ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

ONDE (NÃO) MORA A POESIA? (Autoria: Sônia Moura)

A poesia vive de suas canduras, franquezas e ilusões, se equilibrando entre o real e a fantasia, pois é retrato do mundo e reflexo da vida.
É pelos vieses das dimensões do real que a poesia transita e é por esta e outras razões que um só verso é capaz de abalar nosso mundo, nossos sonhos ou nossas verdades.
Poderosa arma transitando entre as fendas do paraíso sem abominar as labaredas do inferno, a poesia surge para preencher lacunas, provocar metamorfoses, aplacar dores, embalar amores, recusar a guerra, exaltar a paz, tudo isto a poesia faz.
A poesia existe para preencher vazios e ausências, tornando a dureza da vida mais leve, as decepções mais breves e as aspirações semibreves, enquanto o lirismo rege uma orquestra na qual a ausência de limites traça uma nova realidade cheia de encantamentos.
O ritmo da poesia alimenta a mística da palavra, variando sílabas tônicas e não tônicas, soando metrificação e correspondência sonora, mesmo quando se enquadre na categoria arrítmica, todo verso é música, que se apresenta numa pauta diferente, mas que embala e conforta.
Ainda que não seja obrigatória, a rima, mãe do ritmo e regente da melodia, é artimanha do autor, foram os trovadores que criaram este encantamento misturando o recitar e o cantar, somente para a plateia encantar.
Com a sua irrefutável acumulação imagística, a qual preenche o vazio de cada um em seus variados momentos de alegria ou de dor, a poesia é musa que leva o poetar ser uma aventura pelas vielas que esta musa cria e por elas nos guia, assim, uma vez que é senhora de generalidades, a poesia pode ser necessariamente incisiva ou mostrar-se muito generosa, e, em outros momentos, pode ser agressiva ou consoladora, tudo acontece de acordo com a sucessão de cada instante.
Assim, ler ou escrever um poema pode ser uma viagem Ulissiana ou um encontro com sereias, ou pode ser um embate com monstros marinhos ou uma conversa com anjos, tudo é viagem quando nos acomodamos nas asas da poesia, uma vez que esta se hospeda na transpiração e se alimenta de muita inspiração.

Mas onde mora a poesia?
Mora nos recônditos da ilusão, nos liames da palavra, na incerteza e na ilusão, no íntimo ou na superfície de mentes, de sonhos e da contemplação, mora também na doçura do olhar, na alegria do regresso ou na lágrima da partida, nas brincadeiras, nos jardins, na beleza do corpo ou da alma, na agitação ou na calma, enfim, a pergunta verdadeira é: – Onde não mora a poesia?

(Apresentação – Universidade Cândido Mendes – 2012)

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

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