REVELAÇÃO

 REVELAÇÃO

REVELAÇÃO (Autoria: Sônia Moura)

Revela-te, oh! Mistério do amor!
Descortine para mim a tua perfeição
Expulsa do ventre materno
Essa inegável semente de vida
Livra minh`alma dessa agonia
Se preciso for
Mistura o prazer e a dor,
O ferro e o ouro
E nessas alquimias
Revela pra mim
O segredo do verdadeiro amor

(Da obra: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

REVELAÇÃO

(DES)ENREDO

 desenredo

DESENREDO  (Autoria: Sônia Moura)

Num coração despedaçado
Borboletas voam desvairadas
Num tempo perdido
Em tristezas achadas
Entre dúvidas atormentadas
Afogando-se em lágrimas roladas

O que faço com a vida?
Essa eterna lida a me confrontar
A dizer: ame! Vale a pena arriscar
E, ao mesmo tempo,
Me bota na roda e me faz dançar
A dança da dor, sangrada do amor
O que faço com o amor?
Que tenho flutuando
Em nuvens de tempestade
Em ventos bravios
Em navios à deriva
Em mar sem serenidade
Respostas não vêm
Certezas se vão
Em ondas de poeira
Descendo a ladeira

O que faço comigo?
Menina tão crente
E que, de repente,
Nem sabe o que sente
Nem sabe o que quer?
O que faço de mim?
Mulher consciente
Que às vezes mente
Para se consolar
Fingindo ser amor
O que é aventura
E nesta mistura
Verdade – mentira
O coração se apavora
Tropeça, balança e cai
Como a frágil criança
Que começou a andar
Coragem – diz a razão –
Só há um caminho
Apruma o teu coração
Fortalece tua alma
Sacode os cacos
E jogue-os no lixo
Deixe o bicho louco
Que mora em ti
Se manifestar
E a doçura devorar
Urre, bem alto,
É preciso gritar
É preciso libertar
A fera presa na gruta
Assim, quem tem de escutar
Escuta o que é pra entender
É hora de desenredar
Assim, tu te livras
(Para sempre)
Do que te engasga
Do que te angustia
E vai tua vida viver

(Da obra: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

DESENREDO

(DES) AMOR

 (DES) AMOR

(DES) AMOR
Ouço alguém dar uma bela definição sobre o que é o amor de mão única:
“Amar sem ser amado é o verbo no tempo perdido”.

Convenhamos, nem mesmo o melhor dos gramáticos ou o melhor dos lexicógrafos daria uma definição tão contemplativa para esta composição verbal.

(DES) AMOR

DÓ MAIOR

DÓ MAIOR

DÓ MAIOR (Autoria: SÔNIA MOURA)

Entre a de te perder
E a marcha- do nosso amor
Eu vivo a perguntar:
O que será de mi, amor?
Não faça assim
Tu sabes que és
O da minha canção
E o que eu quero
É ser o sol do teu sorriso
Torcendo para que tu fiques comigo,
Sempre comigo,
Para depois para a lua te levar
Amor, caia em si
Tu sabes que eu sou tua mulher
Para o que der e vier

Mas, se tu me deixares
Passo a ser um anjo perdido
Um anjo ferido
Disposta a me vingar
Serei um anjo revoltado
Que irá zombar do
Teu orgulho de macho ferido
Fazendo-te ajoelhar-te a meus pés
Falando de amor pra mim
Em do, ré , mi, fá, sol, lá si…
Só para me vingar

Depois, aos prantos,
Irei me ajoelhar a teus pés
E implorar que tu voltes pra mim
E não me deixes tão triste assim
Amor,
Tem de mim, tem dó,
Não me deixes só com esta saudade,
Amor, isto é maldade em dó maior

(Do livro: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

DÓ MAIOR

TRÍPLICE ALEGRIA

 TRÍPLICE ALEGRIA

TRÍPLICE ALEGRIA (Autoria: Sônia Moura)

