AS MARCAS e a CULTURA

AS MARCAS e a CULTURA

AS MARCAS e a CULTURA (Autoria: Sônia Moura)

Atualmente, com raras exceções, vemos pessoas “iguais” na forma de vestir-se, todos (ou quase todos) seguindo o mesmo padrão, isto nos mostra que uma das marcas de identidade dos povos – a vestimenta – está cada vez mais sendo descaracterizada.
Este apagamento cultural, por meio de um único jeito de vestir-se, por exemplo: jeans e t-shirt – é o reflexo de uma das formas de aculturação, quando somos exibidos como um exército de “seres iguais”, dentro de classes socioeconômicas tão desiguais, desigualdades que só se tornarão visíveis, pela ostentação de uma marca famosa, original (ou não).
Sem dúvida, esta necessidade de adquirir marcas renomadas nasce pelas mãos do desejo de pertencimento, de identificar-se com o seu grupo ou pela induzida vontade de ter, o grande perigo é que o ter geralmente passa a se sobrepor ao ser.
Possuir algum objeto de grife leva, ilusoriamente, aquele que a obtém a julgar-se especial, por poder usar uma marca celebrada, quando, na verdade, a imagem deste estará diluída no emaranhado da floresta dos outros consumidores, que exibem os mesmos produtos e/ou marcas.
Então, cada um será apenas mais um no meio da soldadesca que caminha automaticamente dentro de um shopping, sendo parte de uma imagem congelada, saída de máquinas também automáticas, que vomitam fotos multicoloridas, como nossas ilusões, mas, na verdade estas são apenas sombras do que verdadeiramente somos.
O que vemos nas vitrines é o que nos seduz, é também o que julgamos que nos fará sedutores, e por este jogo nos transformamos em eternos adolescentes deslumbrados com uma imagem que julgamos ser única, mas que, no fundo, há apenas um desejo: que seja igual a imagem de todos.
Dentro da caverna-shopping ou da caverna-tela (televisão, computador) começa a confecção da ilusão de pertencimento, afastando o ser do ter, por meio de mensagens sedutoras nos fazem acreditar no mundo das sombras, o que serve para sombrear as imagens das nossas vidas reais, e nós, iludidos por manipuladores mágicos, lemos as mensagens sobre o que vestir, o que calçar, o que falar, o que comprar, como se lêssemos um livro, sem refletirmos sobre o que ele narra.
No entanto, para a maioria, consumir aquilo que manda o figurino, resulta em contas bancárias vazias e dívidas rolando “escada acima”, assim sendo, a marca famosa daquela bolsa pode esvaziar a bolsa (e o bolso) de quem a adquire, e, enquanto a marca da bolsa é sinônimo de poder, as marcas de preocupação aparecem, quando muitos se perguntam: – E agora, como pagar a conta?
Assim é que o apagamento de identidades é vendido como “estilo de vida”, as grifes do momento mais badaladas “valem quanto pesam em cada bolso”, e como pesam!
UCM – 2011

AS MARCAS e a CULTURA

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

ONDE (NÃO) MORA A POESIA? (Autoria: Sônia Moura)

A poesia vive de suas canduras, franquezas e ilusões, se equilibrando entre o real e a fantasia, pois é retrato do mundo e reflexo da vida.
É pelos vieses das dimensões do real que a poesia transita e é por esta e outras razões que um só verso é capaz de abalar nosso mundo, nossos sonhos ou nossas verdades.
Poderosa arma transitando entre as fendas do paraíso sem abominar as labaredas do inferno, a poesia surge para preencher lacunas, provocar metamorfoses, aplacar dores, embalar amores, recusar a guerra, exaltar a paz, tudo isto a poesia faz.
A poesia existe para preencher vazios e ausências, tornando a dureza da vida mais leve, as decepções mais breves e as aspirações semibreves, enquanto o lirismo rege uma orquestra na qual a ausência de limites traça uma nova realidade cheia de encantamentos.
O ritmo da poesia alimenta a mística da palavra, variando sílabas tônicas e não tônicas, soando metrificação e correspondência sonora, mesmo quando se enquadre na categoria arrítmica, todo verso é música, que se apresenta numa pauta diferente, mas que embala e conforta.
Ainda que não seja obrigatória, a rima, mãe do ritmo e regente da melodia, é artimanha do autor, foram os trovadores que criaram este encantamento misturando o recitar e o cantar, somente para a plateia encantar.
Com a sua irrefutável acumulação imagística, a qual preenche o vazio de cada um em seus variados momentos de alegria ou de dor, a poesia é musa que leva o poetar ser uma aventura pelas vielas que esta musa cria e por elas nos guia, assim, uma vez que é senhora de generalidades, a poesia pode ser necessariamente incisiva ou mostrar-se muito generosa, e, em outros momentos, pode ser agressiva ou consoladora, tudo acontece de acordo com a sucessão de cada instante.
Assim, ler ou escrever um poema pode ser uma viagem Ulissiana ou um encontro com sereias, ou pode ser um embate com monstros marinhos ou uma conversa com anjos, tudo é viagem quando nos acomodamos nas asas da poesia, uma vez que esta se hospeda na transpiração e se alimenta de muita inspiração.

