EROS E TANATOS – haverá um vencedor?

 

 EROS E TANATOS – haverá um vencedor?

 

EROS E TANATOS – haverá um vencedor?   (por SÔNIA MOURA)

 

O romance Adeus a Aleto de Roberto Muniz Dias nos traz a leitura polissêmica das sensações, suscita o reexame da força dos sentidos, do que é erótico (e não pornográfico), do que é desejo (e não vulgaridade), e ativa a circulação de EROS e TANATOS,  através de todos os sentidos.

O diálogo entre o EU e o OUTRO sugere novas possibilidades de compreensão do desejo, regido pelos sentidos, provocando as sensações, por intermédio das quais os elementos constitutivos do mundo mostrado projetam-se nas figuras de EROS e TANATOS, insuflando o leitor cuidadoso a voltar-se para as imagens com o olhar revelador do jogo da representação erótica.

EROS e TANATOS são elementos transitivos nesta narrativa e, na existência dos contrários, tecem o mistério do desejo pleno, no qual convivem no mesmo espaço: vida e morte, realidade e fantasia, dor e prazer.

Neste jogo da representação erótica, o sujeito, na busca das mais profundas sensações, se coloca primeiramente diante do seu outro para (re)nascer, instalando-se no outro, pela conjunção de elementos provocadores do intercâmbio: amor e desejo.

O poder da sedução surge pela transformação mágica do prazer, colocando em embates constantes a loucura e a razão, o medo e a coragem, deixando desabrochar o prazer em flor e o desejo sem culpa, sem barreiras ou fronteiras com a clareza da liberdade animal. Deste modo, a fábula amorosa envolve os amantes e mostra uma natureza erótica não parasitária.

Construindo um mundo às avessas do que é “permitido”, os sentidos explodirão em cores, sabores, peles e sons instigando os protagonistas e aos leitores a se embrenharem por labirintos saborosos, excitantes e estimulantes.

Símbolo de fecundação, germe da criação, a palavra é fertilizadora e é por meio dela que o protagonista se “engravida” de fantasias e também a seus leitores e são estas fantasias, transmutadas em palavras, que irão ocupar o lugar da desarticulação, para que EROS e TANATOS se encontrem.

Dotadas de poderes mágicos, as palavras vão-se instalando, conquistando e se deixando conquistar, e, medindo-se num corpo-a-corpo incansável, travam um duelo permanente com EROS e TANATOS.

A fantasia abandona-se ao prazer da digressão sexual, quando entram em cena o toque, o tato, o contato e a pele. A partir deste momento, amor e aventura emolduram um mundo onde tudo cabe, e nesta mistura de pontos: tato, contato, pele e toque, o fantasma atraente de EROS é o herói sem disfarce que ajuda os amantes a vencerem qualquer obstáculo e se tornarem os herdeiros do sonho.

Em Adeus a Aleto, do início ao fim do romance, a presença de TANATOS no território de EROS é sistematicamente reafirmada para, ao final, ambos se apresentem como identificadores da MORTE e da VIDA, no momento em que o círculo se fecha e TANATOS substitui EROS para assegurar a vitória do prazer.

 

(SÔNIA MOURA)

EROS E TANATOS – haverá um vencedor?

2 comentários sobre “EROS E TANATOS – haverá um vencedor?

  1. Roberto Muniz Dias disse:

    Caríssima Sônia,

    Ainda perplexo, invadido por esse mar de percepções que ainda não
    tinha experimentado.
    Mas aí está a complexa natureza da Literatura, desvendada nas
    estrelinhas que apenas os outros visualizam.
    Estou ainda etupefato com suas palavras. A ligação com o OUTRO,
    repousando na extensão do EU incompleto e a menção de EROS e TANATOS
    mudaram uma perspectiva que tinha se fixado na minha visão
    monocromática.
    E a beleza, e a grandeza de sua crítica- que foi benéfica por inteira,
    o que muito me animou- foi o fato de deixar subentendido o fato de o
    livro tratar de um romance gay, sem referências a APOLO e JACINTO.
    Sem saber mais o que dizer, ainda tomado por essa onda de felicidade
    cobrindo-me com suas palavras, fico aqui na divagação que ainda me faz
    flutuar diante de suas palavras.
    Meu sincero obrigado.

    Roberto Muniz Dias

    P.S. Se você me permite, gostaria de agradecer o comentário deixado, acima, por Heddy Dayan.

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