A TIARA DE PRATA

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Acima, uma foto da moça e abaixo uma placa em que se lia: “Esta tiara, confeccionada em ouro, prata e contas brilhantes, cingiu a cabeça de Sua Alteza Real – a princesa Leonora Scranvarid, presente de seu amado marido”.

Naquela noite, o príncipe Luciano Maldinovic roçou-lhe os lábios, doces como frutos da estação, beijou-lhe os olhos cor de mel, que brilhavam intensamente como um sol, acariciou-lhe os seios redondos e firmes. Fizeram amor. Olhou- a mais uma vez, colocou a tiara sobre seus cabelos e ambos sorveram o delicioso vinho que Ramiro Ostrega Olmys, eterno apaixonado, presenteara os noivos.

 Na manhã seguinte, no quarto real, os dois, embora mortos, exalavam vida por todo o aposento.

(Esta informação não estava na placa).

(Do livro CONTOS E CONTAS, de SÔNIA MOURA)

AMOR (mais que) PERFEITO

Leiam essa notícia e sintam no ar o cheiro do amor de mãos dadas com a esperança.

 

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Recém-casados mais idosos do mundo viajam pela Irlanda

 

Dublin, 14 fev (EFE) – Os dois somam 177 anos, o que lhes torna os recém-casados mais idosos do mundo, e querem comemorar hoje o Dia de São Valentim com uma cerimônia religiosa na localidade irlandesa de Killarney.

Peggy e James Mason, de 84 e 93 anos respectivamente, se casaram no civil no dia 19 de novembro na Inglaterra após um rápido namoro e, pouco depois, começaram a percorrer as estradas de Reino Unido e Irlanda em sua lua-de-mel particular.

Agora fizeram uma pausa na viagem para descansar e festejar a data tão conhecida do patrono dos apaixonados.

“Sentimos uma absoluta devoção um pelo outro, pode-se encontrar o amor em qualquer idade. Olhei para esses olhos azuis e para esse sorriso radiante e foi amor à primeira vista”, disse James ao jornal “Irish Independent”.

Qui, 14 Fev, 05h13 [ http://br.noticias.yahoo.com]

CENAS DE UM CASAMENTO

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Enlaçando o social, o econômico e o religioso, um dos mais conhecidos rituais- o casamento –  é a representação do novo e do velho no ciclo repetitivo da vida e das condições superficiais e também profundas das relações familiares.

Para dar a impressão análoga da vivência participativa da vida familiar, através de configurações significativas presentes em qualquer ritual, os elementos colocados em cena –personagens (noivos, padrinhos, convidados, sacerdote), música, figurinos, risos, lágrimas, flores, igreja e fé- nos transportam para a simbolização emocional, exprimindo alegria, ansiedade, medo, dúvida, desejo, razão, moral e tradição, símbolos desse rito de passagem.

Por sua dinâmica imagística, a representação desse jogo social se manifesta em expressões, que se mostram ou se escondem,  para, como num espelho,  mostrarem o reflexo do que vai nas mentes prenhes de emoções, ainda que estas estejam em desalinho. Personagens são colocados lado a lado, assim, a distribuição espacial representa as estreitezas sociais, conceitos e preconceitos que se esbarram no palco da vida, a todo momento.

Tudo no cenário de um casamento aponta para as marcas das velhas- novas relações matrimonias, o que irá se reprisar em cada nova cerimônia, em cada novo casamento.

O espaço temático é estimulado pelo embate entre o branco (vestido da noiva), o negro (o terno do noivo) e o colorido do vestuário de padrinhos e convidados, pois a mistura de cores ratifica a intensidade dos desejos que parecem mover-se também em campos estreitos, limitados, porém muito bem determinados, ratificando os papéis sociais estabelecidos, a partir do “unidos para sempre”.

Quando todos os olhares se voltam para a noiva, é a imagem dela que traz à tona esperanças, desejos, seduções, dessa forma, um especial universo dos sonhos  se sobressai, marcado pela prevalência das vozes e pela presença em destaque da noiva e de outras personagens femininas em cena.

Nessa cerimônia, símbolo de candura e pureza, a cor branca camufla a sensualidade e a sexualidade, que estarão escondidas nas fendas das falas do reverendo, nos gestos contidos da platéia, na entrega da filha ao noivo, feita pelo pai ou no modo como o marido levanta o véu para dar “o primeiro beijo” em sua mulher, logo após, “unidos para sempre”.

