O SILÊNCIO DAS FLORES [ou PARADOXAIS]
(Autoria: Sônia Moura)
Como falar sobre o luar que se lança sobre um lago e nele faz a sua dança de acasalar, ainda que o ser amado ali não esteja?
Como contar sobre uma noite de amor pleno, sem colocar sol nas palavras que tentam reprisar aqueles momentos que aconteceram à luz do luar?
Como enumerar as vezes em que, enquanto os sonhos regam o desejado encontro de amor, em nossa boca, o sabor do vinho, que nunca provamos, brinca com nossas fantasias?
Como falar da alegria com que sentimos os pingos da chuva molhando nosso rosto, nosso corpo, nosso sorriso, quando o sol alto já vai, e as gotas da chuva em nós já não vivem mais?
Como falar dos sonhos que se sonha acordado e, nestes sonhos, cabemos nós dois, pois sonhamos nós dois, o mesmo sonho?
Como falar do lugar para o qual ainda não fomos, mas que para lá nos mudamos de mala e cuia, neste lugar já está nosso lar idealizado, para onde iremos acomodar móveis, utensílios e nossos melhores sonhos?
Como falar da infância que longe vai, mas que revive em nós aos setenta, oitenta anos, com gosto de frutas frescas e de seus sumos a escorrerem por nossas gargantas, quando a imagem do amor da infância nos visita?
Como falar do gosto do beijo que ficou marcado para sempre nos lábios que já foram esquecidos, mas que ainda guardam o sabor de um beijo tão distante.
Como falar destes momentos?
Seria…
Adoçando as palavras, colocando nelas o sal da vida, o tempero do amor, a aura da alma e a (in)constância da poesia?
Ou…
Melhor será reproduzirmos o que nos fala o silêncio das flores?