DESAPEGO

DESAPEGO

DESAPEGO

O que procuras nas telas da tevê?
Em outros também se ver?

O que procuras no fundo do espelho?
Não ver os teus olhos vermelhos?

O que procuras na foto antiga?
O retorno daquela vida?

O que procuras no reflexo das águas
Afogar as tuas mágoas?

O que procuras nas nuvens do céu?
Reacender da paixão o fogaréu?

O que procuras no olhar perdido?
Se ainda resta um pouco do amor antigo?

Conselho de quem te quer:

Não procures em outros tempos
Não procures em outras imagens
E nem mesmo fora de ti
O que não existe mais
Não meta as mãos pelos pés
Acorda o teu silêncio
Valoriza o que tu és
Viva o tempo de agora

– E o resto?
– Tu jogas fora

(Da obra: Coisas de Adão e Eva, de Sônia Moura)

DESAPEGO

SONHO ESTRANHO

Sonho estranho

Uma gota de fantasia S caiu sobre o signo de câncer a , e no céu limpinho, nasceu uma lua cheia m  , e que da terra parecia estar dentro de um quadradop.

Uma estranha setaf  apontava para um confuso caminhoz .

Quando o quadrado se fechou n e a lua escureceul , ouviu-se um barulho ensurdecedor que parecia ser de uma bomba M, o tempo naquele lugar era muito estranho, parecia voar Q.

Priscila acordou assustada, mas logo viu que aquele foi apenas um estranho sonho. Levantou-se da cama e foi sorrir para a vida K.

SONHO ESTRANHO

ORAÇÃO ÀS AVESSAS

 ORAÇÃO ÀS AVESSAS

ORAÇÃO ÀS AVESSAS (por SÔNIA MOURA)

Palavras pesam
E podem ferir um coração
Não quero te deixar
E nem quero ficar
Eis o mistério de amar

De dentro do baú empoeirado
Saem palavras sangradas
Rolam correntes macabras
Correm rios desesperados
Descem lágrimas em aluvião
E eu, perdida, atordoada,
Procuro meu rosto na escuridão

Quero deixar-te ou não?
Interromper nossa aventura
Esquecer as nossas juras
Impossível
Sei que eu juro deixar-te
E te desconjuro por esse gostar
Enquanto tu, cinicamente, juras me amar

Maldigo o dia que te conheci
Bendigo a hora de te encontrar
Regozijo-me dos beijos que te dei
Mas, de uma coisa eu acho que sei:
Tu não és digno
De estar em minha morada
E nem de ter-me como sua amada

Dessa masmorra fria
Na qual doidamente me encerrei
Olho-te através das grades
Dessa prisão horrenda
Não porque me prendas

Prendo-me, arrependo-me e exagero
Simplesmente, porque te quero!

(Da obra: Súbitas Presenças, de Sônia Moura)

ORAÇÃO ÀS AVESSAS

DE BOCA EM BOCA

 DE BOCA EM BOCA

De boca em boca (por Sônia Moura)

Um soco na boca
Do estômago
– Chocante!
Um sussurro na boca
Da noite
– Calmante!
Um grito na boca
Do gol
– Esfuziante!
Um bolo na boca
Do forno
(Cheiro e sabor)
– Gostosamente!
Um sumiço na boca
Da noite
– Preocupante!
Um esconderijo na boca
Da mata
– Interessante!
Seu nome de boca em boca
(Se você der trela)
– Desconcertante!
Um beijo na boca amada
Um beijo de boca a boca
Vale mais que um diamante
– Coisa gostosa!
– Coisa de amante!
– Glorificante!

(Da obra: Coisas de Adão e Eva, de Sônia Moura)

DE BOCA EM BOCA

(IR)REAL

(IR)REAL

(IR)REAL (Autoria: Sônia Moura)

