AMOR NA MADRUGADA (Autoria: Sônia Moura)
A madrugada vai alta e clara.
Em frente ao hotel, o mar toca sua música para a lua se deleitar; no quarto, o casal dorme o sono dos amantes, aquele em que ambos sonham o mesmo sonho.
Enlaçados, enredados e adoçados pelo amor, os dois sorriam durante o sonho e carícias aconteciam, porque ambos se reconheciam no abraço, no afago e no beijo.
Havia tanto amor naquele quarto e naquela cama que se sentia o transbordamento da paixão pelas ruas daquela pequena cidade, o mar não livrava o lugar de sofrer uma enchente, assim o doce do sumo do amor misturava-se ao salgado das águas do mar, enquanto o cheiro do desejo penetrava pelas frestas das janelas e despertava amores adormecidos ou aquecia aqueles que ainda estavam acordados.
A presença do eu e do tu, transformados em nós, dava aos amantes a aura de deuses invencíveis, intocáveis e irreprimíveis. Eles tudo podem, nada lhes é negado, nada lhes é tirado, nada lhes é proibido.
A madrugada era realmente mágica, impossível não acreditar em milagres, o que acontecia naquele quarto era a prova cabal de que algo muito mais forte existia, era o enigma da vida que ali se manifestava, eram os desvios das palavras não ditas que ali se apresentavam.
Quase ao fim da madrugada, o colar de contas azuis que a moça trazia ao pescoço, foi ao chão, reprisando vozes de poetas a derramar arte, quando o amado enlaça mais e mais a sua amada e sussurra vagarosamente: – SOU LOUCO POR TI, PEQUENINA.
Esta declaração de puro amor leva a lua da madrugada a gemer baixinho e crava no peito e nos ouvidos da moça um punhal de rosas que lhe marca a alma e as lembranças, para sempre!
(Do livro: CONTOS e CONTAS de SÔNIA MOURA)