A AMPULHETA E O ESCRITOR

 A AMPULHETA E O ESCRITOR

A AMPULHETA E O ESCRITOR (por SÔNIA MOURA)

O tempo da escrita é o tempo da magia. O escritor senta-se à mesa ou em qualquer canto, põe-se a trabalhar arduamente: lapida, encaixa, constrói, desconstrói, lima, lixa, funde, confunde, explica, provoca, apresenta, representa, pensa, sonha, realiza, duvida, acredita, fantasia.
Quem escreve embarca nas ondas do real e da fantasia, entra no mundo da castidade e da orgia, vivencia o mundo dos contrastes, da sanidade e da loucura, do amor e do ódio, das paixões e da solidão e, embora vivendo as alegrias e as dores do mundo de seus personagens, o escritor é um ser que precisa viver essa solidão acompanhada.
Escrever é criar um mundo próprio, mas que pertencerá a todos. Aquele que escreve precisa envolver-se com o ditames do saber e das ciências, sem se deixar por elas ser levado, porque quem cria precisa deixar o sentimento fluir, misturando-o com a emoção, por isto lhe é permitido sonhar, lhe é permitido viver entre o sonho e a fantasia.
A escrita é como a água de um manso riacho que, dependendo da tempestade criadora, pode transformar-se em um mar revolto, transbordando em palavras e em belas cachoeiras metafóricas, simbólicas, sinestésicas, figurativas.
Para os Simbolistas, escritor é ourives, mas ele vai além da ourivesaria, uma vez que todo escritor é pintor, ator, entalhador, marceneiro, bordador, cenógrafo, especialista em sons e em efeitos especiais, pois, o escrito precisa trabalhar a palavra, precisa moldá-la para dar conta de todas as peripécias de sua escrita, fazendo a imagem e o som serem paridos pela palavra escrita, que será lida.
Seja para falar de amor ou de dor, de um presente, de um passado e de um futuro fictício ou supostamente real, aquele que se propõe a escrever sobre a realidade criada ou revivida precisa buscar referências e torná-las evidências, transformando sua narrativa em ancoradouro e em comprovação do real (re)criado.
Então, a ampulheta e o escritor mostram o passar do tempo, no entanto, somente o segundo é capaz de dar novas feições ao tempo, de tirar-lhe a primazia detentora de inatingível.
O escritor consegue desbancar o tempo.

A AMPULHETA E O ESCRITOR

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