ESTAMPAS

 estampas

ESTAMPAS   (Autoria: Sônia Moura)

 

 Que importava o mundo lá fora, os medos, as dúvidas?

Que importava o perigo, a hora ou a despedida?

Estávamos plenos, livres e cativos

Todas as maravilhas do mundo eram nada

E uma coisa nova, diferente e intensamente milenar

Aconteceu ali na tarde–noite fria à beira mar

 

Os carinhos do homem batizaram o corpo da amada

Os carinhos da mulher sagraram o corpo do amado

Te convidei pra dançar a dança de acasalar

 

Sinto, ainda, o cheiro do macho ensandecido

Penetrando a fêmea com nome de mulher (Bom demais!)

Agora, neste momento em que escrevo,

Meu corpo estremece ao pensar no seu,

Recordo meus olhos felizes passeando

Sobre o seu corpo, sobre os seus olhos, sobre o seu sexo

Você fica tão lindo na hora do prazer

Misto de criança, homem, fera e desejo

 

Foi um poema escrito por dois corpos suados

Foram estampas pintadas por dois corpos melados

Seu corpo que bem me fez…

 

Lembro seu corpo quase a implorar

Nosso prazer, nossa alegria, nossa fantasia…

Lembro meu corpo buscando o seu e a desejar

Sua ternura, seus beijos e a sua fúria…

 

Cedemos o lugar ao prazer,

Expulsamos para longe nossos medos

E nos amamos até à exaustão

Depois do nosso gozo, no silêncio do quarto,

Nosso riso era uma canção, batia forte nosso coração…

 

Que importava o mundo àquela hora

Se éramos apenas homem e mulher?

 

    (Maio. Lembranças de um grande amor.)

(Da obra: ENTRE BEIJOS E VINHOS de SÔNIA MOURA)

estampas

SHOW DÁ VIDA?

 SHOW DÁ VIDA?

SHOW DÁ VIDA?  (por SÔNIA MOURA)

                                                       Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2010

Caro amigo(a)

Tudo bem?

Hoje estive pensando naquele texto de Guy Debord que diz: “O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido.”Ele tem toda razão, não é mesmo?

Nos dias atuais, tudo é um SHOW! Tudo é um ESPETÁCULO! : Incêndio, maremoto, terremoto, desastre, tiroteio, show, teatro, musical, desfile, briga, carnaval, big brother. Assim, caras e bocas só nos mostram sorrisos, riquezas, “felicidades” e, por outro lado, outros veículos de (com) (unic) (ação) injetam em nosso globo ocular: alegria, tristeza, guerra, paz, morte e vida – tudo no mesmo balaio de gato. Isto seria cômico se não fosse trágico! Concorda?

Por este caminho, tudo vira pó, igual a shake: instantâneo, então é só engolir, na precisa fazer qualquer esforço, muito menos pensar, não há tempo.

***SÓ PARA ILUSTRAR, ALGUMAS EXPRESSÕES:

*O SHOW NÃO PODE PARAR!

 *THE SHOW BUSINESS

 *SHOW DE OFERTAS!

*O DESFILE FOI UM ESPETÁCULO!

 *ESTOU COM UM “GATO”  (OU UMA GATA) ESPETACULAR!

 *MINHA VIZINHA SÓ DÁ ESPETÁCULO!

 *DERRUBADA DAS TORRES: TRISTE ESPETÁCULO

 *BIG BROTHER –UM ESPETÁCULO?

 *ESPORTE ESPETACULAR

 Este mundo globalizado, tecnológico, não é mesmo um SHOW? um ESPETÁCULO?

 Abração da amiga Sônia Moura

 SHOW DÁ VIDA?

O SIGNIFICADO É DEFINIDO PELA RELAÇÃO

 O SIGNIFICADO É DEFINIDO PELA RELAÇÃO

O SIGNIFICADO É DEFINIDO  PELA RELAÇÃO (por Sônia Moura)

 

“ Um chapéu sobre a cabeça de um camponês é um simples utilitário de proteção contra o sol; sobre a cabeça de uma dama, numa cerimônia, é um adorno; na fronte de um cardeal, é um símbolo de poder; na mão estendida de um mendigo, quer dizer um pedido de auxílio.

Em síntese: o significado é definido por relação.”

 

Eu poderia aproveitar este texto para falar, academicamente, em significante, significado,  símbolo, signo, denotação, conotação e outros mais.

