PODEROSA DEUSA
Encontrei Atena
Com as antenas ligadas
E ela me falou assim:
– É por isso que
Quando alguma coisa me enerva,
Quem não sabe da minha história,
Insiste em me chamar de Minerva
Veja bem, nasci em toda a glória,
Sou filha de Zeus e Métis
Que, transformada em mosca morta,
Minha mãe foi engolida
Por meu pai apavorado
Achando que eu
Era uma Deusa prometida
E que iria mais tarde
Seu trono abocanhar
Mas como eu sempre fui
Artista e muito sabida
Deixei o velho com tamanha
Dor de cabeça,
Uma baita enxaqueca
E o poderoso Zeus
Não aguentando a parada
Pediu ao amigo Hefesto
Para dar uma machadada
Bem no meio do seu quengo
Assim que o feito se deu
Eu saltei toda paramentada
Com armadura, elmo e escudo
E eu não era nenhum monstrengo
Era uma deusa virgem e uma linda guerreira
(Sempre me consideraram virgem
Quem sabe ou quem saberá?)
E como fui gerada perto do cérebro
Nasci já sabendo de tudo
Com uma lança na mão
Mas não significava guerra, não
Eu usava uma estratégia
Para vencer qualquer turbilhão
Inventei o freio, amansei cavalos
Para que os fortes marmanjos
Conseguissem os bichos domar
Atenas era a minha cidade preferida
Já que leva o meu nome
E está sempre a me homenagear
O meu tio Poseidon veio comigo disputar
Para o nome de um ou de outro
Uma cidade assim chamar
Titio com seu tridente
Fez jorrar água do mar
E um cavalo a trotar
Já eu, mulher de coragem,
Domei aquele cavalo
Também dei a todo mundo
Uma linda oliveira
Que produzia alimento, óleo e também madeira
Por isto esta cidade o meu nome sempre terá
Sendo mulher guerreira
Nunca quis me apaixonar
E pedia aos outros deuses
Para por mim não se apaixonarem
Porque se eu ficasse grávida
Não poderia mais guerrear
Depois passei a Minerva me chamar
Pois junto com o povo de Atenas
Ao caso Orestes fui julgar
Ele que matou a mãe para o seu pai vingar
Dei o voto de Minerva
E Orestes seu crime não foi pagar
Apenas por ser mulher
Não pude o trono ocupar
E ser a rainha do Olimpo
Mas isto não foi problema
Pois o trono que ocupo
É o da sabedoria, da prudência
E ainda sou considerada
A amante da beleza e também da perfeição
E convenhamos, amigos,
Isto não é para qualquer um não.






(Da obra: COISAS DE ADÃO & EVA, de SÔNIA MOURA)
Hoje é dia das Bruxas, aquelas mulheres sábias, independentes e fortes. Muitas foram queimadas em fogueiras, outras sobreviveram à barbárie religiosa e machista. Por que tanto medo dessas mulheres “sobreviventes” aquelas que não morriam aos 20 ou, no máximo, aos 30 anos? Porque as mais velhas eram sempre as preferidas dos inquisidores e as mais novas eram acusadas de bruxaria se não aceitassem “a cantada” dos inescrupulosos machistas? Por que tanto receio de que o conhecimento alquímico dessas mulheres pudesse ameaçar os cânones religiosos? Por que torná-las horrendas, desfiguradas, desdentadas, com cabelos arrepiados,imagem cruelmente construída? Por que à palavra bruxa foram atribuídos significados pejorativos, cruéis? Por que, geralmente, as mais velhas, as muito pobres eram as preferidas à condenação por bruxaria? Se bem que, mulher rica que ficasse viúva ou órfã poderia ser acusada de bruxaria e, lógico, alguém ficaria com toda sua fortuna. Por quê?