Quando alguém segue pela trilha do amor
Não há controle dos sentidos, não há sacrifícios
A escolhida e o escolhido tangem o sagrado
Transformam-se em bicho e em flor,
Ouvem sinos cantando sons iluminados
Voam aos céus e falam, mesmo estando calados

Atributos divinos forjam um novo Ser
E esse passa a viver a tríplice alegria
De ser, ao mesmo tempo:
Humano, Deus e Poesia

(Da obra “POEMAS EM TRÂNSITO” de Sônia Moura)

TRÍPLICE ALEGRIA

A AMPULHETA E O ESCRITOR

 A AMPULHETA E O ESCRITOR

A AMPULHETA E O ESCRITOR (por SÔNIA MOURA)

O tempo da escrita é o tempo da magia. O escritor senta-se à mesa ou em qualquer canto, põe-se a trabalhar arduamente: lapida, encaixa, constrói, desconstrói, lima, lixa, funde, confunde, explica, provoca, apresenta, representa, pensa, sonha, realiza, duvida, acredita, fantasia.
Quem escreve embarca nas ondas do real e da fantasia, entra no mundo da castidade e da orgia, vivencia o mundo dos contrastes, da sanidade e da loucura, do amor e do ódio, das paixões e da solidão e, embora vivendo as alegrias e as dores do mundo de seus personagens, o escritor é um ser que precisa viver essa solidão acompanhada.
Escrever é criar um mundo próprio, mas que pertencerá a todos. Aquele que escreve precisa envolver-se com o ditames do saber e das ciências, sem se deixar por elas ser levado, porque quem cria precisa deixar o sentimento fluir, misturando-o com a emoção, por isto lhe é permitido sonhar, lhe é permitido viver entre o sonho e a fantasia.
A escrita é como a água de um manso riacho que, dependendo da tempestade criadora, pode transformar-se em um mar revolto, transbordando em palavras e em belas cachoeiras metafóricas, simbólicas, sinestésicas, figurativas.
Para os Simbolistas, escritor é ourives, mas ele vai além da ourivesaria, uma vez que todo escritor é pintor, ator, entalhador, marceneiro, bordador, cenógrafo, especialista em sons e em efeitos especiais, pois, o escrito precisa trabalhar a palavra, precisa moldá-la para dar conta de todas as peripécias de sua escrita, fazendo a imagem e o som serem paridos pela palavra escrita, que será lida.
Seja para falar de amor ou de dor, de um presente, de um passado e de um futuro fictício ou supostamente real, aquele que se propõe a escrever sobre a realidade criada ou revivida precisa buscar referências e torná-las evidências, transformando sua narrativa em ancoradouro e em comprovação do real (re)criado.
Então, a ampulheta e o escritor mostram o passar do tempo, no entanto, somente o segundo é capaz de dar novas feições ao tempo, de tirar-lhe a primazia detentora de inatingível.
O escritor consegue desbancar o tempo.

A AMPULHETA E O ESCRITOR

CHICOTES DO TEMPO

 Chicotes do tempo

CHICOTES DO TEMPO (Autoria: Sônia Moura)
Como a louca perdida na praça
Os meus versos amarfanhados, descabelados
Vagam errantes, sem alegria, sem graça
Igual ao palhaço triste quando sai do picadeiro

Desamparados na noite fria, sem lua e sem estrelas
Os meus versos perambulam, sem rumo, sem prumo
Velando solitários um amor – defunto
Que antes era flor tão colorida, tão viva,
E agora é flor apodrecida
Pelos algozes chicotes do tempo

Enquanto um magoado coração
Ensandecido entoa loas
De escárnio, de horror e de lamento
Os meus versos maltrapilhos seguem
Enredados nas garras do gélido vento

Ah! Os meus versos tão insossos, quebrados
Fogem da rima, desafinam, perdem o tom
E, assim como eu, se embrenham em fendas
De cavernas taciturnas, escuras, impuras
Debatendo-se na floresta vazia, no meio do nada