Mas onde mora a poesia?
Mora nos recônditos da ilusão, nos liames da palavra, na incerteza e na ilusão, no íntimo ou na superfície de mentes, de sonhos e da contemplação, mora também na doçura do olhar, na alegria do regresso ou na lágrima da partida, nas brincadeiras, nos jardins, na beleza do corpo ou da alma, na agitação ou na calma, enfim, a pergunta verdadeira é: – Onde não mora a poesia?

(Apresentação – Universidade Cândido Mendes – 2012)

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

FACE OCULTA

FACE OCULTA

A FACE OCULTA (por Sônia Moura)

Na roda da vida, há linhas e estradas, estas são forças que se apresentam a nós e nos convidam a seguir por elas.
Embora aparentemente embaralhadas, há nelas uma ordem e movimentos misteriosos que permitem a ida e, na maioria das vezes, o regresso do indivíduo.
Esta ordem louca dentro da desordem, este labirinto invisível, trânsito entre muitos planos, converte-se em espaços expressivos fabulosos, os quais compõem as histórias de nossas vidas.
Luzes anônimas apontam caminhos, por vezes, seu brilho é tão intenso que quase nos cegam, no entanto, insistimos em segui-las, este é o jogo do destino a brincar com nossa ilusão, aproximando-nos e nos afastando realidades ou de fantasias, fazendo-nos crer que o dominamos.
Ao trafegarmos por estes caminhos, vozes misteriosas nos conduzem (ou nos induzem) a passagens secretas ou a palcos com cortinas escancaradas e, de repente, dependendo do trilha seguida, nos vemos em total solidão ou somos postos ante uma plateia a exigir de nós luzes, cores, sombras, falas e representações, papéis que nem sempre estamos preparados para desempenhar, mas é simples assim: ainda que pensemos que somos nós os condutores do nosso veículo terreno, nosso destino é conduzido à revelia de nossos desejos, pois, no trajeto da vida, nossa vontade será posta em total nudez.
Palavras, imagens, verdades e mentiras se juntam para confundir ainda mais os nossos pensamentos, é como se fosse um jogo de espelhos por meio dos qual nossa vida se revela em dimensões diversas, a fim de que façamos reconhecimentos ou descobertas, diante das quais nos atrapalhamos, e assim, ficamos presos na armadilha do destino e desta não há como fugir.
A bem da verdade, estamos sempre a renascer em múltiplas metamorfoses reveladas lentamente ao longo da vida, e, ainda que tudo esteja fora do lugar, ainda que as ambiguidades do destino tracem caminhos paralelos, indubitavelmente, chegaremos ao ponto final.
Assim sendo, desde sempre, somos entregues nas mãos das Moiras que manipulam a Roda da Fortuna, tecendo nossos destinos, fazendo reaparecer no palco da vida sempre novos espetáculos com a mesmas feições, refletindo apenas a imagem fundamental da vida: a face oculta da solidão do ser.

(Universidade Cândido Mendes – 2011)

FACE OCULTA

O POETA, A PALAVRA E A POESIA

O POETA, A PALAVRA E A POESIA

O POETA, A PALAVRA E A POESIA  (Autoria: Sônia Moura)

Afastada do teor contextual, a palavra estará condenada ao isolamento? A resposta a esta pergunta dependerá do que se consagra como isolamento, seria o isolamento intelectual? Afetivo? Conceitual? Funcional? Verbal? Extraverbal? Ou seria apenas o falso isolamento da realidade o que nos confunde?

Ao transportar imagens para o poema, através de palavras reinventadas e transformadas por forças sugestivas e pelo poder enigmático das estripulias analógicas, em forma de metáforas, o poeta nos apresenta textos, trabalhados com palavras nascidas do solo fértil da criação e da devoção do fazer poético, comprovando que a mágica do poema está especialmente no simples desdobramento significativo das palavras.

