REFORMA ORTOGRÁFICA IV (ou Acordo Ortográfico) – CREDELEVE e agora?

REFORMA ORTOGRÁFICA IV (ou Acordo Ortográfico)
CREDELEVE – e agora?

(Autoria: Sônia Moura)

Quando menina, aprendi que devíamos colocar o “chapeuzinho” ou o acento circunflexo nas vogais tônicas fechadas “e” – “o”, assim como a acentuação tônica da vogal “a” seguida de m e n, por exemplo: tônico, ipê, lâmpada, pânico.

Mais tarde, também aprendi que, quando a vogal estivesse dobrada e o som fosse fechado(“vôo, lêem), lá deveria estar o famoso acento circunflexo.

Já naquela época, eu me perguntava: -Se o som é fechado, porque o chapeuzinho está sempre aberto? Coisa de criança curiosa, dirão.

Tempos depois…

Usando um processo mnemônico, ensinava a meus alunos uma forma de “guardar” quais os verbos (e derivados), em que uma das vogais deveria ser acentuada. Esta era a forma: CREDELEVE [crer-dar-ler-ver].
A partir do novo acordo, vivo a me perguntar: O quer fazer com o gostoso CREDELEVE? E agora?
Agora o meu gostoso CREDELEVE não tem mais nenhuma serventia, só me reta jogá-lo no lixo. Que pena, eu gostava tanto dele…

O tempo passou e …

Embora a maioria das regras referentes ao emprego do acento circunflexo continuem firmes e fortes, eis o novo “não-uso” do acento circunflexo:

“Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos “crer”, “dar”,“ler”, “ver” e seus derivados. A nova grafia para algumas das flexões destes verbos é creem, dêem, lêem vêem.Assim como foi abolido o acento circunflexo em palavras terminadas em hiato “oo”, como “enjôo” ou “vôo” -que se tornam “enjoo” e “voo” “.

