NO HORIZONTE, A DOR E O SILÊNCIO (por Sônia Moura)
A minha dor mostra o que eu sou e quem eu sou, aponta para o alvo de como me sinto naquele momento e, também, de como a sinto, na verdade ela, por um tempo, é a minha voz sussurrada e, neste tempo, comanda minhas palavras e deixa fluir todos os golpes desferidos pelo que provocou a sua ira.
O meu silêncio fala por mim, não necessito de palavras para falar da minha dor, ela se estampa em outdoors, se espalha pela internet, se exibe nas vitrines das livrarias, passeia pelo shopping em busca de amparo, comove pelas telas dos cinemas e das tevês, se revela na sala de terapia e entope os ouvidos pacientes dos amigos.
A minha dor associada ao meu silêncio faz a menina que mora em mim se apresentar e reviver o passado, o qual se espraia em meu presente, convidando-me a dar a mão ao meu destino, para que eu possa povoar-me de mim mesma.
O silêncio associado à minha dor revira o meu mundo, para confirmar a brevidade do tempo e a densidade dos nossos sentimentos, porque a minha dor não fala só por mim, ela fala também sobre o(s) outro(s), e ainda pode ser calada pelos atos do(s) outro(s).
Dou a mão à minha dor, porque sinto que é hora de ela me guiar, enquanto meu olhar baila pelas linhas do horizonte e me faz entender que não posso me limitar à dor da dor, devo deixar este tempo de silêncio e dor viverem em mim, na certeza de que a tristeza, filha da dor, seguirá o seu caminho.
A dor me abraça e o silêncio me acarinha, preciso de um poema para me consolar; o silêncio entrega-me um livro que poeta sobre o amor e sobre o amar, mostrando que a dor tem seu limite, assim como a linha do horizonte, a dor sempre nos deixa entre um céu e um mar de emoções caudalosas.
Então, é preciso fazer do coração um mar aberto e deixar o olhar interior perder-se na vasta planície da calma, para poder sentir e compreender todo o palpitar curvo da dor, a fim de que a culminância do que me corrói a alma, seja visto em sua plenitude, sem escamoteações.
Por trás do horizonte, este ponto de fuga, há outras paisagens, outras paragens, outras gentes, as quais é preciso descobrir, reencontrar ou mesmo contemplar, por isto antes de expulsar a dor do paraíso dela, aplaudo-a freneticamente, lanço-lhe um olhar e um sorriso, ainda que tristonhos, por ter a certeza de que ela irá partir.
Aprendo que esta não será a última dor e nem este será o último silêncio, no entanto, o que importa mesmo é voltar meu olhar para o horizonte e compreender que, ao atravessar os tortuosos caminhos do bosque submerso da dor, aprenderei a renascer.
(Do livro COISAS DE MULHER de Sônia Moura)
