Em cada poema, a transposição de sentidos gerada por efeitos especiais, denominados efeitos estilísticos, é o resultado do esquema montado pelo poeta para que a realidade seja representada por meio de tropos e figuras, dando ao poema a roupagem necessária para que nasça o equilíbrio dialógico, eliminando, assim, a impossibilidade da não-comunicação.

Para o poeta, a palavra é a curva e a bifurcação de caminhos imprecisos e imprevisíveis que ele precisa domar, para reinventar o real tão aprisionado em definições, regras, grilhões. Ao escolher o caminho a seguir, ele busca domar a palavra, para extrair de suas entranhas o sumo preciso do dizer o que se quer, e esta é uma luta constante do poeta com a palavra, porque é difícil torná-la apenas escrava, pois assim como ele que é rei e deus, ela também é rainha e é deusa.

Então , no palco da escrita, o poeta e a palavra estarão sempre a revezar seus papéis, ora ele é o senhor e ela é serva, em outra cena, ele é o servo e ela é sua majestosa senhora, e neste vai-e-vem teatral, ambos se completam e fazem nascer a poesia.

“Não divorcie
A palavra do poeta
É heresia
Por favor, não mate
A poesia.”

O POETA, A PALAVRA E A POESIA

SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte III

SÍMBOLOS - IMAGENS PRIVILEGIADAS - parte III

SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte III
[por SÔNIA MOURA]

Por sua habilidade e poder de ressonância e por ser assistemático, o símbolo transforma o particular em geral, o único em muitos, por isto tem a capacidade de evocar o ausente, o que dá ao pensamento simbólico poderes para, através do imaginário, articular manipulações fictícias ou mentais, fundir símbolo e coisa simbolizada, assim, por detrás do imaginário, acontece a ordenação de fatos como os sonhos, a magia, o delírio e das imagens poéticas, levando a homem a viajar no tempo.
Assim é que por sua constância e relatividade, por seu poder de aproximação e interpenetração, por se achar pleno de realidades concretas não totalmente esclarecidas e por sua estrutura não estática, inscreve-se numa certa lógica, mesmo não sendo um simples argumento.
Marcada pela constância e pela relatividade – características fundamentais do símbolo – a sustentação da lógica simbólica estará garantida pelo engendramento do que existe no interior do símbolo, os elos e as conexões, os quais permitem a comunicação entre os símbolos, levando o pensamento simbólico a revelar uma tendência que também é encontrada no pensamento científico e racional – a tendência das relações.
Como nasce do inconsciente, elemento criador do homem e do seu meio, apresentando-se pela síntese do contrário, o símbolo traduz uma relação intrínseca entre o simbolizador e a coisa simbolizada, instigando a imaginação, então, diferente do que é meramente científico e racional, esquiva-se de se mostrar como uma simples demonstração.
A lógica conceitual e a análise intelectual rodopiam em torno da imagem simbólica que é central, pondo o psiquismo em movimento, uma vez que a linguagem simbólica instiga a associação de dois termos: um aparentemente apreensível e o outro que escapa à apreensão.
Deste modo confirma-se que para a linguagem simbólica não existe o tempo perdido, pois a função mediadora do símbolo junta-se à função unificadora e juntas reúnem fatos e histórias e atam o homem ao mundo, pela memória emotiva, preservando e religando o tempo, o espaço e o homem e, desta forma, renova e refaz o que poderia desaparecer, perpetuando assim todo o mistério da vida.

(Apresentado por Sônia Moura – UFF)

SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte II

 SÍMBOLOS - IMAGENS PRIVILEGIADAS - parte II

SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte II
[por SÔNIA MOURA]

