O TRÂNSITO DA FELICIDADE

 O trânsito da felicidade

O TRÂNSITO DA FELICIDADE  (Autoria: SÔNIA MOURA)

Julieta gostava de cantar, de dançar e de representar, alegrava-se e alegrava os outros. Um dia chegaram umas pessoas estranhas em sua aldeia, Julieta deu entrevistas, cantou e dançou.
Resolveram que ela deveria gravar um CD, era boa demais para ficar perdida naquele fim de mundo. Julieta daria um bom dinheiro.
Vestiram-lhe roupa nova; calçaram- lhe sapatos. Julieta viajou de avião, foi a lugares que o pessoal da aldeia nem poderia sonhar. Comeu umas comidas diferentes, apareceu na televisão, agora era global.
O mercado tecia a sua renda e prendia Julieta neste novo mundo. Ela gostava de cantar e dançar, gostava de alegrar.
Cada vez exigiam mais e mais dela, que já não tinha vida própria, era dirigida, manipulada, sua alegria precisava dar lucro.
A moça cantava sem parar, sorria sem parar. Os pontos da renda do mercado iam ficando mais fechados, iam envolvendo a nova Julieta tão distante de sua aldeia, de sua gente e da alegria que fazia transitar entre eles.
Chegou um tempo em que renda tornou-se tão densa, tão fechada que Julieta não conseguia soltar-se dela. A moça perdera a graça, a renda era tão grande, tão forte e tão fechada que não mais permitia o trânsito da felicidade.

(Do livro: Minimente Crônicas de Sônia Moura)

O trânsito da felicidade

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