CHICOTES DO TEMPO

 Chicotes do tempo

CHICOTES DO TEMPO (Autoria: Sônia Moura)
Como a louca perdida na praça
Os meus versos amarfanhados, descabelados
Vagam errantes, sem alegria, sem graça
Igual ao palhaço triste quando sai do picadeiro

Desamparados na noite fria, sem lua e sem estrelas
Os meus versos perambulam, sem rumo, sem prumo
Velando solitários um amor – defunto
Que antes era flor tão colorida, tão viva,
E agora é flor apodrecida
Pelos algozes chicotes do tempo

Enquanto um magoado coração
Ensandecido entoa loas
De escárnio, de horror e de lamento
Os meus versos maltrapilhos seguem
Enredados nas garras do gélido vento

Ah! Os meus versos tão insossos, quebrados
Fogem da rima, desafinam, perdem o tom
E, assim como eu, se embrenham em fendas
De cavernas taciturnas, escuras, impuras
Debatendo-se na floresta vazia, no meio do nada

Atônitos, os meus versos se jogam no abismo
Onde diques tão frágeis irão explodir
E, de suas fendas minarão águas lamacentas
A inundar olhos turvos, ensanguentados
Que só querem mirar almas algemadas à dor
E essas águas barrentas
Afogarão o que resta do amor-defunto

Os meus versos completamente absurdos
Desnudos, sujos, tontos, mudos
Árvores mortas, sem nenhum frescor
Estão totalmente desiquilibrados
São amaldiçoados
Simplesmente
Porque lhes falta o amor

[Da obra: COISAS DE MULHER de Sônia Moura]

CHICOTES DO TEMPO

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