UMA LOUCA TEORIA SOBRE O LOUCO AMOR (ou) A ENCENAÇÃO DO AMOR PELA PALAVRA

corações apaixonados

UMA LOUCA TEORIA SOBRE O LOUCO AMOR
(ou)
A ENCENAÇÃO DO AMOR PELA PALAVRA

(Autoria: SÔNIA MOURA)

No amor, o sujeito pode-se transformar também em objeto e vice-versa, pois o amor é esta coisa barroca, alegórica e mista.

Por isto, falar de amor é estar sob as ordens do excesso ou do recesso, uma vez que o prazer e o sofrimento, assim como a presença e a lembrança, em matéria de amar andam de mãos dadas e são exaltados, enquanto o jogo entre o gozo e o sofrimento, entre o céu e a terra mostra que o amor é a (im)perfeita comunhão entre a carne e o espírito.

Desta forma, falar de amor é saber dizer bem para que o bem dizer possa ornamentar o discurso sobre este gostar profundo. Assim, é preciso que aquele que escreve sobre as coisas deste querer dê um golpe de mestre para provocar sequiosamente o desejo transmutado.

Então, falar de amor também exige esforço, exige reforço, o que leva aquele que escreve a viver entre o fato e o mito e faz-se necessário reduplicar o real e para tal só há um jeito: ressuscitar o rito, transformar dor em amor, defendendo, deste modo, o amor da dor.

Mas, se a dor persistir, a imaginação pode se mostrar aterrorizada com a medonha possibilidade de que o real venha a sobrepujar a imagem de cupido, onde reina a ambiguidade do duplo: fantasia x real, sonho x real, loucura x sanidade, amor x dor.

Na plenitude deste gostar profundo, a palavra petrifica o tempo, paralisa-o, então, quem escreve sobre o amor (e/ou quem ama) precisa mergulhar num mar de êxtases gloriosos, num lugar de total alucinação do tempo e do espaço, nos quais o real é relativizado pela (con)fusão entre o desejo e o amor, em outra tentativa de eternizar o vivido ou o sonhado, pela leveza da forma como o amor é desenhado.

Assim é que o resgate ininterrupto deste gostar coloca o sonho dentro da realidade para alargar um real, que, na verdade, ninguém sabe de fato o que é. Vencida esta etapa, a completude do sujeito com o seu objeto de desejo, chamado amor, mostra-se pela fantasia confeccionada pela palavra que consegue dissimular a dor, a saudade e o abandono, dando novos formatos ao amor.
Agora modificado, o lugar onde este sentir vai se manifestar será a palavra,  um lugar da festa, por meio da qual uma profusão de imagens bailam para não deixar o amor ser transformado em pastiche.

A partir daí, por meio da palavra, o amor se manifesta em forma de encenação e provoca a divisão do sujeito para que haja o contentamento de um ideal duplicado, transformando dois em um. Esta fusão dos sujeitos é almejada pela escrita sobre o amor, como caráter cênico, para dar mais vida à vida.

E como a vida é um grande talvez, as narrativas sobre o amor aguçam, despertam, provocam a certeza e a dúvida, garantem a pluralidade do discurso amoroso,  deixando, então, proliferarem muitas verdades, para  que possam desbancar qualquer verdade única ou centralizadora.

Da primeira à última função, as narrativas sobre o amor andam por caminhos extremos , sem margens, sem limites, tendendo ao absurdo e ao abuso, mas o que salva este discurso é a encenação da palavra.

(Autoria: SÔNIA MOURA)

Louco amor

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