Adentrando igrejas, corações e mentes, o ritual do casamento perpetua-se figurativamente como imagem de possíveis realizações, enquanto a sutileza da fantasia dissimula os laços e os nós das relações familiares que existem e as que estão por vir, para que possamos visitar ou revisitar, a magia de nossas vidas, de nossas ilusões, de nossos sentimentos e desejos.

Non, Je me regrette rien/ Je me fous du passe”

   Piaf

 

 Na 4a. Feira de Cinzas (alguém ainda se lembra dessa nomenclatura?), fui ao cinema,  assistir “La Môme” ou “Piaf – Um Hino ao Amor” , filme que reproduz a vida triste, louca, linda e conturbada de uma das mais belas vozes do século XX – a vida da cantora Edith Piaf (1915-1963), brilhantemente interpretada pela francesa  Marion Cotillard.

Tudo arrepia.

A história de Edith comove a tal ponto que, até mesmo a mais insensível criatura não conseguirá ficar  indiferente.

Na infância, a menina Edith foi abandonada pela mãe, que, como sonhava ser cantora, foi à luta, deixando a frágil menina entregue a própria sorte. Por sua vez, o pai, um artista circense, também pouco responsável, deixa-a aos cuidados da avó paterna, num prostíbulo, e vai para a guerra e ao retornar, ambos, pai e filha vão se apresentar nas ruas de Paris, como artistas mambembes. A mãe e o pai vivem vidas loucas, livres e soltas. Edith seguirá por estas sendas.

Um empresário a descobre, ela alcança sucesso e depois tudo está perdido, até a próxima cena (no cinema e na vida), quando é resgatada do fundo do poço para a arte e por um amor avassalador que irá fazê-la feliz, como nunca, por algum tempo. O tempo deu e o tempo tirou-  Marcel morre num desastre aéreo.

Assim segue a incrível vida desta incomparável artista, no vai e vem inconstante do mundo.

Hoje na miséria, amanhã no apogeu, e vice e versa. Ama, perde, ganha, chora, ri!

Edith vive a eterna solidão que acompanha os que foram rejeitados e abandonados na infância. Não tem jeito, quem tem uma infância de desamor e abandono, morre lentamente e sempre estará preso às garras da solidão.
Por isso é difícil para quem não viveu esta dor, entender Piaf, sempre em busca do amor, em busca de ser amada e de amar.

Alguns críticos disseram que o filme peca pelo excesso de vai e vem na narrativa. Ora, senhores, não entenderam que a narrativa estava seguindo o ritmo da vida narrada?

“La Môme” ou “Piaf – Um Hino ao Amor” me fez chorar e penetrar no mundo das paixões e das dores reclusas, num mundo do amor que é ceifado desde cedo desse pássaro em forma de mulher.

Confesso, quando as luzes se acenderam ao final da projeção de “La Môme”, meus olhos estavam marejados, já que as lágrimas rolaram abundantemente ao som de canções como “La Vie en Rose”, “Non, Je ne Regrette Rien”, “Padam Padam”, “L’Hymne à l’amour” e, convenhamos, a história dessa artista já dá para encher baldes de lágrimas.

Embora esses versos de um dos maiores sucessos de Edith digam: Non. Je me regrette rien/ Je me fous du passe” (“Não me lamento de nada/ Eu me lixo para o passado”), creiam-me, isto fica bem só nos versos das canções, uma vez que isso é apenas catarse, nada mais!

Bolhas da Saudade

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A colher de pau era mexida para lá e para cá e ia misturando o fubá, o leite e o açúcar, no preparo do alimento, enquanto isso, as lembranças se remexiam dentro do cérebro e, na mesma proporção em que os ingredientes iam-se misturando, a vida era repassada dentro de outra panela.

Precisava acrescentar erva doce e mais um pouco de leite à mistura, então, bateu a colher de pau na borda da panela, e, nesse momento, bateu uma saudade imensa dos tempos de outrora, quando, no colégio interno, pela manhã, era servido um gostoso mingau, que era mesmo divino.

Lembrou-se especialmente da vovó Donana, uma senhora baixinha, muito amorosa e que gostava dela, especialmente dela, hoje sabe que era a protegida da vovó. Sempre que possível ficava a seu lado ajudando-a a servir os pratos e vovó tinha uma mania, a cada prato servido, batia com a colher ou a concha na borda da imensa panela na qual era feita comida para as cinqüenta meninas do orfanato.