Numa estrada deserta, encontrei um mascarado. Assustei-me, não por medo, assustei-me pelo deserto da estrada e pela incompatibilidade da data e da máscara. Era julho e não era carnaval.
Olhando-me por trás de sua máscara dourada como o sol do meio-dia, a voz saiu-lhe calma e doce como o sumo de uma romã madura a escorrer pela boca, a adoçar os lábios, a enternecer a língua.
– Aonde vais? Fica comigo.
Como estávamos só nós dois e o deserto da estrada, claro que o mascarado dirigia-se a mim e prontamente respondi:
– Vou em busca de todos os meus sonhos!
Imediatamente ele retrucou:
– Irás se arriscar em um porto qualquer? Os portos dos sonhos são tão nebulosos ou seriam diáfanos?
– Não sei, disse eu, mas quero ir para o paraíso, é lá que vivem meus sonhos.
– Ah! por que ir para tão longe e me deixar aqui, sozinho a contigo sonhar…
– Quem é você?
– Sou o teu sonho, sou tua estrela, teu amor…
– Tira a máscara, por favor, por favor!
Ele começou a cantar uma canção que falava de beijos trocados num quarto de motel, de luzes e espelhos a multiplicar o par de amantes, das juras de amor a nos segurar, do sexo e dos abraços que burlavam qualquer forma de desencanto.
Terminada a canção, ele me falou:
– É por isto que eu canto.
– Quem é você, de onde vem este seu encanto?
– Dos teus sonhos, ele disse.
– Dos meus sonhos? Mas estou indo ao encontro deles.
– Para quê, se podes embarcar no navio dos sonhos, agora? Disse o mascarado, deixando o sorriso ultrapassar a máscara.
– Que navio? Não estamos no mar.
Mais uma vez, o sorriso pulou daquele rosto oculto, fazendo que pensasse ter visto um rosto sem máscara.
– Sabes que eu te amo muito, muito, muito. Por que não acreditas em mim?
Aturdida e perdida no meio da estrada deserta, no meio do sonho deserto, pela primeira vez, vejo flores ladeando a estrada, flores amarelas, como a máscara e como o sol. Só o sorriso que saltava da máscara era cor da prata, brilhava mais que a luz daquele olhar suplicante.
– Meu Deus, quem é este homem? Por que de mim se esconde? Pensei.
– Tenho tanta saudade de ti, Pequenina.
– Oh! Deus, será que é você, aquele a quem procuro a tanto tempo…
– Podes vir, meu anjo, eu sempre serei teu, só teu, de mais ninguém. Naveguei por tantos mares, conheci portos e muitas mulheres, mas nunca te esqueci. Finalmente te encontro no meio deste nada, logo você que para mim é tudo…
Uma chuva fina começou a molhar nossos rostos, nossos corpos e nossos sonhos. Agora eram a flores que sorriam.
A chuva aumentou, a máscara foi-se diluindo, diluindo e aquele rosto antigo foi-se mostrando lentamente a mim, como uma flor a desabrochar no meio do deserto.
Vi aquele rosto tão saudoso, entreguei-me a seus abraços, esqueci-me da vida e só aí percebi que eu estava a sonhar…
Mas consolei-me porque mesmo sendo apenas um sonho, algo irreal, a súbita presença daquele mascarado, agora tão real para mim, deu-me a certeza de que, em toda a minha vida, nunca mais iria sentir um amor tão real.

(Do livro: Súbitas Presenças de SÔNIA MOURA)

(IR)REAL

INCÓGNITA

 INCÓGNITA

INCÓGNITA (Sônia Moura)

A noite passou correndo por mim
Enquanto eu, aconchegada,
Em braços e carinho
Em meio às dobras quentes
De um lençol em desalinho
Vivi, mais uma vez,
A ambígua ilusão do amor
Menino levado que
Sempre quebra a ordem lógica
De qualquer viver

Foi então que a incógnita do amor,
Absoluta, impávida,
Galhardamente postada a um canto
A entoar seus cantos,
A destilar encantos,
Mais uma vez, zombeteiramente,
Se pôs a se rir de mim

(Da obra: COISAS DE ADÃO E EVA, de Sônia Moura)

Estado, Sociedade e Universidade – Sistema de COTAS

 Sistema de Cotas

Estado, Sociedade e Universidade – Sistema de COTAS

Autoria: Sônia Moura

INTRODUÇÃO

O assunto proposto para esse fórum – Sistema de Cotas – é delicado, difícil, complexo e extremamente importante. A primeira proposta de leitura e reflexão: Universidade e Sociedade nos convoca a pensar no distanciamento existente entre essas duas entidades, e, a proposta para a discussão do fórum está intimamente ligada à leitura feita e que se complementa com as outras leituras.
Ao lermos outros artigos sobre o tema em destaque, percebemos que muito há para se discutir sobre a advento das cotas na universidade, pois esse assunto nos remete a questões seculares como racismo, segregação, (não)inclusão e preconceito, feridas que ainda subsistem abertas em nossa sociedade.
Seria essa a solução para todos os descasos com que a sociedade trata essas questões? Seria essa a solução para livrarmos do ostracismo negros, pardos e índios? (hoje, a maioria deles, ainda que frequente a escola pública, pertence à classe pobre, que, atualmente, de modo eufemístico são chamados “carentes”). Quando e como a inclusão desses segregados em universidades, especialmente as públicas, poderá desatar nós tão apertados desse nosso apartheid velado?
Certamente não conseguiremos responder a todas as perguntas, mas durante esse fórum, ouvindo pessoas, trocando ideias, questionando ou aplaudindo propostas e sugestões, certamente muito iremos aprender.
A discussão proposta valida-se primeiramente pelo alto teor sócio-educativo -cultural nela contido, além de estimular novas ideias e, quem sabe, novos ideais.
A pesquisa aprofundada sobre os elementos articuladores dessa proposta – o regime de cotas para negros, pardos, índios e de alunos oriundos da escola pública – mostra que alguns entroncamentos entre a universidade e a sociedade são formas de se buscar caminhos que promovam ligaduras entre essas entidades.
Portanto, consideramos importante a investigação sobre as projeções da inclusão dos excluídos, uma vez que é impossível ignorar-se que muito há de se questionar, por exemplo: se a sociedade perde ou lucra com essa nova forma de integração social ( ou, para alguns, seria “entregação” social?), já que muitos defendem a ideia de que essa é, também, uma forma de segregação social.
O estudo da correlação entre aceitar ou repudiar essa nova forma de inclusão nos permitirá entender melhor a possível efetivação dialogal entre sociedade e a universidade.
Para ilustrar-se a discussão em pauta, vale ressaltar que, mesmo com bases históricas diferenciadas, em relação ao Brasil, em outros países como: Estados Unidos, Índia, Malásia, África do Sul, Canadá, Nova Zelândia, Colômbia, verifica-se que, embora polêmico, o sistema de cotas pode ser um bom começo, assim sendo, enquanto o que se deseja: igualdade social não acontece, procuremos entender que esse é um traço novo em nossa sociedade educacional, logo, sujeito a muitos impasses.