REforma ortográfica IV

DÁ ATÉ SHOW

DÁ ATÉ SHOW por Sônia Moura

Em tempos de globalização econômica e cultural, somos colocados frente a telas que nos dão visões culturais multiplicadas e, ao mesmo tempo, unificadas, histórica, econômica e ideologicamente. Igual, tudo igual. Será mesmo verdade? Ou haverá marcas de um passado em que o que marcava de fato eram as diferenças?
Ideologias, mercado, ética, educação, trabalho, sobrevivência, culturas, políticas, produtos e bens culturais, numa simbiose louca, tentam nos convencer (e às vezes convencem) de que a melhor cultura é a hegemônica. De que serve a heterogeneidade, se todas as tribos devem conviver e sobreviver no maravilhoso mundo da fantasia, gerenciado por poucos e assimilado por muitos? Este é o nosso admirável velho mundo novo.
“Tudo é igual, não me iludo é contudo…” (Caetano Veloso), portanto, não tenhamos ilusões tardias, uma vez que a lógica do capitalismo é ilógica: fragmenta, diversifica e unifica produtos; se apossa de bens culturais, produz comportamentos, fabrica “políticas culturais”, uniformiza culturas.
No entanto, a globalização não deve ser olhada somente pelo prisma defensivo, se assim o fizermos estaremos “globalizando” nosso julgamento, tornando- o hegemônico. Não nos deixemos levar pelo (des) controle, não somos máquina, e podemos criar nossa mídia, podemos criar mercados.
O sistema de significações, operado pela cultura, mesmo que se promova o palimpsesto cultural, dá ao homem uma visão ordenada do mundo, e esta rede sim faz a diferença, pois é esta marca simbólica, significativa, identitária que manterá em convergência tradição e modernidade, mesmo nos momentos exacerbados da globalização econômico- cultural, desta imensa aldeia global.
Eu gosto, tu gostas, ele gosta, nós gostamos… ? Respondemos quase que numa só voz: SIM, porque eles gostam. Quem? Os mercadores de tudo, inclusive da(s) cultura(s), não respeitam fronteiras, destroem barreiras, conjugam e nos fazem decorar o verbo consumir (consumir tudo, inclusive cultura – não importa o que entendamos por cultura). Não se oponha, não questione, apenas consuma o que eu mando, o que nós mandamos e não o que você(s) gosta(m).
Historicamente, os povos dominados, colonizados, explorados e ou “civilizados” são induzidos a olhar o dominador com o olhar de admiração e tudo o que dele vier será melhor, mais bonito, mais isto e mais aquilo. E, assim, muito vai sendo jogado por nossas goelas ávidas dos saberes, das artes, das culturas e das línguas alheias e nos empanturramos com o que é do outro, com um sorriso nos lábios.
Estrategistas de lá e de cá nos afogam em belas novidades, em luzes e em cores, em sabores e em odores. Empanturrem-se, assim não terão fome da sua própria comida. Boquiabertos, arrastando uma cultura bancorrota , nos ancoramos no olhar alheio, num mundo alheio, somos todos irmãos, somos filhos dos mesmos pais (ou do mesmo país sem fronteiras?). Somos todos iguais (desde que usemos o mesmo tênis). Aliás: “Tudo é igual quando canto e sou mudo…” (C. Veloso).
Afastando-se de xenofobias, exclusões, sectarismos, o produtor cultural terá papel primordial na desmontagem dos paradigmas globalizados. Se a globalização deseja o monólogo da arte e da cultura, cabe ao produtor abrir canais a novos diálogos, ficar atento ao espetacular, sem ser espetaculoso, saber tirar o chapéu na hora certa, se a idéia for boa, saber negociar, driblar inferências e interferências, dar voz à sua cultura, sem deixá-la se apoderar do microfone e sem jamais ser a voz do produtor a única voz no cenário.
Urge buscar parcerias, ouvir o outro, entrelaçar idéias, deixar a caverna sem destruí-la, mas, principalmente, colocar o foco na pessoa, ser sábio, saber manipular o aço temperado da globalização, acendendo o candeeiro e a luz neon, usar a pena da escrita e digitar idéias e ter muito cuidado com o que vai deletar, confirmando, assim, que a faculdade única da cultura não está só no nome.
Desta forma, novas abordagens de temas atávicos e novas práticas deverão ser adotadas com a finalidade de que comunidades se reconheçam, se valorizem e, assim, a cultura ( brasileira) se revitalize.
Eventos diferenciados (do rock ao samba) em locais diferenciados (do armazém ao museu) serão pontes por onde transitarão experiências distintas, formando uma só corrente. O produtor cultural, um dos elos desta corrente, deverá estar disposto a receber todo o mundo e todos os mundos, investindo na criação de projetos nos quais as idéias sejam estimuladoras, onde os espetáculos façam rir, façam chorar, mas que nos façam pensar, pois estes são, também, papéis da arte e da cultura.
Pensar a estética do espetáculo cultural é de suma importância, mas não nos esqueçamos da ética ( embora saibamos que neste mundo pós – moderno/globalizado a ética por vezes é triturada, incinerada e jogada no lixo, fica à mercê de toda a forma de interesse), contudo, a ética é o carro-chefe de qualquer espetáculo, e o produtor cultural não deve se afastar dela, senão, passará a ser apenas um insignificante reprodutor cultural.
Possibilitar a exploração, a recuperação e a atualização de imagens da história do povo, unindo presente e passado é uma das formas de driblarmos o lado mais perverso da globalização cultural, para tal, quem produz cultura precisa estar atento aos fenômenos diferenciadores da globalização econômico – cultural e do uso individual das informações dos novos tempos, explorando tesouros escondidos, vasculhando endereços camuflados, reconduzindo a cultura a seu verdadeiro posto, quando ela precedia o mercado, é preciso, eticamente (re) equilibrar o âmbito cultural e o âmbito comercial.
Cabe ao produtor cultural ser o implacável arqueólogo do seu tempo e dos tempos imemoriais, estabelecendo laços entre o ontem e o hoje. Ousar dizer, ousar fazer, sem embarcar no nacionalismo estreito, pois somos plurais sendo únicos, temos o nosso discreto charme latino – europeu – indígena -negro- oriental – ocidental, somos o Brasil.
A globalização de agora é exercida por organizações econômicas mundiais, por tecnologias da informação e comunicação, e é difícil lutar contra estes monstros, mas como se sabe, monstros podem ser vencidos, monstros são lendários, e os produtores culturais precisam ter condições de compreender, analisar, refletir, criticar o fenômeno da globalização cultural, para que seus projetos e fazeres culturais compartilhem, compactuem com os pontos positivos deste fenômeno, sem que seus espetáculos percam de vista a identidade cultural local ou nacional.
O controle remoto da globalização cultural passa pela mão dos que produzem a ideologia dominante, dos que desenvolvem pensamentos coletivos, dando a nós os nós. Para desfazer estes nós, não podemos nos afastar do novelo, é preciso entender as mazelas dos novos tempos e dos novos recursos e o produtor cultural, que é traço de união, deverá se apropriar dos recursos disponíveis de acordo com a realidade vigente, driblando imposições e intenções.
Unindo ética, competência, educação, cultura e cidadania, manteremos nossos bens culturais, criando projetos culturais e produtos culturais, que poderão provocar a ampliação de conceitos, aproximando modos culturais, modificando representações culturais, fazendo acontecer a união e a unificação de modos culturais, sem descaracterizar inteiramente identidades culturais.
Assim, nossa representação cultural, conduzida por mãos hábeis e ágeis de bons produtores culturais, apesar do arrastão globalizado, com toda certeza, dá até show.

gLOBALIZAÇÃO

BRASIL – COTA POR COTA…

 

                                                                      Cotas

 

 

BRASIL – COTA POR COTA… (Autoria: Sônia Moura)

A história da educação no Brasil confunde-se com a história sócio- econômica do país no que diz respeito à difícil inclusão de negros, índios e pobres nos bancos escolares.Arrastando-se por um longo período, o quadro da exclusão escolar não apresentava nenhum sinal de mudança.

A ação nem sempre tem mais valor que a reação e é sobre a reação dividida da sociedade, no que se refere ao sistema, que se insurge esta nova modalidade denominada justiça social e é sobre ela que se movem nossas dúvidas, uma vez que, politicamente, as instituições de ensino não têm como recuar ante a Lei e mesmo ante a sociedade, pois, se o fizerem, correm o risco de “sujar” a sua imagem.

