A LUZ DOS TEUS OLHOS

Luz dos olhos

Era noite, era o momento da treva, porém no meio dela surgiu uma luz. O salão fervilhando, a música, a dança e … a luz.
Artificialmente bela, iluminava aquele palco, piscava, tremulava; chamam-na luz negra. Projetava-se sobre nós, destacando-nos por inteiro naquele cenário, tudo mais era escurtidão. Seria isto verdade ou eram os nossos sonhos que se alinhavavam e dirigiam o foco de luz para este ponto que eram dois?
Os corpos pareciam movimentar-se mais que de fato o faziam. E a luz começou a brincar com o brilho do desejo.
Luz Negra – relação semanticamente incoerente.
Foi sob o reflexo desta luz, emergindo no meio da névoa dos cigarros, que o vestido branco adquiriu um brilho cor de prata e os sorrisos, à luz ambiente, também ficaram prateados.
Mudamos o cenário. À nossa frente , um mar imenso se oferecia enquanto bebia mansamente a luz do luar, suas ondas se encrespavam, balançando a cabeleira prateada, era noite de lua cheia.
Num caminhar lento, quase tristonho, a luz prateada, roubada do astro rei, beijava o contorno dos corpos, das árvores, das montanhas e ia-se escondendo, deixando o palco para o sol que surgia dorminhoco, a bocejar, a lançar raios de luz, rompendo a cortina de uma nova manhã.
Continuávamos ali, sentados na areia que já apresentava uma nova face, parecia preparar-se para um baile, aceitava a nova maquilagem , seus grãos, refletindo os raios de luz mais intensos, brilhavam como se fossem pequenas estrelas, nas quais podíamos tocar; o mar vestia um novo manto, cujos tons iriam-se modificar ao longo do dia, de acordo com a força e a posição daquela fonte de luz; não estaríamos ali para ver estas mudanças.
O sol ia despejando luz e calor sobre tudo e todos que estivessem à luz do seu olhar, e, passo a passo, o olhar, pleno de luz, veria certamente contornos nítidos, transformados, pouco visíveis; mas não estaríamos mais ali para ver estas mudanças.
Era hora de partir. Outras noites, outros dias, outros sóis, outras luas se passaram e passarão no meio de luzes e de sombras; o espetáculo é infinito.
Como contas azuis, dois minúsculos pontos de luz brilham na cor da minha saudade e fazem par com os versos da canção: “Ai, amor, a luz dos seus olhos”.
À luz da razão, o tempo é finito.

(Do livro  CONTOS E CONTAS, de SÔNIA MOURA)

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