REVELAÇÃO DO DESEJO

Revelação do Desejo  (Autoria: Sônia Moura)


Deixe o desejo chegar em sua glória
E ficar pelo tempo que desejar
Se permita sonhar, de olhos abertos ou fechados
Deixe que venham as fadas, os duendos e as borboletas
Fale com as flores
Isole o tempo (por um tempo)
Depois pegue a chave que abre o teu sorriso
Deixe-o arrebentar-se em versos dispersos
Sorriso a borbulhar
A se encantar com o desejo a se revelar

(Do livro: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura) desejo

ESTALAR DE SONHOS

ESTALAR DE SONHOS (Autoria: Sônia Moura)

A tinta vermelha contrasta com a tristeza
E eu me pergunto:
Por onde andarão meus sonhos,
Nesta sexta-feira noite- solidão?

Por onde andarão meus sonhos,
Perdidos, molhados pela chuva pós – verão,
Pendurados nas lágrimas da verdade
Ou estarão guardados no cofre de idade-ilusão?

Por onde andarão meus sonhos,
No altar do sorriso que não mais se vê,
Na imagem da televisão- companhia
Na falta de vontade de ler, de escrever,
Ou estarão presos pela vontade de ele
Que sabe um dia de novo aparecer?

Por onde andarão meus sonhos,
Driblando habilmente a realidade,
Escondendo nas gavetas a verdade,
Ou estarão sendo deglutidos
Soberbamente pela desilusão?

Por onde andarão meus sonhos,
Nos resíduos de minhas saudades,
Desatando nós, desfazendo laços,
Esbarrando com o meu cansaço,
À procura do teu antigo abraço,
Depositado no banco da saudade?

Por onde andarão meus sonhos,
Relendo Nietzsche , ouvindo Zaratrusta,
Embaixo de um arbusto na savana,
Ou estarão escondidos feito amantes,
No sorriso- passarinho de Mário Quintana?

A intuição me diz que eles estão a se revelar,
E sinto que estão a me rondar,
Todos prontos a desabrochar
Sinto no ar o suave ruído

De um estalar de sonhos!

(Do livro POEMÁGICAS de Sônia Moura)

Estalar de sonhos

LENÇOL DE SEDA

           ENTRE LENÇÓIS DE SEDA

Lençol de Seda (Autoria: Sônia Moura)    
Primeiro…

Sobre teu corpo debrucei-me com ternura
Beijei-te como se afagasse as pétalas de uma flor
Sorvi teu cheiro
Senti teu hálito
Na concha da tua orelha com gosto de mar
Disse baixinho um poema
Sobre as coisas de amar
Ouvi teus gemidos
Envolvi-te como um lençol de seda
Fartei-te com doces abraços
Mostrei-me presa a você
Senti teu gosto

Depois…

Enlouqueci meus anjos
Aticei meus demônios
Sofregamente entrei em ti
Com a fome dos desesperados
Tatuei-me em teu corpo
Como uma prece fervorosa
Beijei-te com os lábios
Da mulher louca e amorosa
Suguei-te a vida antiga
Sorvi teu gozo
E dei-te vida nova

Por fim…

Amei-te com as marcas da eternidade
E guardei-te num lugar secreto
Onde uma divindade abriga
Sua imagem, seu cheiro, seu carinho
E mesmo agora que já deixaste o ninho
Em tua lembrança eu encontro abrigo
Pois ainda hoje estás comigo
Porque ficaste gravado em mim

(Do livro: POEMÁGICA de Sônia Moura)

PALAVRAS POÉTICAS

Palavras Poéticas [por Sônia Moura]

Quando se perde um amor
A alma se exila no deserto
Faz-se o silêncio
E acontece a total renúncia
De si mesmo
Morrem os sonhos,
Morrem os deuses
Nasce o desengano

Não se ouve mais o murmúrio
Das ondas do mar
Nem seus apelos sonoros, repetidos,
Não há mais o mar, nem a espuma

Faz-se treva, cessa a luz,
Não há mais o orvalho
Só a bruma se refaz
Não há mais como ver teu rosto

A tristeza se ergue em garbo triunfante
Some a imagem do amor – amante
E, a um canto, um bem-te-vi tristonho
Canta seu canto, tentando demover
O terrível desencanto