Se… Se… A tentarmos equacionar esta questão e/ou buscar saídas e respostas para as questões surgidas com o advento das Cotas, estamos todos na condicional: sociedade, universidade, Estado.

Se, por um lado, o sistema de cotas poderá ser visto como resgate histórico- cultural que dará oportunidades àqueles que sempre estiveram à margem, por outro lado, assim como os negros eram tratados pelo poder da chibata, também as instituições de ensino irão trabalhar debaixo da chibata legal, e o Estado, dono da chibata, também levará suas chibatadas.

Assim sendo, o regime de cotas confere à escola o papel de justiceira ou de feiticeira que vai, num passe de mágica resolver problemas seculares, os quais a sociedade sempre ignorou? Como responder a esta pergunta?

Discute-se, ainda, se o Estado não está colocando panos quentes sobre suas mazelas: desigualdade social e escolaridade deficiente, deficitária, incapaz de formar indivíduos que possam concorrer a uma vaga na universidade sem recorrer a cotas. Possivelmente sim. Mas, a curto prazo, haverá outra saída?

O que já sabemos é que, mesmo que as bases históricas sejam outras, em outros países verificou-se que, embora polêmico, o sistema de cotas pode ser um bom começo, assim sendo, enquanto o que se deseja: igualdade social não acontece, procuremos entender que este é um traço novo em nossa sociedade educacional, e continuemos a luta para que o que se deseja, se realize: educação de qualidade para todos.

Acreditamos também que, mudar as bases da divisão de renda ou cumprir o que diz a lei, dando os mesmo direitos educacionais a todos, isto é , educação de qualidade e respeito à cidadania este seria um bom caminho para o Estado trilhar.

No entanto, se por um lado a proposta das cotas propicia transformações sociais de alta relevância, pois é um projeto que pretende fundamentar suas ações em inclusões que consigam, se não dissipar, ao menos equilibrar forças tão díspares valores arraigados e novos valores, por outro lado, as cotas podem contribuir para a acomodação do Estado e de suas políticas educacionais, fazendo com que cada vez mais a educação fique relegada a último plano nas prioridades dos governos.

À sociedade cabe o dever de transformar o instituído, mesmo que inicialmente este projeto nos cause estranhamento, acreditamos que devemos tentar aceitá-lo e acatá-lo, pelo menos por um tempo. É o ideal? Não, não é, porém é o real, é o que se apresenta no momento. É uma pequena fresta através da qual o direito à educação superior estenderá seus braços a todos, ou a quase todos, porém, devemos continuar atentos e cobra do Estado que ele desempenhe o seu papel de dá a todos o direito à educação de qualidade.

Uma vez que a idéia de correspondência, de correlação e semelhança entre o mal causado aos pobres, aos negros e índios e a seus descendentes, os quais hoje recebem um ensino muito precário (quando recebem), acreditamos que ao menos de forma parcial, politicamente, a sociedade estará se redimindo de tantas injustiças, que a história de ontem e de hoje registram, basta examinarmos o que rege a lei de talião: do latim Lex Talionis: lex: lei e talis: tal, parelho- consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena — apropriadamente chamada retaliação, que é frequentemente expressa pela máxima “olho por olho, dente por dente”.

(Trabalho apresentado à Fundação Getúlio Vargas, 2005)

                                                                       BrasilDespedaçado

 

 

POR AMOR À ARTE

POR AMOR À ARTE        ( Autoria: SÔNIA MOURA)

