DÉBITO AUTOMÁTICO

 

rouxinol

 DÉBITO AUTOMÁTICO (Autoria: Sônia Moura)

Carminda era louca por rouxinóis, possivelmente influenciada pela fala de jovem apaixonada, em Romeu e Julieta, de William Shakespeare:

“Julieta. – Então queres já partir ? O dia ainda não vai despontar! Foi o rouxinol, e não a cotovia, que fez assustar o teu ouvido. Todas as noites ele costuma cantar pousado naquela romãzeira. Podes crer, meu amor, que era o rouxinol.”

Além do mais, Carminda era fascinada por esta ave que, na maior parte do tempo, vive solitária, é difícil de ser vista, e que, quase sempre, se esconde atrás de um arbusto para cantar. Um pássaro que, geralmente,  cantava à noite, com certeza  seu canto jamais separaria os apaixonados, pensava a moça.

E a cotovia? Ah! esta era, segundo Romeu, mensageira da manhã, por isto, para Carminda, o canto da cotovia era um sinal de que os amantes, não só os de Verona, deviam se separar.

Um dia, Roberto, um amigo muito querido, presenteou Carminda com um CD, onde estavam gravados o cantar de vários pássaros. Era a primeira vez que ela ouvia o canto do rouxinol, melodioso, encantador, tentador e envolvente.

Depois de ouvir muitas vezes o canto do rouxinol, Carminda jura ter visto esta ave, pousada na janela de seu quarto.

Esta súbita presença permitiu a revelação do encanto e da magia  deste cantar, então, a partir daquele momento, Carminda passou a ter  um débito automático com o amigo Roberto, que lhe abriu as portas dos diversos caminhos da ilusão, por meio dos sons e dos sonhos, mesmo que de olhos abertos.

(Do livro: Súbitas Presenças de Sônia Moura)

romeu e julieta

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