Uma das funções primordiais do símbolo é ajudar o homem a decifrar o indefinido, o incompreensível, embora fortemente sentido, sem, no entanto, arrancar por completo o véu, pois, se o termo oculto revelar-se por completo, o símbolo perecerá.
Por ser a representação de imagens pinçadas do mundo real, concreto, o símbolo traz em si a sintetização das influências do consciente e do inconsciente e, longe de ser mera expressão linguística, por seu caráter dinâmico, sensível e afetivo, este usa a palavra, não para falar das coisas, mas para representá-las.
Unindo o visível e o invisível, o compreensível e o compreensível, o símbolo rompe com esquemas e conceitos pré-estabelecidos, transporta-se para além da razão, todavia, sua polaridade não exclui analogias e aproximações, como é o caso das grandes imagens arquetípicas que unem povos e culturas diferentes em torno de um símbolo.
Atuando em várias dimensões, o símbolo pode aparentemente separar, por suas diversas significações e interpretações, porém une ideias e pensamentos, quando uma ou mais comunidades se reconhecem, se encontram e identificam emoções pela força das expressões e representações simbólicas.
Segundo Paul Ricouer, com base dupla na sua construção e por sua tendência dual, o símbolo encontra-se “em duas dimensões, em dois universos:um de ordem linguística e outro de ordem não lingüista. (Ricouer, Paul. Teoria da Interpretação, 1987 p. 65).
Sem aprisiona-lo, a ordem linguística pode atribuir-lhe sentidos ou significações, mas sua marca está na dimensão não linguística, pela associação: imagens, ato ou fato à coisa simbolizada.
Caleidoscópio de incontáveis significações, os símbolos registram os aspectos emotivos da linguagem, revelando os poderes mágicos das palavra, as quais servem de referências para nomear as coisas simbolizadas. No entanto, é o símbolo que acaba por dominar o seu referencial.
As palavras apenas conseguem sugerir sentido ou sentidos para o símbolos, sem conseguir expressar-lhe todo o valor, pois este rompe com o estabelecido, reunindo os extremos numa só visão: mostrar e esconder, esclarecer e dissimular.
Os símbolos não se deixam levar, eles se impõem e têm suas próprias leis, assim, traduzindo o pensamento, quando governados pela realidade, tornam-se objetivos e racionais ao passarem pelo campo da semântica e, ao passarem pelo campo não semântico, enveredam pelo campo das emoções, dos prazeres, pelo que é subjetivo.

(Apresentado por Sônia Moura – UFF)

SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte I

 SÍMBOLOS - IMAGENS PRIVILEGIADAS

SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte I

A definição do que é um símbolo prende-se à definição de mistério. Onde há mais mistérios senão naquilo que é visível e invisível, tocável e intocável, velador e revelador, uno e múltiplo? Assim é que o multifacetado símbolo projeta-se num feixe atado que lhe dá unidade, universalidade, e, ao mesmo tempo, “individualidade”, tornando impossível desamarrar-se este feixe sem prejuízos imediatos e irreparáveis.
Uma vez que não se consegue aprisionar um símbolo ou impingir-lhe tradição, desestruturando qualquer sistema montado, este amolda-se, modifica-se ou perpetua-se, pois se firma pelo que não se vê e sim pelo que se sente.
Etimologicamente, o vocábulo símbolo, oriundo do grego, significa: juntar, reunir, confirmando o que está na origem desta palavra – símbolo é o objeto dividido em dois.
Na Grécia antiga symbolon (sinal de reconhecimento) representava, por exemplo, o objeto por meio do qual mais tarde os pais podiam reconhecer os respectivos filhos de quem se afastaram; também era a senha que os juízes atenienses recebiam ao entrarem no tribunal e contra a qual recebiam os soldados, o símbolo também era a senha entregue aos que assistiam às assembleias do povo.
Podia ser, ainda, uma espécie de passaporte ou licença de permanência para os estrangeiros que transitavam por uma povoação. Símbolo era, também, contribuição, sinal de convenção, palavra de ordem, ou seja, era tudo o que servia para reconhecer alguém ou alguma coisa.
Antes do uso da fala, o homem já utilizava símbolos, por exemplo, pintando composições figurativas nas paredes das cavernas, depois foram adotados novos signos: linguísticos, matemáticos, gráficos e outros mais, que, de um modo ou de outro, dirigem e organizam o pensamento, registram acontecimentos e comunicam fatos, ajudam o raciocínio e consolidam idéias e, como formas de linguagem, organizam o nosso viver.
Assim como outros símbolos, a língua (falada e/ou escrita) está ligada essencialmente à emoção, e, apesar de também fazer parte da estrutura mantenedora do sistema simbólico, só terá vida utilitária, se unir palavras e idéias, pensamento abstrato e pensamento verbal, que deverão ser pares solidários.
Por este motivo, às palavras são atribuídos poderes mágicos capazes de servirem como instrumentos de controle ou como força mais conservadora dos feitos da humanidade; aos signos numéricos são atribuídas peculiaridades abstratas, que, na prática, servirão ao concreto; aos símbolos oníricos são atribuídos fatores desiderativos (em simbologia direta, indireta ou mista); às representações artístico-visuais (desenhos, pinturas, retratos, esculturas) é atribuído o poder das perpetuações da imagem pela reprodução.
Os símbolos são cicatrizes que traduzem sobremaneira a essência neles guardada, por trazerem as marcas daquilo que representam e, também, são considerados expressões racionais e irracionais, concomitantemente.
Usados pelo homem para auxiliar o processo de pensar e registrar suas realizações ou frustrações, os símbolos povoam nossas vidas desempenhando função representativa, portanto, o grande valor deste será determinado pela apreensão da relação que se quer mostrar entre o símbolo e a coisa simbolizada.