No entanto, em tempos de eleição, creio que ele seja bem oportuno para mostrarmos que as batalhas travadas na luta pelo voto levam cada qual a “puxar a brasa para a sua sardinha”, o que não seria pecaminoso, se os envolvidos nesta “guerra”, não começassem a atirar pedra em telhado alheio, esquecendo-se de que “seus tetos também são construídos com telhados de vidro.”, e, assim, de nada adiantará tentar ofuscar o verdadeiro significado do significado, embora alguns(?) políticos sempre insistam em fazê-lo.

Ao colocarem a serviço de seus esquemas de combate armas tão sórdidas, como a mentira e a calúnia – armas letais -, para que consigam vencer a batalha final – a eleição – alguns(?) candidatos se esquecem da decência e da ética e apelam para todo tipo de estratégia suja, não importa a quem suas insanidades venham a atingir.

Assim é que, buscando mexer ao máximo com as emoções do potencial eleitor, cada qual trata de dar a suas histórias a melhor significação possível, porém se esquecem do “outro lado da moeda” – o significado do que se mostra, do que se fala, do que se representa estará sempre ligado à relação que o interlocutor, telespectador der a ele.

Então, cuidado, senhores, porque “o tiro poderá sair pela culatra

E, ainda nesta linha, seguindo o velho ditado do Barão de Itararé: “Os vivos serão sempre governados pelos mais vivos.”, é bom ficarmos com olhos, ouvidos, mentes e corações escancarados, pois, as “Campanhas políticas são como salsichas: é melhor não ver como elas são feitas.” (http://www.gorgulho.com/artigos/politica.htm), por isso, é muito importante prestarmos atenção ao verdadeiro significado de palavras e atos divulgados pela mídia, para não cairmos em tentações de fazermos escolhas erradas, nascidas de relações mais erradas ainda.

 O SIGNIFICADO É DEFINIDO PELA RELAÇÃO

HORÁRIO DE VERÃO

 HORÁRIO DE VERÃO

 HORÁRIO DE VERÃO (2)

 

                        Os deuses instalaram ansiedade no primeiro homem que

                    descobriu como distinguir as horas”.

                     [Titus Maccius Plautus (254-184 d.C.) Dramaturgo italiano.]

 

 Vocês já observaram que, sempre que começa o HORÁRIO DE VERÃO, no dia seguinte, o céu fica nublado ou começa a chover, deixando dias e noites muito escuras (tomo como referência a cidade do Rio de Janeiro)?

 Confiram:

 O ano de 2010 (o horário de verão começou à meia-noite do dia 16/10, no dia17/ o tempo esteve um tanto lusco-fusco e hoje, 18/10, choveu o dia inteiro e assim vai noite adentro e, segundo o serviço de meteorologia, assim seguirá por mais uns quatro dias (e noites).

 Será que este é um aviso para que prestemos mais atenção às coisas da natureza, por exemplo, o nosso relógio biológico, que, com esta mudança brusca, sofre um bocado.

 Ou será que o sol, assim como eu, torce o nariz para este horário, ao qual nos obrigam a conviver e, por isto, se esconde, fazendo pirraça por ter que trabalhar mais?

 

 Prestem atenção e, nos próximos anos, acontecerá o mesmo, vocês VERÃO!

 

 HORÁRIO DE VERÃO

 

COISAS DA VIDA

 Coisas da vida

COISAS DA VIDA  (Autoria: Sônia Moura)

A vida é doce

Mas pode ser salgada

Ou ainda pode ser dura

Igual à rapadura

 

O fogo é ardente

Mas pode ser frio

Quando esconde

Um amor vazio

 

O ar é tão leve

Mas pode pesar

Se o negócio for

O medo de amar

 

A terra é mãe boa

Mas pode ser má

Quando maltratamos a vida

Que ela nos dá

 

A água é mole

Mas também pode ser dura

Quando se torna o gelo

De quem bebe o vinho

De uma vida insegura

 

O dinheiro é bom

Mas pode ser um azar

Sempre que com ele

Se pensa o incomprável comprar

 

Vencer é muito legal

Mas também pode fazer mal

É só o vencedor

Se achar o maioral

 

A bebida celebra a alegria

Mas pode trazer a tristeza

Quando quem bebe exagera

Esquece a sutileza

E causa a si e ao mundo

Um barril de muita dor

 

Enfim…

 

A vida é mesmo uma beleza

Mas também é uma dureza

O bom é tirar dela o melhor

E viver intensamente

Com a alma, o corpo e a mente

O resto?

Deixa pra lá!

  

(Da obra: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)

  COISAS DA VIDA

 

À MINHA PRIMEIRA PROFESSORA

 À MINHA PRIMEIRA PROFESSORA

À MINHA PRIMEIRA PROFESSORA  (por SÔNIA MOURA)

 

Desde muito cedo aprendi a amar meus professores.