Enveredando pelos caminhos do mistério
Só o poeta consegue aplacar a dor
Do desamado

E como emissário de um anjo
O poeta penetra nos limites da saudade
Aliviando a dor do desamor

Com suas palavras, o poeta
Cobre um leito com flores coloridas
Onde o que sofre por amor se deita
Para voltar a sonhar…

(Do livro: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)

DESAMOR

PODERES E PODEROSOS

                                                                             Pobres e ricos

PODERES E PODEROSOS(Autoria: Sônia Moura)

A tomada do poder, de qualquer poder, em qualquer época, é sempre a (re)tomada e a (re)condução do poder para outras mãos e por outras (ou as mesmas) cabeças, para e por outros interesses, por velhas – novas ideologias, transformadas em senso – comum. É assim que os poderosos inventam tradições, inventam motivações, dominam o povo e dominam um país.

As elites econômicas, políticas, religiosas e mesmo acadêmicas, qual o pêndulo de um relógio, oscilam, mas não vacilam, quanto à manutenção do poder, não o deixam escapar por nada deste mundo. Hoje, mando eu; amanhã mandará você, mas, no final, nós, os poderosos, controlamos tudo, esta é a regra.

A posse da terra, a posse do dinheiro, a posse do saber, a posse da política, a posse religiosa, a posse do social, a posse do escravo ou do alforriado – todas essas posses são sagradas, porque são representações de poder.

Os poderosos, no entanto, precisam assegurar a manutenção de todos os poderes e a manipulação de todo o poviléu, assim sendo, clientelismo e patronagem entram em cena, destituindo convicções, arrebanhando metas e “corações”.

Não adianta lutar, qualquer resistência sucumbirá, é nisto que o povo deve acreditar.

O favoritismo favorece aqueles que dominam, para que, por meio das “trocas”: toma lá, dá cá, como declarou, nestes tempos globalizantes, um parlamentar: “…é dando que se recebe…”, é o profano servindo-se do sagrado, para estabelecer convenções, convicções, ideologias e verdades mal ditas, que, por força dos interesses e do uso, se tornam bem ditas.

Então, como num grande clube, os sócios majoritários (ou mandatários) escolhem, por bolas brancas, quem fará parte da sociedade dominante, ou seja, da elite.

“Muitos serão os chamados, mas poucos serão os escolhidos” (Mateus 22.14) – assim, fala o texto sagrado, mas, para o poder, ser escolhido é ser um privilegiado, é fazer parte do leite, sendo a nata, é estar por cima não só do leite, como também da carne-seca, é não misturar mais ( só quando extrema e excepcionalmente necessário aos interesses do clube). Escolher é, antes de tudo, selecionar; e só é selecionado quem ou o que for melhor para as elites, pois irá servir a ela.

Clientelismo, patronagem e favoritismo – este trio sempre cobra um preço muito alto a se pagar, e nesta “sociedade de trocas”, o recomendável é nunca ficar do lado oposto dos mandatários, senão… “Do pó vieste, ao pó voltarás” ( Gênesis, 3.19).

É neste ponto que as elites folgam, “deitam e rolam”, pois elas sabem que a fogueira de nossas vaidades acende-se com a mínima faísca, não é preciso muita combustão, basta a cooptação, para que o novo sócio chegue à conclusão de que, mesmo sendo o patinho feio do lago, é melhor fazer parte da elite, que ser excluído.

E, enquanto as elites políticas, econômicas ou mesmo acadêmicas ficam em suas salas refrigeradas, o poviléu segue o que diz o texto sagrado: “Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gen 3.19) e prossegue em suas lutas por um pedaço de chão, por um pedaço de pão…

(Autoria: SÔNIA MOURA)

O COELHO MARQUITO

                                                                                coelho                                                     

O Coelho Marquito


(Autoria: Sônia Moura)

Esta é a história fascinante
Do coelho viajante
Que se chamava Marquito

Marquito era muito engraçado
E também atrapalhado
Ele achava que era um cabrito

Ninguém entendia aquilo
Mas o que se podia fazer?
O coelho era teimoso
E batia o pé a dizer:
– Não adianta tentarem
Ninguém vai me convencer
Marquito teimava tanto
Que chegou a adoecer

A macacada dizia:
– Acorda, ô, Zé –Mané,
Você não é cabrito,
Olha as suas orelhas,
Seu rabicho, suas patas
Este seu nariz achatado
Por que cabrito quer ser?

