ROSA ALGEMADA

ROSA ALGEMADA

ROSA ALGEMADA  (Autoria: Sônia Moura)

 Não era mais uma linda Rosa juvenil, mas ainda tinha seu charme, sua graça e muita sensualidade, apenas não as via mais. 

Um dia, saiu a passear e encontrou um desvio.

Pelas mãos inusitadas do destino, aquela flor desconsolada foi tomada por uma alegria febril, ao deslumbrar a bela tarde que se abria em leque numa espécie de magia lírica, feita pelas mãos da natureza, as quais trançaram uma rede sobre o tempo, abolindo os toques de artificialidade, que quisessem neste tempo se instalar.

Também qualquer incerteza que tentasse invadir aquele momento, certamente seria expulsa, porque a poesia já pousara sua mão direita sobre a algema que prendia Rosa, decretando que esta iria se romper brevemente.

Naquele instante Rosa percebeu que a poesia pode nascer de nós mesmos, pela luz de nosso olhar, pela alegria de uma alma bailarina ou pela beleza de um momento de ternura.

Rosa viu ainda que o tempo da linda Rosa juvenil passara e fora intensamente belo, mas há sempre novas alegrias a serem descobertas, há sempre o que se reinventar e se dar luz plena  a cada tempo que colore a flor, ainda que os espinhos do tempo venham em nós pousar.

 A Rosa menina em botão e a linda Rosa juvenil foram os retratos da vida que  vieram à mente de Rosa. Então a Rosa de agora, plena, linda, iluminada mostrou a sua nudez a Eros.

Com ferro em brasa, Rosa marcou o tempo, deu brilho ao espelho, onde pôde ver seu verdadeiro rosto e prendeu o fio da vida à sua alma aquecida pelo orgulho de ser ela mesma, em qualquer tempo e não mais procurou no espelho outro rosto, aquele que ficará docemente guardado em sua memória.

Enquanto a  bela Rosa rechaçava o terrror ao passar do tempo, a imagem da nova-velha mulher invadiu o jardim de todas as delícias para o novo alvorecer. 

Não ser mais a linda Rosa juvenil, não mais será sinônimo de tristeza ou ansiedade, ela agora sabe que o tempo tem que desempenhar o seu papel, assim, o tempo segue e, enquanto estivermos de mãos dadas com ele, seremos deuses e deusas a brincar de eternidade.

Neste tempo de agora, a linda Rosa ergue a taça e bebe calmamente o vinho que guarda todos os seus encantos de todos os tempos.

Enquanto o que estava fragmentado ia se recompondo, Rosa voltava a ser ela mesma, agora  não precisava mais de arreios, de grades ou de algemas.

 

(Do livro: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

 ROSA ALGEMADA

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