  Movendo-se pelo palco, o ator precisa conquistar a sua platéia, sua missão é fazer o seu público compreender, sentir e participar da arte, uma vez que só a compreendemos, de fato, quando dela participamos, quando a sentimos, quando nos emocionamos, quando acreditamos, por exemplo, estar no palco “alguém” (o personagem) real, vivendo um tempo real, num espaço real, quando deixamos o cotidiano em suspenso para vivermos a experiência estética, para, através de seus elementos e recursos, substituir a seqüência temporal – espacial e, pelos fluxos da consciência, reinventarmos o que já foi inventado, fazendo acontecer por formas e conteúdos aquilo que desejamos– a transferência pelo ritual mágico da representação- . Para isto, é preciso representar o real transfigurado de irreal ou criar um novo real, por meio de linguagens.
Movendo-se pelo palco, o professor sabe que ninguém educa ninguém, cada um se educa, por isso o mais importante é levar o outro a pensar, a sentir e agir, a ser capaz de perceber o mundo que o cerca. É necessário conquistar a sua platéia, uma platéia que é, ao mesmo tempo, espectador e ator, é preciso fazê-la participar, trocar experiências, desenvolver capacidades, ser capaz de analisar, de criticar, de argumentar, de refletir e de defender seus pontos de vista. Para isto, é preciso representar o real transfigurado de (ir)real ou criar um novo real por meio de linguagens.
O teatro pode recorrer a outros recursos para enriquecer o espetáculo: o jogo de luzes e cores, a música e o cenário e o ator pode, além da fala, usar outros recursos: o gestual, a entonação da voz, a mímica, a maquilagem, o figurino, o corpo, para representar o seu personagem. Conhecer bem o seu personagem é imprescindível para que o ator, ao apresentá-lo em cena, convença a platéia de que a metamorfose – em deus, herói, rei, bandido, vilão, mocinho ou simplesmente um representante do povo – é real. Deverá o ator também ser capaz de mover-se e incorporar-se a tempos anacrônicos ou sincrônicos, ser capaz de se transmutar, definir ou indefinir imagens, de humanizar ou desumanizar heróis, anti-heróis, homens comuns ou deuses, para tal é preciso usar a imaginação, treinar com afinco, selecionar, se aperfeiçoar.
Por sua experiência particular, o ator deverá desenhar um traço de união entre o ilusório e o verdadeiro, entre o que é meramente percebido e o que efetivamente existe e desenhar outro traço de união entre ele, o cenário e sua platéia. Estes traços deverão ser direcionados por seu olhar, por seus dons sensoriais e intelectuais e por meio de cinestesias.
Faz-se necessária a presença de um outro (o personagem), é preciso desvendar-lhe a alma e doar- lhe o corpo, fazê-lo incorporar-se ao seu papel (ou será o papel que se incorpora a este corpo?), é preciso usar a voz como instrumento de interpretação e convencimento, é preciso usar o silêncio para convencer, para vencer e para conquistar.
Ator por vocação ou por imposição da profissão, o professor, no centro do palco, circula por um cenário quase sempre imutável, não usa figurino, máscara, maquilagem ou iluminação especial, restam-lhe a voz, os gestos e o corpo para representar o papel em que ele é ao mesmo tempo ator, que representa a si mesmo convertido em personagem, e espectador, quando o foco de uma luz imaginária se volta para o seu aluno ou para a sua classe.
É preciso cativar a platéia, conhecer o seu público que é espectador e também ator e personagem, é público “cativo”, é necessário despertar-lhe o interesse. A peça (sua disciplina) deve ser interativa, o texto (a aula do dia) deve ser rico e cativante (ao menos na parte criada por ele para a sua exposição). O professor – ator principal – quase sempre, não será avaliado de maneira formal, no entanto sua platéia é exigente e irá julgá-lo, mas, formalmente quem será avaliado é a sua assistência (alunos). Neste espaço e tempos reais será preciso manter certa disciplina no palco e na platéia. Quem será o personagem principal neste palco? O professor, o aluno ou ambos? Nenhum deles, pois nesta peça, os papéis normalmente se invertem.
No palco do teatro ou da sala de aula, o ator, o professor e o aluno estão sujeitos a regras disciplinares e a normas de conduta, estas são necessárias, desde que flexíveis, desde que não sejam usadas para manipular a equipe, pois atores não são marionetes e alunos também não. A arte de representar não é mera cópia ou mera repetição, a aula também não.
Assim, sem uma direção inteligente (do diretor teatral ou do professor), não haverá colaboração ou troca, haverá uma empobrecedora repetição e o resultado será, certamente, desastroso, o produto final será o de uma aula ou de uma representação de cacos, que dificilmente poderão ser reunidos, para que tal não aconteça, é necessário organizar o elenco e o espetáculo e é imprescindível organizar-se, não se pode dispensar, por exemplo, um bom planejamento para o espetáculo e para a aula.
Cabe ao diretor (de teatro) ser um professor da arte de representar e ser a bússola que conduz o seu elenco e o seu espetáculo, cabe ao diretor da escola (professor) orientar a sua equipe para que trabalhe com a finalidade de incentivar os alunos a buscar suas próprias respostas aos problemas que se apresentem em seu cotidiano, pois o espetáculo deve comunicar algo à platéia, a aula também, pois, só há verdadeiramente aprendizagem, quando, surgida a oportunidade, o educando é capaz de aplicar o que aprendeu.
Estes conceitos nos mostram a dimensão do diálogo estabelecido entre estas artes envolventes, densas e que constroem através da muitas formas de linguagem, o caminho para o encontro de sucessivos momentos de estruturas imagísticas e simbólicas, nas quais múltiplas vozes, num divino regresso nos convocam a ouvir-lhes o clamor, tudo … POR AMOR À ARTE.

(Trabalho apresentado em Seminário – UFF -2005)

professor

 

O LEITOR NO CÍRCULO DAS NARRATIVAS

 

 

LEITOR

 O Leitor no Círculo das Narrativas (Autoria: Sônia Moura

 

Muitas vezes, ao lermos uma notícia ou uma reportagem, em que verdades nos são apresentadas por meio da narrativa denominada factual, duvidamos do que lemos. Por que duvidamos do que é narrado como verdade absoluta, inquestionável, aqui entendida como real e por que a verdade do conto, do romance ou da novela, ligados à narrativa ficcional, em geral não nos causa estranheza?

Por exemplo, alguém põe em dúvida a história de amor entre Tristão e Isolda, ainda que existam inúmeras versões desta lenda celta?

Podemos responder a esta questão, seguindo pela trilha de Humberto Eco que em sua obra intitulada Sobre a Literatura, afirma: “… o universo do livro nos surge como um mundo aberto” ou podemos seguir pela trilha de Barthes que, em seu texto denominado Aula, diz :“a literatura é categoricamente realista”

Ao escrever sobre um fato, o literato ou o jornalista tiram-no do isolamento, da não significação, para colocá-lo em um contexto maior, no escopo da realidade social, no qual as impressões do imaginário fundem-se com a objetividade e a racionalidade do leitor, pois este, por estar solto e ao mesmo tempo preso dentro de um universo cultural, sendo constantemente alimentado por símbolos, precisa preencher lacunas, que este mesmo universo cultural cava para o homem.

E é esta tentativa de prender o real e o tempo e de afastarmos para bem longe as limitações do espaço e do tempo, atando-os com muitos nós à nossa história, que, por vezes, causam estranheza ao leitor que estiver preso dentro do círculo das narrativas, especialmente das narrativas chamadas factuais.

A narrativa jornalística, como produto cultural, narra fatos historicamente localizados, construindo e ressignificando a realidade social, ao falar sobre dramas e tragédias da vida com todos os recheios que habitam o imaginário e a memória cultural coletiva: medos, frustrações, desejos, sonhos, sentimentos, utopias, alegrias, batalhas, quase sempre ligados ao cotidiano, ao tempo presente, a um tempo aprisionado por um dia ou por mais alguns, dependendo do interesse que a notícia despertar, transformando-se assim no carro-chefe, que irá vender o jornal ou a revista.
Por outro lado, até um certo ponto da estrada narrativa, a escritura literária segue pelo mesmo caminho, busca a mesma trilha, porém por mostrar-se desvencilhada da questão temporal, toma o tempo em suas mãos, empresta-lhe novas cores, dando ao que narra sobre “qualquer tempo” o sabor de algo irresistível.Então, esta mudança de cores transforma o ontem no hoje, o hoje, no ontem ou no amanhã pela memória, pela lembrança ou pela história contada.

Assim sendo, sem livrarmos qualquer texto de seu caráter ideológico, diremos que ao leitor cabe a primazia do questionamento, da aceitação, da doxa e o da paradoxa sobre aquilo que lê, enquanto ao escritor cabe o papel de convencer, de atrair, de tornar desejo o que se lê, pela condução do prazer, do entretenimento, do contato com a realidade, com a fantasia ou como fomentador de pensares crítico- reflexivos.

LEITURA

ESCOLA E PODER

                                         

Escola

Escola e Poder (Autoria: SÔNIA MOURA)

O professor atento, volta e meia, se depara com alunos desanimados, pois estes associam “seus fracassos”: dificuldade na aprendizagem notas baixas, desmotivação , suas dúvidas, ao não- domínio de determinada disciplina.

É este o implacável dilema que se agiganta no cenário educacional: de quem é a “culpa”, do sistema, do governo, da família, da religião, do indivíduo, da escola? Afinal, de quem é a bola? (Baseado no texto: DE QUEM É A BOLA?)

Diríamos que geralmente esta falta de definição atrelada à necessidade de se apontar um “culpado” é uma das máscaras usadas pelo poder, advindo da escola, da família, da igreja, do sistema etc., em qualquer lugar ou situação em que o indivíduo se sinta indefeso, uma vez que a imagem do o poder amedronta e ameaça, como nos mostra Jacques Goimard:

A experiência do poder está profundamente ancorada em nossa vida cotidiana: desde seu nascimento, a criança é entregue a essas personagens onipotentes que são o pai e a mãe. Na escola, sabe que o menor está em poder do maior, o forte em poder do fraco, o solitário em poder do líder…O tema do poder está ligado à experiência vivida da desigualdade.”  (GOIMARD, Jacques., La Grande Antologie de la science –fiction,, Les pouvoirs [Introdução]. [APUD .: HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. São Paulo: Summus, 1980, p.125.)

É sabido que em todo e qualquer processo de construção e transmissão de conhecimento são necessários: sedução, confiança, respeito, motivação para que se desenvolvam habilidades, caso estes fatores sejam substituídos pelo medo, toda e qualquer aceitação será de imediato rechaçada, dando lugar ao descaso.

O poder trasvestido de autoridade é uma barreira intransponível para que os objetivos propostos pela educação sejam alcançados, pois os alunos terão dificuldade em lidar com a transmissão e com o transmissor de saberes, aqui representado pela figura do professor inflexível, contundente, aquele que mostra todo o seu poder despudoramente, em que a negociação nunca dá lugar ao diálogo crítico, aquele que foge do conflito, aquele que tem medo, então, este comportamento, em qualquer circunstância, cria uma situação em que o processo ensino- aprendizagem terá como resultado uma aprendizagem vaga, pobre, sem luz , sem lastro e sem lustre.

No entanto, no momento em que a condução de limites, imprescindíveis à convivência social, cede lugar à liberdade excessiva ou ao poder ilimitado, em qualquer ambiente (famíliar, escolar etc.), o resultado do processo de transmissão de conhecimento terá suas bases deterioradas, por obstáculos criados pela ruptura relacional entre aprendiz e facilitador da aprendizagem.

E, quando não estão/são bem alinhados, o poder e o saber intervêm no processo de aprendizagem, provocando um resultado desastroso inevitável, no qual a interação didático – pedagógica imprime trocas inócuas, uma vez que o processo educacional, em qualquer circunstância, estará limitado a este quadro: um manda e o outro obedece, nada mais.

Sabemos que o poder e o saber, são linguagens universais em suas essências, por suas maneiras constantes e regulares de serem difundidos pelo mundo, o que lhes dá o traço diferencial é a cultura de cada lugar, mas nem mesmo a cultura tira o traço de união entre eles, pois em ambos os casos eles se tornam, para muitos e em muitos casos, em verdade irrefutável.

Esta é a marca do poder, é nesta circunstância que ele nubla as formas de saber, garantindo sua própria e absoluta soberania.

Assim, de acordo com o veículo da aprendizagem e de acordo com quem conduz a transmissão do conhecimento, se os objetivos primordiais da educação forem bem focalizados e condições para que propósitos, iniciativas, reconhecimentos, posições, competências e responsabilidades forem postas em relevo, e em favor da disposição de ensinar e aprender, para que deste modo as trocas se processem, as falhas provocadas pelo uso extrapolador do poder, existem enormes chances de estas falhas serem corrigidas, e a transmissão de conhecimento ser [re]conduzida a seu lugar de direito e de fato.

AS BRUXAS SÃO MÁS?

Ao nos lembrarmos do que sempre ouvimos e vimos em filmes ou lemos em histórias infantis,  ao lermos as breves informações sobre “as bruxas”, fica a pergunta:

AS BRUXAS SÃO MÁS?   (Autoria: SÔNIA MOURA)

O vocábulo “Bruxa” é de origem desconhecida, provavelmente de origem pré-Romana. No entanto existe uma provável relação com os vocábulos proto-celtas: *brixtā (feitiço), *brixto- (fórmula mágica), *brixtu- (magia); ou o Gaulês: brixtom, brixtia do qual deriva o nome da deusa Gaulesa Bricta ou Brixta.
Na origem, as bruxas eram mulheres sábias, detentoras de conhecimentos sobre a natureza e, possivelmente, magia, além de serem mulheres muito independentes.

Com o tempo, por influências diversas, as bruxas passaram a ser retratadas, pelo imaginário popular, como mulheres velhas e encarquilhadas, elas também passaram a ser consideradas exímias e contumazes manipuladoras de Magia Negra.

A estes estereótipos, foram acrescentados, pelas crendices populares, habilmente manipuladas, outros estereótipos ligados ao perfil físico: cabelos desgrenhados, narizes disformes com uma enorme verruga, andar curvado, dentes desencontrados ou podres, roupas pretas, esfarrapadas e com uma gargalhada terrível.

Até ao século XIII,  a Igreja não condenava severamente as crendices populares, entre elas a idéia dos poderes das nulheres, especialmente as consideradas “bruxas”. Mas, nos século XIV e XV, o conceito de práticas mágicas, heresias e bruxarias se confundiam no julgo popular, graças à ignorância e as manipulações religiosas.
Foi exatamente a partir da primeira Inquisição que a iconografia cristã passou a representar o “Arcanjo Decaído”, não mais como um arcanjo, mas com a aparência de deuses pagãos, como Pã e Cernunnos. Tal fato levou, séculos após, à suposição de que bruxas eram adoradoras do demônio, portanto deveriam ser condenadas.

Então,  em 1326, o Papa João XXII autorizou a perseguição às bruxas sob o disfarce de heresia.

Assim é que, na Aquitânia (1453) quando uma epidemia provocou muitas mortes, estas foram imputadas a mulheres da região, de preferência, as muito magras e feias.

Em 1484, o Papa Inocêncio VIII promulgou a bula Summis desiderantes affectibus, “confirmando”, por meio deste texto, a existência da bruxaria.

Em 1486 com a publicação do Malleus maleficarum (“Martelo das Bruxas“), intensificou-se a caça às bruxas, pois, mais do que as obras anteriores, esta obra associava a heresia e a magia à feitiçaria.

A Caça às Bruxas foi uma perseguição social e religiosa que começou no final da Idade Média e atinge seu apogeu na Idade Moderna.

No passado os historiadores consideraram a Caça às Bruxas européia como um ataque de histeria supersticiosa que teria sido forjada e espelhada pela Igreja Católica. Seguindo essa lógica, era “natural” supor que a perseguição teria sido pior quando o poder da igreja era maior, ou seja: antes da Reforma Protestante dividir a cristandade ocidental em segmentos conflitantes. Nessa visão, embora houvesse ocorrido também julgamentos no começo do período moderno, eles teriam sido poucos se comparados aos supostos horrores medievais. Pesquisas recentes derrubaram essa teoria de forma bastante clara e, ironicamente, descobriu-se que o momento mais forte da histeria contra as bruxas ocorreu entre 1550 e 1650, juntamente com o nascimento da celebrada “Idade da Razão”.

A “Caça às Bruxas” na Europa começou no fim da Idade Média e foi um fenômeno religioso e social da Idade Moderna.

A situação assumiu tamanha dimensão, também, devido a maus perídos para a prática  agrícola e às muitas  epidemias, que assolaram as populações, resultando elevada taxa de mortalidade, alimentando  as supertições e aumentando o medo.

Então, todos os males foram atribuídas às bruxas e a maior parte das vítimas deste massacre foram julgadas e executadas entre 1550 e 1650.

O número total de vítimas ficou provavelmente por volta dos 50 mil, sendo 75% mulheres e  cerca de 25%, homens.

Entre os episódios maléficos atribuídos à bruxaria, por exemplo, casos de pessoas “endemoniadas”, na verdade, segundo estudos recentes, na verdade todos teriam sido de intoxicação, provocada por um fungo.

O agente causador  era um fungo denominado Claviceps Purpurea, um contaminante comum do centeio e outros cereais. Este fungo biossintetiza uma classe de metabólitos secundários conhecidos como alcalóides do Ergot e, dependendo de suas estruturas químicas, afetavam profundamente o sistema nervoso central.

Ao comerem pão de centeio (o pão das classes mais pobres), contaminado com o fungo,os camponeses   eram envenenados e desenvolviam a doença, atualmente denominada de ergotismo.

Em alguns casos, também verificou-se alegações falsas de prática de “bruxaria” e de estar “possuído pelo demônio”, com o fim de se apropriar ilicitamente de bens alheios. Outra forma era a recusa de mulher em relação ao desejo masculino, também poderia ser uma forma de vingança.

Neste breve relato, vemos que qualquer “real” pode ser criado, todos podemos ser manipulados, se permitirmos que a  ignorância tome o lugar do pensar  sobre o que nos dizem ou nos mostram.
bRUXA

QUEM AFIOU O MACHADO DE ASSIS?

Quem afiou a Machado de Assis? (por SÔNIA MOURA)

Teria sido Lima Barreto ou, mais contemporaneamente, Lima Duarte?

Machado de Assis

Esta e outras perguntas faziam parte de um repertório das chamadas ”perguntas tolas”, que só serviam para divertir, alegrar.
Vejamos alguns exemplos:

1- Quem é o centro avante do ataque cardíaco?
2- Em perna de pau nasce pelo?
3- Linha de ônibus serve para costurar?
4- Quem nasce na ilha da madeira é cara de pau?
5- Quantos filhos tem o pai Sandù?
6- Pé de alface tem chulé?

(Esta era uma inocente brincadeira de tempos que lá se vão.)

A bem da verdade, o que era afiado em Machado de Assis era o seu humor que, para alguns, beirava o cinismo, e também era sinônimo de uma ironia, que andava em perfeita sintonia fina com a vida.

Para outros, o humor machadiano era a prova viva de uma inteligência sagaz.

Quem afiou sua mente para que ele conseguisse penetrar com tanta audácia e certeza nos meandros da psique e da alma alheia?

Quem afinou sua pena para que ele ousasse conversar com o leitor, chamando-o para o centro da roda narrativa, o que acaba por tornar leitor e autor cúmplices do que estava sendo narrado?

Quem afinou a lógica da escrita machadiana que, através de períodos curtos, diretos, alcançava o objetivo desejado, prendendo a atenção do leitor, sem deixar o texto tornar-se tedioso, a fim de que a leitura fosse o mais possível prazerosa.

Este afiado Machado de Assis era um implacável crítico da sociedade e do ser humano, sabia como “limar” as aparências, buscando revelar ao leitor os lugares secretos das ações humanas, as essências da vida, através da análise do mundo interior dos personagens.

A afiada ironia machadiana, na maioria das vezes marcada por pinceladas amargas e até mesmo beirando à crueldade, arranca feroz ou brandamente as máscaras que escondem os muitos jogos de interesse circulantes na sociedade, fazendo vir à tona uma descrença mostrada por um desespero quase velado, para que as nuances da alma humana fossem reveladas.

Preclaros leitores, de fato não sabemos quem afiou o Machado de Assis, mas, certamente, podemos afirmar que a sociedade da época e tudo mais que ela representava naquele “novo” mundo, por meio de suas descobertas e idéias revolucionárias, ajudaram a afiar este escritor genial e sua obra, por meio da qual ele se mostra um observador do mundo, de seus pares e de si mesmo, sendo ao mesmo tempo caça e caçador.

Machado de Assis

FIOS DA MESMA MEADA

FIOS DA MESMA MEADA       (Autoria: SÔNIA MOURA)

Sabendo-se que um texto nunca está pronto, concluído, para prosseguir fomentando a geração de outros textos, a efetivação do diálogo entre autor/leitor constitui um modo de diluírem-se as máscaras entre estes e entre a leitura e a escrita, quando tudo pode ser reformulado por meio da interlocução.

O texto escrito ou falado apresenta-se como uma forma de fazer artístico, construído pela língua, este instrumento de arte, que dá destaque ao caráter artístico-estético do texto como forma de ordenação do mundo, por meio da leitura, um dos elementos fundamentais para a construção do contexto sócio-cultural dos povos.

A base de nossa percepção do mundo dá – se pela palavra, oral ou escrita, é através dela que as representações culturais de um povo se perpetuam, se multiplicam, se modificam e não morrem, mas podem modificar-se, cedendo espaço ou lugar a novas formas de contar histórias.

As experiências individuais ou coletivas transmutadas em novas narrativas, reforçam conceitos, ideologias, denúncias, circulam de boca em boca, de texto em texto, consagram mitos e ritos, contaminam, ensinam, registram, agitam, metamorfoseiam – se em arte, uma das mais eloqüentes e inquietantes produções do homem, para transformar homens, idéias e ideais.

