CACOS DE LEMBRANÇAS

 CACOS

CACOS DE LEMBRANÇAS
(Autoria: Sônia Moura)

Dos porões das minhas saudades
Recolho tempos
São cacos de lembranças
Nada mais

Mas como valem estes cacos
Que, às vezes, jogamos fora
Expulsando esperanças
Matando nosso eu -criança
Que deveria viver

Os cacos de nossas lembranças
Servem para lavar a alma
E perfumar o dia-a-dia
Naquele tempo ensolarado
Eu não sabia
Que, hoje, neste tempo tão nublado
Eu os recolheria
E os guardaria

Não, eu não sabia

Como plumas minhas aventuras
Agora em cacos, voam ao vento
Como folhas são jogadas ao chão
Mas, por poucos momentos
Colho-as, preciso delas
São minhas lembranças

Hoje, já não sou criança
E, ainda assim, preciso delas
Para adoçar qualquer pranto
Que ouse me invadir
Preciso delas
Para não deixar morrer o canto

Cacos, preciosos cacos feitos de lembranças

Vou juntá-los um a um
Para montar o quebra-cabeça
Para que eu jamais me esqueça
Dos portos em que ancorei
Dos afagos com os quais me deliciei
Dos passeios em que me diverti
Das alegrias que aprendi e
Das mágicas artimanhas
Que outrora vivi

Não, não quero as lágrimas salgadas do passado
Não quero a tristeza, não quero a dor
Das lembranças, quero só a beleza
Todo o resto está morto
Deposto

Quero recompor a vida
Catando os cacos das minhas lembranças

Quero o picadeiro dos dias de domingo
Quero de volta o palhaço que ainda mora em mim
Quero o elefante, o tigre, o leão, sem o domador,  por favor
Quero o homem gigante que engole fogo
(Hoje, já aprendi também a engolir,
Não fogo, mas sapos
A vida é assim)

Quero o circo de outrora
Não o de agora
Quero o circo mambembe
Encravado em minhas memórias
Quero o circo da vida
Quero a minha história

(Do livro: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *