O LEITOR NO CÍRCULO DAS NARRATIVAS

 

 

LEITOR

 O Leitor no Círculo das Narrativas (Autoria: Sônia Moura

 

Muitas vezes, ao lermos uma notícia ou uma reportagem, em que verdades nos são apresentadas por meio da narrativa denominada factual, duvidamos do que lemos. Por que duvidamos do que é narrado como verdade absoluta, inquestionável, aqui entendida como real e por que a verdade do conto, do romance ou da novela, ligados à narrativa ficcional, em geral não nos causa estranheza?

Por exemplo, alguém põe em dúvida a história de amor entre Tristão e Isolda, ainda que existam inúmeras versões desta lenda celta?

Podemos responder a esta questão, seguindo pela trilha de Humberto Eco que em sua obra intitulada Sobre a Literatura, afirma: “… o universo do livro nos surge como um mundo aberto” ou podemos seguir pela trilha de Barthes que, em seu texto denominado Aula, diz :“a literatura é categoricamente realista”

Ao escrever sobre um fato, o literato ou o jornalista tiram-no do isolamento, da não significação, para colocá-lo em um contexto maior, no escopo da realidade social, no qual as impressões do imaginário fundem-se com a objetividade e a racionalidade do leitor, pois este, por estar solto e ao mesmo tempo preso dentro de um universo cultural, sendo constantemente alimentado por símbolos, precisa preencher lacunas, que este mesmo universo cultural cava para o homem.

E é esta tentativa de prender o real e o tempo e de afastarmos para bem longe as limitações do espaço e do tempo, atando-os com muitos nós à nossa história, que, por vezes, causam estranheza ao leitor que estiver preso dentro do círculo das narrativas, especialmente das narrativas chamadas factuais.

A narrativa jornalística, como produto cultural, narra fatos historicamente localizados, construindo e ressignificando a realidade social, ao falar sobre dramas e tragédias da vida com todos os recheios que habitam o imaginário e a memória cultural coletiva: medos, frustrações, desejos, sonhos, sentimentos, utopias, alegrias, batalhas, quase sempre ligados ao cotidiano, ao tempo presente, a um tempo aprisionado por um dia ou por mais alguns, dependendo do interesse que a notícia despertar, transformando-se assim no carro-chefe, que irá vender o jornal ou a revista.
Por outro lado, até um certo ponto da estrada narrativa, a escritura literária segue pelo mesmo caminho, busca a mesma trilha, porém por mostrar-se desvencilhada da questão temporal, toma o tempo em suas mãos, empresta-lhe novas cores, dando ao que narra sobre “qualquer tempo” o sabor de algo irresistível.Então, esta mudança de cores transforma o ontem no hoje, o hoje, no ontem ou no amanhã pela memória, pela lembrança ou pela história contada.

Assim sendo, sem livrarmos qualquer texto de seu caráter ideológico, diremos que ao leitor cabe a primazia do questionamento, da aceitação, da doxa e o da paradoxa sobre aquilo que lê, enquanto ao escritor cabe o papel de convencer, de atrair, de tornar desejo o que se lê, pela condução do prazer, do entretenimento, do contato com a realidade, com a fantasia ou como fomentador de pensares crítico- reflexivos.

LEITURA

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