 

Lembro-me com ternura da minha primeira professora ADYR DA CONCEIÇÃO, moça modesta, professora gigante, com o maior coração que eu já vi.

 

Quanto ao maior coração, é certo que a ciência irá me desmentir, mas ele está lá, no balaio das minhas memórias afetivas a pulsar num ritmo que só o coração infantil entenderá, dado o amor e a admiração que lhe causa um bom professor.

 

Até hoje, às vezes, a menina que mora em mim se pergunta:

 

Como aquela mocinha conseguiu formar a todas nós, dando aulas para as quatro séries do primário(1a à 4a – naquele tempo era assim mesmo),  TODAS situadas no mesmo espaço, isto é, na mesma sala?

 

Como conseguia ensinar a tantos, usando o mesmo quadro negro (também era assim naquela época), divido em quatro partes iguais?

 

E qual é poder de encantamento que, depois de tanto tempo, me faz lembrar dela com todo carinho? Onde está o segredo da mágica destas encantadas e encantadoras criaturas?

 

Alguém poderia me explicar de que forma se guarda na memória, não apenas explicações, conceitos ou regras, mas a forma, o jeito como a professora ensinava, ainda hoje consigo ouvir e diferenciar o som daquela voz, ainda me lembro claramente de como aprendi, por exemplo,  o que é metamorfose.

 

Sei que cientificamente a memória é classificada em diferentes categorias e numa delas está a memória deste tempo que há muito se foi é a memória de longo prazo (ou de longa duração), mas, para mim, trato-a mesmo como a memória do amor.

 

Claro que alguns vão torcer o nariz para a memória do amor, outros vão achar piegas, outros ainda vão dizer: – Que bobagem! Eu entendo, cada um tem sua opinião, sua conceituação e sua maneira de ver o mundo, eu entendo, no entanto, hoje, sendo eu também professora, posso dizer que esta é mesmo a memória do amor.

 

Através desta homenagem especial dedicada à minha primeira professora ADYR DA CONCEIÇÃO, busco reverenciar todos os mestres que sempre farão parte da minha vida e a eles eu digo, com todo amor e carinho: FELIZ DIA DO PROFESSOR!

 

Obs.: Não tenho foto da professora ou com ela, é que … naquele tempo, pouca gente desfrutava deste “luxo”).

Primeira professora

(IN-)GRATIDÃO por Sônia Moura

 (IN-)GRATIDÃO

(IN-)GRATIDÃO  por Sônia Moura

 

Sofrer uma ingratidão traz uma dor sem nome, sem cor, mas que deixa marcas profundas.

O axioma atribuído a Parsifal Barroso: “No mercado dos sentimentos, a gratidão está em baixa cotação.”  Concordo com ele, cada vez mais, as pessoas se esquecem de agradecer, primeiramente ao Criador e à natureza aquilo que ganhamos de graça, pois deles somos filhos e, para reforçar, vejamos o que diz Honoré de Balzac: “A gratidão é uma dívida que os filhos nem sempre aceitam no inventário.” 

Segundo Aristóteles “Gratidão é o sentimento que mais depressa envelhece.” , assim é que, rapidamente, aquele que foi beneficiado por carinhos, zelos e dádivas se afasta e se esquece da mão que o alimentou, do coração que o acarinhou, daquele sempre o amou e amará, independente da gratidão ou ingratidão do ser amado, por pura gratidão para com o ser amado, pois, “A gratidão confia no passado e o amor no presente.”  (C. S. Lewis).

 

 

 

 

 

AMOR NA MADRUGADA

 AMOR NA MADRUGADA

AMOR NA MADRUGADA  (Autoria: Sônia Moura)

 

A madrugada vai alta e clara.

Em frente ao hotel, o mar toca sua música para a lua se deleitar; no quarto, o casal dorme o sono dos amantes, aquele em que ambos sonham o mesmo sonho.

Enlaçados, enredados e adoçados pelo amor, os dois sorriam durante o sonho e carícias aconteciam, porque ambos se reconheciam no abraço, no afago e no beijo.

Havia tanto amor naquele quarto e naquela cama que se sentia o transbordamento da paixão pelas ruas daquela pequena cidade, o mar não livrava o lugar de sofrer uma enchente, assim o doce do sumo do amor misturava-se ao salgado das águas do mar, enquanto o cheiro do desejo penetrava pelas frestas das janelas e despertava amores adormecidos ou aquecia aqueles que ainda estavam acordados.