Atônitos, os meus versos se jogam no abismo
Onde diques tão frágeis irão explodir
E, de suas fendas minarão águas lamacentas
A inundar olhos turvos, ensanguentados
Que só querem mirar almas algemadas à dor
E essas águas barrentas
Afogarão o que resta do amor-defunto

Os meus versos completamente absurdos
Desnudos, sujos, tontos, mudos
Árvores mortas, sem nenhum frescor
Estão totalmente desiquilibrados
São amaldiçoados
Simplesmente
Porque lhes falta o amor

[Da obra: COISAS DE MULHER de Sônia Moura]

CHICOTES DO TEMPO

AMORES BOVINOS

 AMORES BOVINOS

AMORES BOVINOS

A vaca olhava a grama

E o boi olhava a vaca

A vaca foi pro curral

E o boi seguiu atrás

A vaca pensou aflita

Esta paquera vai mal

O boi mugiu e “gritou”

E a vaca nem ligou

E para o boi assim falou:

– Agora quero dormir

Vou procurar minha cama

O boi saiu de fininho

Foi procurar o seu ninho

Já que a vaca Malhada

Com ele não queria nada

Ela estava apaixonada

Por um rapazola maneiro

Que naquelas bandas aportou

E que chamava boi Zinho

Ele era tão bonitinho

Que a vaca  logo
afirmou:

– Quero este gado pra mim

Malhada achava que o bicho novo

Era muito, muito mais charmoso,

E este fato deixou

O boi Cote furioso

Mas não teve jeito não

O boi Cote se penteou

E se enfeitou todinho

Botou seu terno de linho

Mugiu pra lá e pra cá

Fez charme

Dançou um tango

E a vaca nem aí

O boi Zinho foi chegando

Sem alarde, de mansinho,

Assim como quem

Não quer nada

A vaca se aproximou

O boi Zinho se aprumou

A vaca lançou olhares

O boi novo se arrumou

Ficaram olho no olho

Já iam partir pro beijo

Aí o boi Cote se zangou

– Que que é isso dona vaca?

Ainda nem conhece o moço

E já se derrete todinha

Pra um malandro qualquer?

– Pra que tanto alvoroço?

Pergunta a vaca Malhada

Estou gostando do moço,

Eu escolhi o boi Zinho

E ninguém vai me atrapalhar

O boi que mandava na área

Ficou bravo e bufou:

– Isto não fica assim não,

Quem manda no pasto sou eu

Mas a vaca retrucou:

– Manda em toda a manada

Mas não no meu coração,

Você não sabe de nada

Amor não crê em “senhores”

Pois é livre como o vento

Então, o boi Cote mandão

Recolheu-se ao seu canto

Sofreu com o desencanto

Mas aprendeu de uma vez

Esta verdadeira lição

Coração é terra farta

E que ninguém manda não

Malhada, toda fogosa,

Ganhava beijos do amado

Que mesmo sendo boi novo

Quando a viu lá no campo

Logo se apaixonou

Perdido em seus encantos

E estava mesmo disposto

A enfrentar o valentão

Por causa deste amor

Mas ele nem precisou

O boi Cote logo entendeu

Que podia vencer a luta,

Mas o coração da Malhada

Havia sido ocupado

E quando isto acontece

Não tem jeito, não tem volta,

Melhor é se conformar

Assim pensou e assim fez

Naquele mesmo curral

Havia uma vaca solteira

Menos bela que a Malhada

Mas olhando direitinho

Até que era faceira

Boi Cote partiu pra conquista

Mas a vaquinha fez charme

Fingindo que não entendia

O que o boi Cote queria

Ela apenas sorria

Deixando boi Cote louco

Até que um belo dia

Ela cedeu aos apelos

Daquele boi insistente

Que pensando bem

Era até interessante

Tinha charme a valer

E tinha boa intenção

Então ela deu a ele

O seu livre coração

E, assim, a vida seguiu…

 (Obra infanto-juvenil – AMORES BOVINOS de SÔNIA MOURA)

AMORES BOVINOS