Os outros bichos faziam coro
-É isso aí, coelhão
Para com esta zoeira
Está bancando o bobalhão

Mas Marquito insistia
Cabrito queria ser
Rebelou-se, foi à luta
Foi o mundo conhecer
Foi à China e ao Japão
Foi a Roma e ao Uzbequistão
Foi à França e ao Cazaquistão
Visitou os continentes
Mas, Marquito, o viajante
Ainda não estava contente

Então prosseguiu viagem
Fazia camaradagem e
Onde ia, perguntava para a bicharada:
– Eu sou um coelho ou cabrito
E os bichos em coro falavam
– Você é um coelho, Marquito
Marquito não entendia
Pois cabrito se sentia

E assim seguiu mundo afora
Até um dia encontrar
Uma coelha charmosa
Que Marquito quis namorar

Foi aí que tudo mudou
Marquito se convenceu
Que não era um cabrito
E tudo se clareou
Marquito ficou feliz
E logo para casa voltou
Com Joana se casou
A coelha sabidona
Que seu coração conquistou!

(Do livro: Brincadeiras de Rimar de Sônia Moura)

UMA LOUCA TEORIA SOBRE O LOUCO AMOR (ou) A ENCENAÇÃO DO AMOR PELA PALAVRA

corações apaixonados

UMA LOUCA TEORIA SOBRE O LOUCO AMOR
(ou)
A ENCENAÇÃO DO AMOR PELA PALAVRA

(Autoria: SÔNIA MOURA)

No amor, o sujeito pode-se transformar também em objeto e vice-versa, pois o amor é esta coisa barroca, alegórica e mista.

Por isto, falar de amor é estar sob as ordens do excesso ou do recesso, uma vez que o prazer e o sofrimento, assim como a presença e a lembrança, em matéria de amar andam de mãos dadas e são exaltados, enquanto o jogo entre o gozo e o sofrimento, entre o céu e a terra mostra que o amor é a (im)perfeita comunhão entre a carne e o espírito.

Desta forma, falar de amor é saber dizer bem para que o bem dizer possa ornamentar o discurso sobre este gostar profundo. Assim, é preciso que aquele que escreve sobre as coisas deste querer dê um golpe de mestre para provocar sequiosamente o desejo transmutado.

Então, falar de amor também exige esforço, exige reforço, o que leva aquele que escreve a viver entre o fato e o mito e faz-se necessário reduplicar o real e para tal só há um jeito: ressuscitar o rito, transformar dor em amor, defendendo, deste modo, o amor da dor.

Mas, se a dor persistir, a imaginação pode se mostrar aterrorizada com a medonha possibilidade de que o real venha a sobrepujar a imagem de cupido, onde reina a ambiguidade do duplo: fantasia x real, sonho x real, loucura x sanidade, amor x dor.

Na plenitude deste gostar profundo, a palavra petrifica o tempo, paralisa-o, então, quem escreve sobre o amor (e/ou quem ama) precisa mergulhar num mar de êxtases gloriosos, num lugar de total alucinação do tempo e do espaço, nos quais o real é relativizado pela (con)fusão entre o desejo e o amor, em outra tentativa de eternizar o vivido ou o sonhado, pela leveza da forma como o amor é desenhado.

Assim é que o resgate ininterrupto deste gostar coloca o sonho dentro da realidade para alargar um real, que, na verdade, ninguém sabe de fato o que é. Vencida esta etapa, a completude do sujeito com o seu objeto de desejo, chamado amor, mostra-se pela fantasia confeccionada pela palavra que consegue dissimular a dor, a saudade e o abandono, dando novos formatos ao amor.
Agora modificado, o lugar onde este sentir vai se manifestar será a palavra,  um lugar da festa, por meio da qual uma profusão de imagens bailam para não deixar o amor ser transformado em pastiche.

A partir daí, por meio da palavra, o amor se manifesta em forma de encenação e provoca a divisão do sujeito para que haja o contentamento de um ideal duplicado, transformando dois em um. Esta fusão dos sujeitos é almejada pela escrita sobre o amor, como caráter cênico, para dar mais vida à vida.

