EXÍLIO (por SÔNIA MOURA)
Paguei para imprimir o seu retrato, depois peguei um fósforo e me propus a queimar a sua imagem. Risquei o fósforo, o fogo começou a lamber deliciosamente o papel pelas beiradas. Quando as chamas estavam prestes a alcançar a sua imagem, apaguei o fogo com a mesma rapidez das chamas enlouquecidas. Endoideci, desisti e abafei a labareda, ao mesmo tempo que o fogo do amor me devorava.
O fogo insano e a paixão menina alimentavam o desejo sobre-humano, este cavalo bravo no qual só se pode cavalgar, segurando-o pela crina.
Dúvidas, dor e desencanto cavalgavam no prado verde da ilusão. Montada no indomável cavalo chamado Desejo, cavalgava a corajosa esperança, enquanto por estradas vicinais, a desesperança troteava em minha alma.
A foto já estropiada me olhava com a cara apaixonada e eu, iludida, a acreditar que tudo voltaria a ser como antes, num tempo de tanto amor. A um canto, a desilusão zombeteira a me provocar, a me mostrar que aquele amor estava vivo somente na fotografia e que daquele antigo amor nada mais existia.