Labirintos da Imaginação (por Sônia Moura)
Para se viver à margem da prisão à qual nos submete a realidade, basta seguirmos pelos labirintos da imaginação, porque, somente lá, se pode entender os verdadeiros significados de todos os nossos sonhos e mais íntimos desejos.
Apenas pelos desvios dos labirintos da imaginação, os enigmas podem ser revelados e, da mesma forma, os mistérios podem ser desvendados, pois seus véus e tapumes são retirados e eles se mostram a quem quiser ver.
Brincando nos labirintos da imaginação, a poesia se enche de razão, nos enche de emoção, levando o mais cético a crer num deus do amor que descerá dos céus para resgatá-lo e a seu amor.
É perdendo-se dentro dos labirintos da imaginação que se alcança a ilimitada liberdade, quando a palavra se torna serva, irmã, amante e cúmplice, para revelar nosso eu.
Lágrimas e sorrisos se fundem quando se hospedam nos labirintos da imaginação, para fazer com que imagens etéreas dissipem a escuridão, dando mais brilho à luz.
Mas, nem mesmo os labirintos da imaginação dão conta de decifrar, entender o que se passa no coração daquele em que o esplendor do bem querer tentou se aninhar, no entanto, como o bem aventurado deixou suas janelas e suas portas muito bem trancadas, não permitindo a entrada de Cupido, exatamente porque este ser não tem imaginação e, sem ela, não há labirintos a percorrer.
A mente do louco permite a fantasia, a alegria, as viagens; a mente do sábio permite a criação, a recriação, o aprender e o ensinar; a mente do inocente é tão límpida que tudo nela cabe, porém a mente daquele que não permite a chegada do amor, daquele que não se permite provar este sabor, às vezes doce, às vezes amargo, por medo ou por covardia, é uma mente tão vazia, tão gélida, tão desértica, tão sem imaginação, tão sem sensibilidade e sem qualquer sentimento, que só lhe resta a condenação imposta por ele mesmo, ao encarcerar-se numa prisão sem grades.
Se aparecer alguém que lhe dê um fio como o de Ariadne, que foi ofertado a Teseu, pelo amor que Ariadne nutria por ele, pode-se entrar ou sair de qualquer labirinto, pode-se voltar a ele, sonhar, brincar, se isolar ou partilhar, mas do deserto da mente, da prisão sem grades, ninguém jamais conseguiu ou conseguirá escapar.
(Da obra COISAS DE MULHER de Sônia Moura)