Natureza

Sintam a paz que a natureza transmite.

Ouçam o que rumorejam as águas a deslizar entre arvoredos, compondo esse retrato de comunhão e vida.

Vale a pena ouvir, vale a pena sentir, vale a pena comungar.

Observem a árvore da frente, suas raízes se debruçam sobre a margem, e parecem mãos a brincar com a água, enquanto o verde, acompanhado pelos pássaros, repete a cantiga do vento. Ouçam, ouçam! eles estão nos convidando a participar desta sinfonia.

Aceitemos o convite da natureza, pois todos fazemos parte dela.

Ah!, mas isto é fantasia, dirão vocês, este é apenas um retrato, nada mais. Eu insisto: é só fechar os olhos, abrir a mente e a alma para poder participar da festa!

Competência

A solidão exige competência, assim falou Amyr Klink, o navegador solitário, à repórter do Estadão de Hoje.

Fiquei remoendo essa frase em minha cabeça: “A solidão exige competência”.

E que competência!, penso, enquanto caminho sozinha à beira mar, num domingo de sol maravilhoso na cidade mais bela do mundo – Rio de Janeiro. Caminho bem junto ao mar de Copacabana olhando, extasiada, toda essa beleza monumental, que os olhos nunca se cansam de ver.
Às vezes é impossível não se desejar ou sonhar com as coisas do amor e do romance, (ainda que digam os teóricos, serem o romance e o romantismo algo “inventado”). Nesse momento, a mim isso pouco importa, pois bom mesmo é, ainda que estejamos bem no olho da solidão, enquanto ela está de olho em nós, poder sonhar e desejar.

Na verdade, a solidão lembra um furacão, mas um furacão que não tem nada para desarrumar e, pior ainda, não tem ninguém que desarrume a vida da gente.

A solidão é um furacão diferente da paixão, pois este furacão mistura tudo, embola, mexe com cada grão de areia e, quando passa, muito pouco fica intacto e o que permanece intocável é amor ou transforma-se em amor. Este é o terreno mais fértil e seguro que existe. O amor, qualquer forma de amor, como diz o poeta: qualquer forma de amor e de amar, vale a pena!

“A solidão exige competência” Essa é a frase que não quer calar nesse domingo em que o sol voltou a assumir o seu lugar e fazer brilhar essa cidade maravilhosa.

Essa frase brilha em minha mente como um anúncio em néon, e pisca, e me chama e me comove, remetendo-me ao verso da canção que diz: “Mas eu preciso aprender a ser só!”.
É difícil, mas nesse tempo em que as competências são testadas, exigidas, propagadas e colocadas em primeiro plano, não custa nada tentar.
Se vamos conseguir?
Ah! Isso só o tempo dirá.

CURVAS

Niemeyer, 100 anos: solidariedade justifica passeio da vida

Todas as curvas do mundo lembram Niemeyer: as curvas das praias, das estradas e das montanhas do Rio de Janeiro [aliás, onde mais ele poderia ter nascido?], as curvas das praças e avenidas do mundo, as curvas de igrejas, de museus, de palácios, de escolas que ele projetou pelo mundo e para o mundo, enfim, todas as curvas lembram Niemeyer.
Suas palavras: “A gente tem que se basear em convicções muito firmes para agüentar essa luta que a vida representa para o ser humano”, também deslizam pelas curvas do amor. E sua palavra maior, que começa com uma letra curvilínea “S”, é que guarda todo o segredo da vida, para ele, a SOLIDARIEDADE é o maior de todos os tesouros: “A vida não é justa e o papel principal que justifica um pouco esse curto passeio é a solidariedade”.
Sim, todas as curvas do mundo lembram Niemeyer, principalmente as curvas do coração, as curvas de um coração que a tudo resiste, as curvas de um coração que bate há 100 anos dentro de uma alma que se alimenta de solidariedade.

Histórias de Amor

*Cisne ‘apaixonado’ por pedalinho vira atração na Alemanha

” Um cisne “apaixonado” por um pedalinho em forma de ave virou atração do zoológico da cidade de Muenster, no norte da Alemanha.”
“Há vários meses, o cisne negro passa os dias ao lado do pedalinho, que tem forma de um cisne branco e é bem maior que o companheiro. ”

*Gatinhos abandonados adotam coelha como mãe na Escócia

“Seis gatinhos abandonados na Escócia encontraram uma nova mãe em uma coelha de estimação (…) “…os gatinhos parecem ter gostado muito dela, pensando que era a mãe deles”, disse Humble à BBC.
“Eles estavam tentando mamar nela e subiam em cima dela. E Summer, a coelha, não se sentiu incomodada por eles em momento algum.”
“”

Como é simples o amor!

*Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/11/071119

A sutileza de uma imagem

A sutileza dessa imagem seduziu- me.
Esse é o arame mais macio que já vi.

Numa de suas garras uma gota pendura-se como a pedir socorro. Voltada para o céu, outra garra parece um soldado de plantão a defender seu território.

Virada para solo, outra garra, em posição de sentido, parece aguardar alguma ordem. De quem será?
Teias sutis se amparam nos braços do arame, é o reforço que protege a pequenina gota de orvalho (ou será a sobra de alguma chuvinha que já se foi?).
Olho essa imagem torcendo para que a suave gota fique presa ali, e desejo ardentemente que as garras do arame farpado e a teia de alguma aranha solidária a protejam e não deixem cair.
Mais uma vez, olho a imagem com tanta doçura que uma gota de mel escorre do meu olhar e beija a minha boca, pendurando-se em meu sorriso, docemente.

VERSÕES E SUBVERSÕES ARTÍSTICAS

Sendo a arte o repositório de informações culturais de uma época e o artista, aquele que trabalha a realidade, o sonho e a utopia, abordar a concepção artística, compreendida na definição do fenômeno trágico é, de certo modo, reafirmar que “a perda da Tragédia leva o homem à perda da fé e da crença na própria imortalidade”.
O artista em sua aventura visual, em suas viagens e descobertas pode (ou deve?), com sua obra de arte, arrastar o espectador e colocá-lo surpreendido com o seu destino, já que o homem de todos os tempos sente a necessidade do prazer estético, do olhar, da harmonia, do equilíbrio, do ritmo e da composição.
A obra de arte tem forma e obedece às leis da forma, pois ao elaborar a representação artística de pessoa ou de objeto, o artista sabe que sua obra estará sujeita ao material usado: madeira, ferro, tela ou pedra, ao contexto e as influências sócio-históricas, aos seus desejos e sonhos, os quais permeiam o fazer artístico, no entanto, o que garantirá a emoção e a sensação da obra de arte, será o ritmo visual e as relações estabelecidas no/e pelo olhar do espectador.
Para interpretar o antagonismo estético entre as forças Apolínicas e Dionisíacas, Nietzsche passa da metaforização estética à oposição psicológica (sonho, embriaguez), assim, a arte do homem torna-se um acontecimento cósmico, quando a tragédia dramatiza uma realidade muito forte e pela dramatização acontece a catarse, confirmando-se, então, a relação entre a arte e a vida.
A carência gera a necessidade, a Tragédia, a mudança e é pela sensação de recriação produzida por meio da Tragédia (produção artística) que o homem saboreia, participa do que é natural e ao mesmo tempo fictício, e é neste instante que acontece a condensação , a identificação com uma situação incômoda e que precisa ser expurgada. Neste embate entre a realidade e ficção, a Tragédia permite que da identificação, nasça o conflito e dele se origine o alívio, dando-se , assim, a catarse.
Deste modo, o processo criativo na sua invenção, um dos pontos primordiais em destaque no texto O Nascimento da Tragédia de Friedrich Nietzsche, mostra que a obra de arte, seu conjunto de imagens e as inesperadas associações podem criar múltiplos centros significativos, expandindo a função artística, para que o viés privilegiado do olhar se delicie com as versões e subversões artísticas.

A boneca

Todos diziam que Victória parecia uma boneca. A menina cresceu ouvindo frases assim: È mesmo uma bonequinha! Que graça, parece uma boneca! Nunca vi uma boneca mais linda!
Em casa era tratada por “minha bonequinha”. Victória cresceu acreditando nisto, também pudera!
Não se formou, porque era uma boneca. Coitadinha! Não se casou porque, nenhum homem conseguiu satisfazer os desejos da bonequinha. Coitadinha! Não viveu, porque era uma boneca. Coitadinha!
Um dia, a pobre bonequinha colocou seu vestidinho roxo, bem rodadinho, seu colar de contas amarelas, enfiou-se dentro de uma caixa enorme e lá se deixou ficar. Para sempre!
Coitadinha!

