PODERES E PODEROSOS

                                                                             Pobres e ricos

PODERES E PODEROSOS(Autoria: Sônia Moura)

A tomada do poder, de qualquer poder, em qualquer época, é sempre a (re)tomada e a (re)condução do poder para outras mãos e por outras (ou as mesmas) cabeças, para e por outros interesses, por velhas – novas ideologias, transformadas em senso – comum. É assim que os poderosos inventam tradições, inventam motivações, dominam o povo e dominam um país.

As elites econômicas, políticas, religiosas e mesmo acadêmicas, qual o pêndulo de um relógio, oscilam, mas não vacilam, quanto à manutenção do poder, não o deixam escapar por nada deste mundo. Hoje, mando eu; amanhã mandará você, mas, no final, nós, os poderosos, controlamos tudo, esta é a regra.

A posse da terra, a posse do dinheiro, a posse do saber, a posse da política, a posse religiosa, a posse do social, a posse do escravo ou do alforriado – todas essas posses são sagradas, porque são representações de poder.

Os poderosos, no entanto, precisam assegurar a manutenção de todos os poderes e a manipulação de todo o poviléu, assim sendo, clientelismo e patronagem entram em cena, destituindo convicções, arrebanhando metas e “corações”.

Não adianta lutar, qualquer resistência sucumbirá, é nisto que o povo deve acreditar.

O favoritismo favorece aqueles que dominam, para que, por meio das “trocas”: toma lá, dá cá, como declarou, nestes tempos globalizantes, um parlamentar: “…é dando que se recebe…”, é o profano servindo-se do sagrado, para estabelecer convenções, convicções, ideologias e verdades mal ditas, que, por força dos interesses e do uso, se tornam bem ditas.

Então, como num grande clube, os sócios majoritários (ou mandatários) escolhem, por bolas brancas, quem fará parte da sociedade dominante, ou seja, da elite.

“Muitos serão os chamados, mas poucos serão os escolhidos” (Mateus 22.14) – assim, fala o texto sagrado, mas, para o poder, ser escolhido é ser um privilegiado, é fazer parte do leite, sendo a nata, é estar por cima não só do leite, como também da carne-seca, é não misturar mais ( só quando extrema e excepcionalmente necessário aos interesses do clube). Escolher é, antes de tudo, selecionar; e só é selecionado quem ou o que for melhor para as elites, pois irá servir a ela.

Clientelismo, patronagem e favoritismo – este trio sempre cobra um preço muito alto a se pagar, e nesta “sociedade de trocas”, o recomendável é nunca ficar do lado oposto dos mandatários, senão… “Do pó vieste, ao pó voltarás” ( Gênesis, 3.19).

É neste ponto que as elites folgam, “deitam e rolam”, pois elas sabem que a fogueira de nossas vaidades acende-se com a mínima faísca, não é preciso muita combustão, basta a cooptação, para que o novo sócio chegue à conclusão de que, mesmo sendo o patinho feio do lago, é melhor fazer parte da elite, que ser excluído.

E, enquanto as elites políticas, econômicas ou mesmo acadêmicas ficam em suas salas refrigeradas, o poviléu segue o que diz o texto sagrado: “Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gen 3.19) e prossegue em suas lutas por um pedaço de chão, por um pedaço de pão…

(Autoria: SÔNIA MOURA)

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