maioria das vezes marcada por pinceladas amargas e até mesmo beirando à crueldade, arranca feroz ou brandamente as máscaras que escondem os muitos jogos de interesse circulantes na sociedade, fazendo vir à tona uma descrença mostrada por um desespero quase velado, para que as nuances da alma humana fossem reveladas.

Preclaros leitores, de fato não sabemos quem afiou o Machado de Assis, mas, certamente, podemos afirmar que a sociedade da época e tudo mais que ela representava naquele “novo” mundo, por meio de suas descobertas e idéias revolucionárias, ajudaram a afiar este escritor genial e sua obra, por meio da qual ele se mostra um observador do mundo, de seus pares e de si mesmo, sendo ao mesmo tempo caça e caçador.

Machado de Assis

RIQUEZA IMAGÍSTICA

RIQUEZA IMAGÍSTICA  (por Sônia Moura)

Hoje, nesta manhã carioca, lindamente ensolarada, o cansaço acumulado por dias de trabalho árduo, porém profícuo, deixo-me estar, tal qual Linda Inês, posta em sossego.

Para me fazer companhia, tenho a televisão. Assisto a um bom programa: Globo Rural e sou apresentada a mais uma espécie de ave em extinção: a Arara Azul de Lear.

“A arara-azul-de-Lear é típica da região de Canudos e Jeremoabo, no Estado da Bahia. A ave utiliza os paredões de arenito como abrigo e se alimenta da palmeira Licuri. Atualmente, esta espécie é constantemente ameaçada pela ação de caçadores e traficantes de animais silvestres. “Ela não tem predadores naturais a não ser o homem”, diz Figueiredo.” [ http://www.faunabrasil.com.br

Arara azul

“ … ela não tem predadores naturais, a não ser o homem”. ..a não ser o homem! …a não ser o homem! Acho que nem precisamos consultar nossos ancestrais para entender que a destruição das espécieis, se dá unicamente pela ganância e pelo desejo do ganho fácil e incontrolável.

Se quisermos ir além ou aquém dos fatos, podemos construir uma imagem desta terrível conjunção: dinheiro e destruição das espécieis, seguindo os passos da significação para a forma “dinheiro vivo”, traduz-se por : “pagar em espécie”.

Apesar desta insanidade, permito-me sonhar, viajando por concepções junguianas, as quais dizem que todo pensamento imaginário não passa de uma tomada de consciência de arquétipos ancestrais, pois todas são “imagens primordiais”.

Assim sendo, deixo que estas imagens se manifestem em forma de fantasia, para que possam revelar-me alguns segredos do passado, que se perpetuam e  se mostram no presente.

Para captar a beleza de uma das características deste grupo, sirvo-me do campo simbólico, criado por belíssimas imagens e pelas palavras do biólogo, que afirma ao repórter:

“Esta ave, quando escolhe o seu parceiro, é para sempre e, a partir deste instante, eles estarão eternamente juntos, em qualquer situação.”

E as figuras que a tv nos mostra são a confirmação do que disse o biólogo, são a imagem de um casal enamorado, aves que parecem perder-se em beijos, num momento de profunda consagração à vida, que o homem insiste em lhes roubar.

arara azul

Então, simbolicamente, todos os encantos do amor se manifestam para mim, são asas que se alteiam e se abaixam, em forma de véus esvoaçantes, num ritual de amor, guardado pelos genes da ancestralidade, o qual se repete, através do ritual da vida.

Depois, banhados por luzes e cores do amor eterno e deslizando por um céu “ancestral”, os casais saem em vôo duplo, e deixam-me, de presente, riquezas imagísticas, para coroar o majestoso domingo.

riqueza imagística