A Arca (Autoria: Sônia Moura)
Não tinha coragem de abrir a velha arca chinesa e muito menos abrir o seu coração povoado por velhas lembranças, desde que sua irmã gêmea morreu afogada e ela passou a sentir-se eternamente culpada.
Mas, naquela sexta-feira fria, sozinha em casa, não sabia bem o porquê, sentia-se tentada a abrir aquele cadeado e mergulhar nas águas do passado.
Por um tempo olhou aquela chave antiga, titubeou, brincou com a conta negra que pendia do cordão e seguiu em frente. Abriu as portas do passado.
Mergulhando no meio de tantas lembranças amareladas, Mariana encontrou o passado escondido, tão pálido como o papel que envolvia o álbum de retratos, lá estava seu mundo tão distante. Naquele momento, Mariana viu seu inocente mundo ser reconstituído.
Fotos de uma infância distante vieram à tona, para saudar aquele momento.
A menina da foto sorriu para ela, a mãe lançou-lhe um olhar de saudade.
Disse adeus ao passado, fechou novamente a arca e pensou: – Quem sabe um dia meus filhos coloquem tudo isto no computador?
Finalmente, Mariana libertara-se de sua própria arca.
(Da obra CONTOS e CONTAS de Sônia Moura)