(Apresentado por Sônia Moura – UFF)

SÍMBOLOS - IMAGENS PRIVILEGIADAS

 

SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS- I

 SÍMBOLOS - IMAGENS PRIVILEGIADAS- I

SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS- I  (por Sônia Moura)

A definição do que é um símbolo prende-se à definição de mistério. Onde há mais mistérios senão naquilo que é visível e invisível, tocável e intocável, velador e revelador, uno e múltiplo?

Multifacetado, o símbolo projeta-se num feixe atado que lhe dá unidade, universalidade, individualidade, tornando impossível desamarrar-se este feixe sem prejuízos imediatos e irreparáveis.

Uma vez que não se consegue aprisionar um símbolo ou impingir-lhe tradição, desestruturando qualquer sistema montado, o símbolo amolda-se, modifica-se ou perpetua-se, pois ele se firma pelo que não se vê e sim pelo que se sente, por isto, antes do uso da fala, o homem já se utilizava dos símbolos, pintando composições figurativas nas paredes das cavernas.

Depois foram adotados outros signos: linguísticos, matemáticos, gráficos e outros mais, que, de um modo ou de outro, dirigem e organizam o pensamento, registram acontecimentos, comunicam fatos, ajudam o raciocínio, consolidam idéias, fatos e organizam o nosso viver.

Etimologicamente, o vocábulo símbolo, oriundo do grego, significa: juntar, reunir, confirmando o que está na origem desta palavra – símbolo é o objeto dividido em dois. Já na Grécia antiga symbolon (sinal de reconhecimento) representava, por exemplo, o objeto por meio do qual mais tarde os pais podiam reconhecer os respectivos filhos de quem se afastaram, também era a senha que os juízes atenienses recebiam ao entrarem no tribunal e contra a qual recebiam os soldados, o símbolo também era a senha entregue aos que assistiam às assembleias do povo.

Podia ser, ainda, uma espécie de passaporte ou licença de permanência para os estrangeiros que transitavam por uma povoação. Símbolo era, também, contribuição, sinal de convenção, palavra de ordem, ou seja, era tudo o que servia para reconhecer alguém ou alguma coisa.

Às palavras são atribuídos poderes mágicos capazes de servirem como instrumentos de controle ou como força mais conservadora dos feitos da humanidade; aos signos numéricos são atribuídas peculiaridades abstratas, que, na prática, servirão ao concreto; aos símbolos oníricos são atribuídos fatores desiderativos (em simbologia direta, indireta ou mista); às representações artístico-visuais (desenhos, pinturas, retratos, esculturas) é atribuído o poder das perpetuações da imagem pela reprodução.

Os símbolos são cicatrizes que traduzem sobremaneira a essência neles guardada, por trazerem as marcas daquilo que representam e são considerados expressões racionais e irracionais, ao mesmo tempo.

Usados pelo homem para auxiliar o processo de pensar e registrar suas realizações ou frustrações, os símbolos povoam nossas vidas desempenhando função representativa, portanto, o grande valor do símbolo será determinado pela apreensão da relação que se quer mostrar entre o símbolo e a coisa simbolizada.

Assim sendo, uma das funções primordiais do símbolo é ajudar o homem a decifrar o indefinido, o incompreensível, embora fortemente sentido, sem, no entanto, arrancar por completo o véu, pois, se o termo oculto revelar-se em sua totalidade, o símbolo perecerá.

Por ser a representação de imagens pinçadas do mundo real, concreto, o símbolo traz em si a sintetização das influências do consciente e do inconsciente e, longe de ser mera expressão lingüística, por seu caráter dinâmico, sensível e afetivo, este usa a palavra, não para falar das coisas, mas para representá-las.

