ESPAÇO AÉREO
(Autoria: Sônia Moura)
Estava distraída
Quando alguém invadiu
O meu espaço aéreo
Imediatamente
Ativei meus caça-fantasmas
Que voaram em defesa dos meus limites
Num momento em que eu estava tão aérea
Tarde demais
O espaço já fora invadido
Não havia mais limites
Eu já havia sido invadida
Não havia mais jeito
O sujeito, abusado, ousado e
Descarado como ele só,
Penetrara sofregamente em meu espaço aéreo
Eu disse a ele: me respeite, sujeito,
E se dê o respeito
Mas não adiantou
O sujeito arteiro
Leu meus pensamentos
Dominou meu coração
Sonegou minha alma flutuante
Tentei bloquear esta invasão
Tentei afastar o invasor
Não houve jeito
Ele já tinha entrado em mim
E tinha me feito sua amante
Meus caças tinham ordens de fazer a escolta
E levar o invasor de volta
Eu não queria deixá-lo ficar
Ordenei, sapateei, mandei-o voltar
Tudo inútil
Havia nele um sei lá o quê
Chegou de repente e
Com aquela voz de manteiga cheirosa
Com aquelas palavras melosas
Com aquela ousadia sem par
Aquele insolente
Dominou o meu espaço
Conseguiu me assujeitar
Penetrou em meus desejos
E, sem parcimônia,
Instalou-se em meu espaço
Que vagava tão aéreo
E, instalado, tomou-me em seus braços
Aninhou-se em meus abraços
Beijou-me a boca
Deixou-me tonta
Louca
Eta! Sujeito,
Que afronta!
Agora não tem mais jeito
Me embrenhei neste sujeito
(Do livro POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)