Deste modo, através de sua arte, o artista interfere, modifica ou (re)forma o meio em que vive, dá –lhe novos formatos, novas interpretações e significados, este é o principal sentido da obra de arte – sua intervenção no processo histórico social e na própria arte.

Então, é esta interação entre o autor e o leitor que irá permitir a educação para a percepção artística e a percepção de mundo, ao mesmo tempo que estimulará a exploração dos meandros da mente.

Ao ler um texto, manifestamo-nos, expressamo–nos pelos saberes incrustados em pedras culturais, pelas influências que permeiam o nosso ambiente e por normas ditadas em um determinado tempo, porque a arte desperta no indivíduo o seu próprio processo de sentir, de agilizar a mente, de ampliar a imaginação, rompendo limites impostos.

E, deste ato de rebeldia, a proposta do novo, pela conjunção da leitura de um texto e a interpretação que dele se faz, que se vale a criação textual, para fomentar a interação dialética entre literatura e sociedade, e do qual se vale o leitor para transformar ou criar mensagens, quando este faz leituras contextualizando-as com os vários mundos criados pela produção textual.

(Autoria: SÔNIA MOURA)

                                                       novelo de lã

O ESPETÁCULO DA PALAVRA

                                                                                PALAVRA

O ESPETÁCULO DA PALAVRA [Autoria: Sônia Moura]

A palavra texto provém do latim textum que significa tecido, entrelaçamento, portanto qualquer forma textual resulta de um trabalho de juntar partes, tecer, para formar um todo, e, por meio da repetição, da progressão, da não contradição e da relação, uma rede  será formada para manter a coesão e a coerência textuais.

A língua (escrita ou falada), seu sistema de signos convencionais e seus elementos  tecem nossas mensagens, dão suporte à dinâmica social, às relações diárias e às atividades intelectuais e  esta linha construtora de texto é a principal forma de linguagem simbólica usada pelo homem no ato da comunicação.

Ampliando-se o conceito do termo texto, vamos defini-lo como qualquer tipo de comunicação que se manifeste por meio de um sistema de signos,assim: arquitetura, música, pintura, escultura, são textos, por meio dos quais o ser humano manifesta sua capacidade comunicativa.

A representativa comunicacional da linguagem verbal manifesta-se através do discurso e, na rede de relações que promovem a tessitura textual, dois elementos se destacam: a coerência e a coesão textuais.

O discurso é a representação da língua escrita e da língua falada, as quais guardam entre si relações intrínsecas, sem, no entanto, anularem as especificidades de suas características .

A língua falada recorre especialmente a signos acústicos e extralingüísticos e a gestos (voz, expressão, ritmo, som realidade) para marcar o que quer comunicar e a sua informação é permeada de subjetividade e também pode sofrer a influência do interlocutor; já a língua escrita firma-se pela representação da permanência e do registro que faz da história, além de exigir mais correção na elaboração das frases, por meio do uso de letras e sinais de pontuação.

Enquanto a língua falada por sua natureza é a língua do imediato e o tempo deste discurso é igual ao tempo da ação, a língua escrita dá visibilidade à articulação entre os signos lingüísticos, podendo ser reordenada, reescrita ou modificada, antes de chegar a seu destinatário e, até mesmo depois, quando cada leitor, a seu modo, “reescreve” o texto original, pela forma interpretativa que a este o leitor atribui.

Por ser intencional, qualquer forma de discurso aponta um alvo, um objetivo específico, isto é, sempre há intenção no que se fala ou no que se escreve.

Assim, a adequação da língua escrita ou falada deverá apensar-se a fatores tais como  a intenção textual e a quem esta se destina, pois, é fundamental que o receptor possa processar claramente a informação recebida.

Neste ponto, a língua falada se privilegia, uma vez que, na maioria das vezes, o interlocutor poderá inquirir o seu parceiro de fala, para que lhe esclareça algum detalhe não decodificado pelo ouvinte/interlocutor.
Desta forma, diferentemente da língua falada, o rigor das normas se fará mais ostensivamente presente no texto escrito, e este deverá apresentar-se com maior precisão do uso das normas gramaticais adequadas, preservando-se a intenção do autor/emissor do texto escrito.

Por tratar-se de um registro da história do homem, contrapondo-se à língua falada e à sua efemeridade, a língua escrita não é uma transcrição da língua falada, que é mais livre, mais solta, por exemplo quando se pode abreviar palavras (está= tá), para abreviar o tempo.

A língua escrita é a que dá maior visibilidade e “concretude” à articulação entre os signos lingüísticos, mas, em qualquer situação, a língua escrita só será apreendida se houver o domínio prévio da língua falada.

Desta forma, ainda que as formas discursivas nos sejam apresentadas por seus modos diversificados de recursos, com a finalidade  efetivar a comunicação,  o resultado de suas mensagens só se tornarão  o mais claro possível, somente se houver troca na comunicação, pois, somente assim  o texto terá cumprido o seu papel primordial: comunicar pelo prazer, pela aprendizagem, pelo poder memorialístico que ele vier a apresentar ou pela informação, isto é,  quando cada tipo de texto cumprir, de fato, o papel que a ele for destinado, pois o principal valor de um texto está centrado no seu poder de comunicação.

(Trabalho apresentado por Sônia Moura, no Colóquio: O Espetáculo da Comunicação – UFF- 2005)