(UFF- 2009)

SÍMBOLOS - IMAGENS PRIVILEGIADAS- I

CONTANDO HISTÓRIAS por meio de linguagens variadas

 contando histórias

CONTANDO HISTÓRIAS por meio de linguagens variadas

O homem sempre gostou de contar suas histórias e, é através da oralidade, do desenho, da música, da dança ou da representação teatral, entre outros modos de expressão, que a história da humanidade se perpetua. Assim, valendo-se das mais diversas formas de linguagem, o homem faz o registro de sua história.
Desde o tempo das cavernas, o homem já eternizava suas histórias por meio de desenhos, e, entre eles, pesquisadores encontraram desenhos que simulavam movimentos. Esses desenhos nos levam a concluir que o homem sempre desejou captar os movimentos na representação figurativa dos desenhos que fazia. Por exemplo, em Altamira, na Espanha, um desenho com mais de 12 mil anos, mostra um bisão, que apresenta 8 patas, como se o autor tentasse decompor o movimento.
Vamos encontrar outra confirmação do desejo manifesto do homem de contar e registrar a sua história através da imagem em movimento, por meio das famosas sombras chinesas, que não passavam de silhuetas projetadas numa parede ou tela, conhecidas na China, 5.000 anos antes de Cristo.
Outro recurso artístico, empregado na arte de contar histórias, foi a lanterna mágica – projetor de imagens fixas- um dos jogos óticos precursores do cinema, o qual funcionava mediante iluminação a vela ou a acetileno, com imagens desenhadas sobre placas de vidro.
No século XVIII a lanterna mágica do alemão Athanasius Kircher composta de uma caixa, uma fonte de luz e lentes que enviavam imagem para uma tela.
Chegamos ao século XIX, quando a fotografia passa a ser uma nova forma artística de registro histórico.
No século vinte, a nova forma de produção artística é o cinema, arte multiplicadora social que mais tarde, juntamente com a televisão, passa a ser considerada como “cultura de massa”.
No que se refere ao cinema e à sua história, 28 de Dezembro de 1895 é uma data especial, pois, neste dia, no Salão Grand Café, em Paris, os Irmãos Lumière fizeram uma apresentação pública dos produtos de seu invento ao qual chamaram Cinematógrafo.
É toda esta evolução das diversas representações artísticas que permite a recriação da realidade ou a criação suprarealidade, uma vez que, por meio delas, nasce aquilo que, normalmente, classificamos como ficção, mostrando que, através da fantasia, criam-se imagens carregadas de polivalências significativas e é isso que enriquece o valor simbólico e as diferentes leituras que da realidade se pode fazer.

contando histórias

FICCIONAL e FACTUAL – entre a memória, a criação e a história

 FICCIONAL e FACTUAL - entre a memória, a criação e a história

 

FICCIONAL e FACTUAL – entre a memória, a criação e a história

                               (Autoria: SÔNIA MOURA)

 

Em O Fictício e o Imaginário – Perspectivas de uma Antropologia Literária (1996: 39), Wolfgang Iser, destaca que a proximidade entre o texto ficcional e o factual se dá porque ambos estão submetidos à intencionalidade de seus autores, quando estes selecionam os elementos que devem fazer parte da narrativa. Iser observa também que, quando afastados do seu campo referencial, os elementos narrativos estarão fortalecidos por outros que estão ausentes e vice-versa.

Quando projetados em outra contextualização e afastados do seu campo de referência, outro peso é atribuído aos elementos selecionados, promovendo a “transgressão de limites”, e é esta transgressão que possibilita a estes ultrapassarem as fronteiras entre ficção e realidade.

E, uma vez que convivemos com múltiplas realidades, podemos entender que, aliadas a valores simbólicos de qualquer modo textual, as formas narrativas funcionam como bases ratificadoras de que os sistemas institucionais nos apresentam realidades previamente conceituadas, edificadas e/ou reificadas, por meio das quais se pode perceber que o real é apenas uma peça na vasta engrenagem a qual comanda o cotidiano, a única realidade possível, como definem Berger e Luckmann: “Entre  as múltiplas realidades há uma que se apresenta como sendo a realidade por excelência. É a realidade da vida cotidiana”. 

Assim, sendo o discurso um dos construtores de significações, através dele, novas vozes textuais surgem e vozes textuais antigas e historicamente constituídas podem ressurgir, para enunciados, os quais, em algum momento da história, já foram registrados, ficcionados,  catalogados, editados ou publicados, como marca  da ação narrativa de muitos sujeitos sobre o mesmo objeto, como é o caso, por exemplo,  do fato histórico abordado por Josué Montello,  em O Baile da Despedida.

(UFF – 2009)

FICCIONAL e FACTUAL - entre a memória, a criação e a história