REAL FICCIONALIZADO

real ficcionaizado

REAL FICCIONALIZADO (Autoria: SÔNIA MOURA)

Na acepção clássica da palavra, os sentidos e formas de representação ou de reapresentação do real exibem-se de modo bem variado: como escola literária, como concepção global de vida e literatura; como representação horizontal e vertical do mundo; como representação social, abarcando o verdadeiro e o verossímil; como realidade esteticamente transfigurada- o real recriado; como transcendência de outras realidades – o real histórico, o real verbal; o real mental – consciente ou inconsciente; o real confessional e o real virtual.

Deste modo, ao desdobrar inquietações e reflexões constantes sobre a circular viagem do real, através da narrativa romanesca, em que se destacam elementos contextualizadores do romance histórico, o narrador distribui, ao longo do texto: ficção e factuação, sequestrando o real e tornando-o refém dentro da sua escolha narrativa.

E é deste uso que o narrador faz do real que autor, leitor e narrativa se alimentam e dão voz ao texto, fazendo desabrochar o prazer e a fruição do texto, seguindo a defesa de Barthes, que diz: o prazer é dizível, a fruição não o é.”. 

Por sua natureza constitutiva, o romance denominado histórico é uma narrativa ficcional, composta por um real representativo de uma verdade criativa, nascida do culturalmente vivenciado e outro real que retoma uma verdade histórica.

Deste modo, a inclusão do real ficcional, juntamente com o real informacional dissimulado, dá sustentação ao real histórico vivificado, para que seja feita a construção dos eventos textuais e dos múltiplos sentidos da realidade. Aliada a esta inclusão, a seleção dos acontecimentos e a interferência do narrador nos registros da história são uma tentativa de ajudar o leitor a ancorar o real pluralizado, o qual circulará entre a ficção e a factuação.

Compreendida como multiplicidade discursiva dimensionada, esta modalidade narrativa nos apresenta um real amplo e ambíguo, em que as formas narrativas fazem uso dos vários sentidos e formas de representação do real para com ele se conectarem e para verbalizarem o mundo, enquanto as construções linguísticas capturam o real, sem imobilizá-lo, para que a acumulação de seu valor: duvidoso, incerto, provável, mutável, transitório e móvel – se confirme.

No romance histórico, a ancoragem do real se dá, quando, no momento da leitura, a linguagem traz subjetividades que, para o leitor, tornam-se reais e estas ganham ares de objetividade.

E, é este fato que promove o diálogo-leitura entre personagens, narrador, os fatos históricos e as artimanhas ficcionais, atando as pontas de tempos e espaços, tanto no patamar da narrativa, quanto no ambiente social do leitor, confirmando o que nos ensinam Berger e Luckmann: “Meus próprios significados subjetivos tornam-se objetiva e continuamente alcançáveis por mim e “ ipso facto” passam a ser “mais reais” para mim.” desta forma, como no decorrer de um diálogo, de uma conversa, tudo que é descrito e (re)recriado torna-se real para quem fala, para quem ouve ou para quem lê.

( Sônia Moura– UNIVESDIDADE FEDERAL FLUMINENSE  – 2007 – [fragmento])

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