O IDEAL E O REAL

A história da educação no Brasil confunde-se com a história sócio- econômica do país, no que diz respeito à difícil inclusão de negros, pardos, índios e pobres nos bancos escolares, pois, arrastando-se por um longo período, o quadro da exclusão escolar não apresentava nenhum sinal de mudança ao longo dos anos.
Até os dias de hoje, se alguns negros conseguem vencer as barreiras sociais discriminatórias, esbarram nos modos de exclusão do mercado de trabalho; outros conseguem o trabalho, mas os salários são aquém de seus colegas de cor branca ou se um pobre(branco ou negro) consegue seu diploma universitário, também passará por dificuldades para se firmar no setor profissional e se, além de pobre for negro, a situação complica-se muito.
O regime de cotas confere à escola o papel de justiceira ou de feiticeira que, num passe de mágica, vai resolver problemas seculares, os quais a sociedade sempre ignorou? Como responder a essa pergunta se a ação nem sempre tem mais valor que a reação, e é sobre a reação dividida da sociedade que se insurge esta nova modalidade denominada justiça social que se movem nossas dúvidas.
Por outro lado, há os que alegam que, politicamente, as instituições de ensino não têm como recuar ante a lei e, mesmo ante a sociedade, pois, se o fizerem, correm o risco de “sujarem” a suas imagens.

Se… Se…

Ao tentarmos equacionar esse impasse, buscando saídas e respostas para as questões surgidas com o advento das cotas, estamos todos na (ou no) “condicional’: sociedade, universidade, Estado.
Se, por um lado, o sistema de cotas poderá ser visto como resgate histórico- cultural que dará oportunidades àqueles que sempre estiveram à margem, por outro lado, assim como os negros eram tratados pelo poder da chibata, também muitos afirmam que as instituições de ensino irão trabalhar debaixo da chibata legal, e o Estado, dono da chibata, também leva suas chibatadas.
Discute-se muito se o Estado não está colocando panos quentes sobre suas mazelas: desigualdade social e escolaridade deficiente, deficitária, incapaz de formar indivíduos que possam concorrer a uma vaga na universidade sem recorrer a cotas. Possivelmente, sim, essa é a resposta. Mas, a curto prazo, haverá outra saída?
Mudar as bases da divisão de renda ou cumprir o que diz a lei, dando os mesmos direitos educacionais a todos, isto é, educação de qualidade e respeito à cidadania – esse seria um bom caminho para o Estado trilhar.
Se por um lado a proposta das cotas propicia transformações sociais de alta relevância, pois é um projeto que pretende fundamentar suas ações em inclusões que consigam ao menos equilibrar forças tão díspares, que digladiam com valores arraigados e com novos valores, por outro lado, há o questionamento de que as cotas poderão contribuir para a acomodação do Estado e de suas políticas educacionais, fazendo com que cada vez mais a educação fique relegada a último plano nas prioridades dos governos.
À sociedade cabe o dever de transformar o instituído, mesmo que inicialmente este projeto nos cause estranhamento, acredito que devemos tentar aceitá-lo e acatá-lo, pelo menos por um tempo. É o ideal? Não, não é, porém é o real, é o que se apresenta no momento. É uma pequena fresta através da qual o direito à educação superior estenderá seus braços a todos, ou a quase todos, porém, devemos continuar atentos e cobrar do Estado que ele desempenhe o seu papel.
Lembremo-nos de que a escola é um espaço de encontro, no qual os diálogos devem – se multiplicar, assim, espera-se que esse momento de tensão, possa servir para que o futuro se abra para nós, com novas perspectivas e que seja a escola o lugar no qual todos possam, de fato, um dia, estar.

FGV – Seminário/ 2010- Apresentação: Sônia Moura

Receita maravilha

 Receita maravilha

Receita maravilha

Bolo: Felicidade não é ter, é ser!


Ingredientes: sua essência, seu querer, sua confiança [quantidade necessária]

Modo de agir:

Primeiramente, seja menos exigente com você, só então, junte os ingredientes, faça as pazes com sua autoestima, colocando um tanto de carinho em sua conta especial, em seguida, diminua as expectativas, não espere muito, só assim entenderá que conseguirá o que, de fato, for importante, acrescente a tudo isso, a certeza de que você pode tudo o que quiser.
Deixe dourar com o calor de sua vontade da sua mente e sirva-se à vontade.