A presença do eu e do tu, transformados em nós, dava aos amantes a aura de deuses invencíveis, intocáveis e irreprimíveis. Eles tudo podem, nada lhes é negado, nada lhes é tirado, nada lhes é proibido.

A madrugada era realmente mágica, impossível não acreditar em milagres, o que acontecia naquele quarto era a prova cabal de que algo muito mais forte existia, era o enigma da vida que ali se manifestava, eram os desvios das palavras não ditas que ali se apresentavam.

Quase ao fim da madrugada, o colar de contas azuis que a moça trazia ao pescoço, foi ao chão, reprisando vozes de poetas a derramar arte, quando o amado enlaça mais e mais a sua amada e sussurra vagarosamente: – SOU LOUCO POR TI, PEQUENINA.

Esta declaração de puro amor leva a lua da madrugada a gemer baixinho e crava no peito e nos ouvidos da moça um punhal de rosas que lhe marca a alma e as lembranças, para sempre!

 

(Do livro: CONTOS e CONTAS de SÔNIA MOURA)

 AMOR NA MADRUGADA

SABER e PODER – I

 SABER e PODER – I

SABER e PODER – I (por Sônia Moura)

 

Com os recursos da ciência e da tecnologia encurtam-se as distâncias, há trocas constantes de conhecimentos, de hábitos culturais, de maneiras de pensar e de trabalhar. A globalização e a cultura da informação aliam-se e exigem polivalência de atitudes, de conhecimentos, de intelecto. 

Tudo muda muito rapidamente, então, a escola também precisa mudar, mas enfrentar mudanças, arrumar a casa significa mexer em lugares, em coisas e até mesmo mexer com pessoas.

Mudar é sinônimo de transformar, deslocar, converter, substituir, variar, modificar, inovar e, por vezes, divergir[1] – ISTO INCOMODA, mas quando é  preciso e urgente, há que se enfrentar e mudar.

MUDAR à Por quê? Para quê? à Para atender aos desafios da sociedade, que hoje exige, por exemplo, que a escola conscientize o indivíduo de que sua educação deverá ser educação permanente, uma escola que proporcione a seu aluno uma formação abrangente, uma educação que se volte para a criatividade, para a invenção, para a reflexão, para a formação da cidadania, para uma visão holística do mundo e de si mesmo. Então há uma saída: a promoção das mudanças de paradigmas.

Um dos paradigmas que necessita urgentemente sofrer profundas mudanças é o poder advindo dos cânones escolares, reprisados por seus professores, por suas maneiras de ministrar aulas, por suas regras impositivas, por suas formas de avaliação e por sua condução da transferência e troca dos saberes, do conhecimento.

 

Na escola, cabe ao professor saber lidar com o poder que lhe é conferido pelo sistema educacional, para que em qualquer nível de ensino, a educação esteja voltada para a aprendizagem e não para o adestramento do indivíduo.

 (Trabalho apresentado em 2007 – FGV)

 

 


 

[1]  Significação contida no radical latino muto,as,avi,arum,are [Houaiss, Antonio. Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Obejtiva, 2001 p. 1973.]

    SABER e PODER – I

 


 

A BELEZA VOOU COM O VENTO

 SABER e PODER – I

A BELEZA VOOU COM O VENTO  (Autoria: Sônia Moura)

 

Eram todas lindas, muito lindas

Sentadas na roda gigante

Com seus cabelos ao vento

Espetáculo mirabolante!

 

A roda começou a girar

Lentamente, mansamente

E as lindas moças sentadas

Olhavam um sol sorridente

O giro foi aumentando

Os cabelos arrepiando

E o sol pálido ficando

Tudo estava mudando

 

– Alguém pare esta roda,

Gritou a primeira voz

– Isto mesmo, gritaram todas

Tenham pena de nós!

 

Rolando sua engrenagem

A roda feroz prosseguia

Fazendo um barulho danado

Enquanto ria, ria, ria…

 

Assustadas, descabeladas

Com as faces desbotadas

As lindas feias estavam

Perderam a maquilagem

Perderam toda coragem

Perderam o brilho e o fulgor

Seus rostos outrora lindos

Agora eram só pavor

E, de repente,

Uma delas foi ao chão

Um tombo feio que só,

E a bela descabelada

Chorava que dava dó

 

Mas qual!

Tudo não passou de um sonho

Daquela que achava que ser bela

Era a maior das virtudes

E a melhor coisa do mundo

Mas, aquele sonho mostrou a ela

Que a beleza como o vento

Se desfaz em um segundo.           

 

  (Do livro: Brincadeira de Rimar de Sônia Moura)