[Do livro CONTOS E CONTAS de Sônia Moura]

A história de Lourival


Vou-lhes contar a história
De um conhecido meu
Seu nome é Lourival

Estranha a situação
Do meu amigo Lourival
Não sabia se era do bem
Ou se amava o mal

Coitado do Lourival
Tudo o que lhe ensinado
Parecia a ele dizer
Que tudo do que ele gostava
Era pecado e não prazer, então,
O melhor era, “certas coisas”

Não fazer

Pobrezinho do Lourival
Vivia amuado lá no fundo do quintal
Foi minguando
Foi secando

Até desaparecer

Assim morreu Lourival
Não tão velho e
Nem tão moço
Não tão magro
Nem tão gordo
Não tão bom e
Nem tão mal

A alma de Lourival, dizem
Que hoje vaga por aí
Atormentando quem passa
Pelo fundo do quintal
Pois lá está a alma do Lourival
A perguntar a todo mundo:
Isto é bom ou isto é mal?

CAMINHÃO DE MUDANÇA

Antes da catástrofe financeira, o marido havia pensado em se separar, queria ficar livre para curtir a vida, agora era muito rico, queria conhecer muitas mulheres, ser dono do seu nariz. Viver.
Não tendo coragem para falar abertamente com a mulher sobre o seu desejo, escreveu uma carta, ainda assim faltou coragem para colocá-la no correio. Depois mando esta carta, pensou.
O empobrecimento repentino trouxe uma surpresa, descobriu que amava sua mulher, e que mulher! Ficou a seu lado, enquanto quase todos lhe viraram as costas, inclusive as “namoradinhas”, ninguém queria ficar ao lado de um derrotado. Ninguém, não, ela e alguns familiares ficaram.
A vida da família mudara bastante, eles também precisavam mudar-se para longe. Adeus praia, jóias, carro do ano, roupas de grife, viagens. Adeus.
Logo cedo, o caminhão de mudanças chegou, rapazes fortes iam pegando móveis, eletrodomésticos, caixas, pacotes, tudo. O desconsolo do casal era visível, as crianças ainda não entendiam muito bem o que estava acontecendo, mas foram avisados de que tudo iria mudar muito.
O caminhão seguia pela avenida principal e a família seguia logo atrás, no fusquinha que um primo dela emprestara. De repente, uma freada brusca. A porta do caminhão – baú se abriu, pacotes e caixas foram para o asfalto. Trânsito parado, confusão. O que houve? O que aconteceu?
O motorista, branco feito um fantasma, explicava que o motoqueiro surgira abruptamente, só tivera tempo de frear. O motoqueiro apalermado, levantou-se, por sorte não fora atingido.
– Meu Deus, protegei a minha família, rezou baixinho a mulher, pensando que este poderia ser mais um problema. E se perdessem algo importante? Todos começaram a juntar o que se espalhara pela rua. De repente, o menino mais novo gritou: – Pai, a caixa caiu no canal, vai afundar, paaaaii…..
Foi a mãe que correu para tentar salvar a caixa, mas não houve tempo. Enquanto a caixa ia afundando lentamente, eles ainda conseguiram ler a palavra que a identificava: ESCRITÓRIO.
Como um raio, veio à memória do homem – a carta! Estava tão escondida, até ele se esquecera dela. Agradeceu a Deus, a mulher começou a chorar, ele sorria e chorava.
O homem foi tomado por uma enorme onda de alegria, abraçou bem forte a mulher como se quisesse recuperar o tempo perdido, como se no abraço ela pudesse ouvir tanta coisa que precisava lhe dizer. Conseguiu, entre lágrimas e risos dizer: EU TE AMO, depois, disse sorrindo: não tem importância, meu amor, nada do que está ali faz mais sentido.
Ela achou que ele tivesse fazendo referência ao que acontecera com a firma.

MOURA, Sônia Maria S. Minimamente Crônicas. Rio de Janeiro: Madressilva Produções Culturais, 2006.

RETICÊNCIAS

RETICÊNCIAS

(Ao Valter, poeta de plantão e meu anjo da guarda)

Pode ser num jardim florido…
Pode ser atrás da pilastra, no pátio do colégio…
Pode ser só no sonho ou na fantasia…
que alguém se encontre no mundo para amar

Pode ter sido só por uma noite ou por um dia…
Pode ter sido só por uns momentos de alegria…
Pode ter sido só por necessidade de recomeçar…
Pode ter sido só uma tentativa de gostar…
que alguém tenha se encontrado para amar

Quem sabe um dia aquele encontro entrará noite adentro…
Quem sabe o pátio do colégio esteja no mesmo lugar…
Quem sabe numa escada rolante nosso olhar volte a se encontrar…
Quem sabe o tempo jogue um nos braços do outro…
e ninguém terá como do destino escapar

{… }

[Do livro  POEMÁGICAS de Sônia Moura]