E como a vida é um grande talvez, as narrativas sobre o amor aguçam, despertam, provocam a certeza e a dúvida, garantem a pluralidade do discurso amoroso,  deixando, então, proliferarem muitas verdades, para  que possam desbancar qualquer verdade única ou centralizadora.

Da primeira à última função, as narrativas sobre o amor andam por caminhos extremos , sem margens, sem limites, tendendo ao absurdo e ao abuso, mas o que salva este discurso é a encenação da palavra.

(Autoria: SÔNIA MOURA)

Louco amor

RETRATO

                                          imagem

RETRATO
(por SÔNIA MOURA)
Ontem à noite, aprendi com os anjos, que a imagem do ser amado perpetua-se em nós, se entranha na pele como tatuagem escolhida e por isto permanece em nós em forma de sonhos, de pensamentos e, assim, quando o olhar se debruça sobre o retrato guardado, somos levados a (re)viver aventuras suspensas pela força da saudade.

CHEGOU A HORA!

CHEGOU A HORA!

A bem da verdade, esta hora de união e de unificação sempre esteve por aí, são os preconceitos acirrados, a insanidade e a ignorância humanas que não permitiam (ou não permitem) que a hora acontecesse, mas, como “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” [Geraldo Vandré], a luta por direitos iguais, a perseverança de muitos, o apoio de poucos e a derrubada de barreiras ditas intransponíveis, levaram um negro à Casa Branca.

A eleição de Barack Obama é só uma marca poderosa de que o mundo pode viver em congraçamento, em paz e harmonia.

O negro presidente é mais um na lista dos grandes nomes vitoriosos nesta luta de homens e mulheres que venceram enormes obstáculos e mostraram ao mundo que a cor da pele é o que menos importa.

Barack Obama é uma boa representação simbólica, não apenas por ser negro, mas, acrescentemos a este fato a origem de Obama, ele é, na verdade, o retrato da mistura continental, por isto, simbolicamente a importância da eleição deste nome e deste homem para governar o país que, politicamente, é o mais importante, neste momento histórico.

E parafraseando Assis Valente:

“Chegou a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor…”

Presidente

ERA UMA PULGA?

ERA UMA PULGA?    

(Autoria: SÔNIA MOURA) 

                                                                                                                         

                                                                                                PULGA

Uma pulga pulou no meu casaco
Tiplum! Tiplum! Tiplum
Fiquei tão nervoso
Que soltei um pum!

Uma pulga pulou no meu braço
Plact! Plact! Plá!
Fiquei com muita raiva
E gritei sem parar

Uma pulga pulou na minha barriga
Se escondeu no meu umbigo e…
Nach! Nachc! Nhac! Nhá!
Me mordia sem parar
Fiquei todo atrapalhado
Pois só fazia me coçar

A pulga seguiu o seu caminho
E continuou me mordendo sem parar
Nhammm!Nhamm! Nhamm!
Fiquei tão desassossegado
Que comecei a pular

Agora não dava mais
Tinha que a pulga encontrar
Mexi pra lá, mexi pra cá
Mas a pulga se escondeu
E nada de ela eu achar

Não sabia mais o que fazer
Meu irmão veio então me socorrer
Cata daqui, cata dali
E também cata acolá
E nada de a pulga encontrar

Aí chamei a mamãe
E ela veio o meu corpo vasculhar
Cata daqui, cata dali
E também cata acolá
E nada de a pulga encontrar

Eu, já desesperado
Sem saber o que fazer
Pensei: não posso ficar parado
Corri então para o banheiro
E disse: Esta pulga agora vai ver

Deixei a água escorrer
Esfreguei todo o meu corpo
E tornei a esfregar
Lavei todos os cantinhos
E o sabão era a fartar
Choc! Choc! Choc! Chac!

Depois que tudo acabou
A família só fazia me encarnar
Dizendo que não era pulga
Na verdade, era um bom banho
Que eu precisava tomar!

E todos riam de mim
Todos riam sem parar
Ri! !Ri! Rá! Rá! Rá! Rá!
Qui!Qui! Quá!Quá!Quá!Quá!

(Do livro: BRINCADEIRAS DE RIMAR de Sônia Moura)