Naquela época a inocência era aliada da alegria e uma das maiores diversões para aquelas crianças que também quase nada tinham, era soprar a “casquinha do mingau” que se formava por cima do creme. Soprava-se e surgiam bolhas de todos os tamanhos. Quando não se formavam os buracos naturalmente na superfície, fazia-se um furinho sobre a crosta, para que o ar penetrasse e aí começava a brincadeira.

Em suas lembranças, aquela mesa comprida, cheia de meninas carentes, mas que disso não sabiam, não era a imagem da tristeza, pois agora, adulta, sabe que criança é feliz com muito pouco e fazer bolhas na crosta do mingau de fubá, que mais pareciam contas amarelas estufadas sobre o mingau, era pura alegria e diversão.

Sentou-se, abraçou-se com suas lembranças, espantou a solidão e, de novo, se viu naquela mesa a fazer bolhas de mingau, alegremente.

Um largo sorriso invadiu seu coração.

(Do livro CONTOS E CONTAS de Sônia Moura)

Os Homens e os Cães

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A autoria da máxima: “Quanto mais conheço os homens, mais admiro os cães” é atribuída a Rui Barbosa, Pablo Picasso e a outros mais.
Mas, seja lá quem for que tenha dito ou escrito este axioma primeiramente, convenhamos, merece aplausos, pois, em determinados momentos, é isso mesmo que pensamos sobre certas pessoas.
Quanto aos cães, não se preocupem, esses sempre serão admirados, salvo quando um deles, humanamente, nos ataca de forma animal.

DENTRO DAS CAVERNAS de Platão e de Saramago

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Relendo A CAVERNA de Saramago, e relembrando A CAVERNA de Platão, constato que o mundo mudou muito e também nada mudou. Parodoxal? Vejamos:

A alegoria da caverna, apresentada por Platão [A República – livro VII] é uma poderosa metáfora que busca descrever a posição do homem em relação aos estados de inconsciência criados pela incapacidade de este distinguir o que é apenas aparência do que é realidade. Para o filósofo, todos nós estamos condenados a ver sombras à nossa frente e tomá- las como verdadeiras.

É através do diálogo entre Sócrates e Glauco que Platão descreve em A República (livro VII) uma caverna onde pessoas estão acorrentadas nos pés, com o pescoço também acorrentado e imobilizado, obrigando-as a olharem sempre para frente. Presas a um banco; sentadas em frente a um a parede, as pessoas têm, atrás delas, uma fogueira que projeta imagens de passantes que carregam estatuetas sobre suas cabeças, assim, os prisioneiros só conseguem enxergar o tremular das sombras daqueles objetos. Portanto, o mundo, para estas pessoas, é feito de imagens, somente, imagens.

Em A Caverna, José Saramago narra a história de Cipriano Algor e de sua família, no início da narrativa assim constituída: Cipriano, a filha Marta Isasca (sobrenome/apelido herdado da mãe já falecida) e Marçal Gacho, o genro. Depois, chegam à família o cão Achado (quase humano) e a Isaura Estudiosa.

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Ladies and gentlemen …

Acabo de ler a seguinte notícia: “Goulart foi morto a pedido do Brasil, diz ex-agente uruguaio”(…) e o texto prossegue: “Barreiro, que está preso desde 2003 na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (RS), deu detalhes da operação Escorpião, que teria sido acompanhada e financiada pela CIA (agência de inteligência americana) para matar Jango.”
Ainda que, minimamente, a pessoa conheça a história do Brasil durante o período ditatorial e conheça também um pouquinho da história do país financiador deste assassinato, segundo declarações do “ex-agente do serviço de inteligência do governo uruguaio Mario Neira Barreiro, 54”, fica no ar a pergunta: Haverá alguma razão para se duvidar das declarações do ex-agente?

A Vida e a Arte

Pai e filha

A vida e a arte

Leiam este artigo: “Empregada descobre que patrão era o pai desaparecido e comprovem que nem sempre o ficcionista “inventa”, como geralmente se supõe, mas, certamente ele aproveita o que a vida tem de melhor ou de pior, para recriar. Recolhe os dados, rearruma os fatos, põe alguns adereços na história, subtrai, acrescenta e, por que não? inventa e devolve a todos o que já existe no mundo.