CHICOTES DO TEMPO

 Chicotes do tempo

CHICOTES DO TEMPO (Autoria: Sônia Moura)
Como a louca perdida na praça
Os meus versos amarfanhados, descabelados
Vagam errantes, sem alegria, sem graça
Igual ao palhaço triste quando sai do picadeiro

Desamparados na noite fria, sem lua e sem estrelas
Os meus versos perambulam, sem rumo, sem prumo
Velando solitários um amor – defunto
Que antes era flor tão colorida, tão viva,
E agora é flor apodrecida
Pelos algozes chicotes do tempo

Enquanto um magoado coração
Ensandecido entoa loas
De escárnio, de horror e de lamento
Os meus versos maltrapilhos seguem
Enredados nas garras do gélido vento

Ah! Os meus versos tão insossos, quebrados
Fogem da rima, desafinam, perdem o tom
E, assim como eu, se embrenham em fendas
De cavernas taciturnas, escuras, impuras
Debatendo-se na floresta vazia, no meio do nada

Atônitos, os meus versos se jogam no abismo
Onde diques tão frágeis irão explodir
E, de suas fendas minarão águas lamacentas
A inundar olhos turvos, ensanguentados
Que só querem mirar almas algemadas à dor
E essas águas barrentas
Afogarão o que resta do amor-defunto

Os meus versos completamente absurdos
Desnudos, sujos, tontos, mudos
Árvores mortas, sem nenhum frescor
Estão totalmente desiquilibrados
São amaldiçoados
Simplesmente
Porque lhes falta o amor

[Da obra: COISAS DE MULHER de Sônia Moura]

CHICOTES DO TEMPO

AMORES BOVINOS

 AMORES BOVINOS

AMORES BOVINOS

A vaca olhava a grama

E o boi olhava a vaca

A vaca foi pro curral

E o boi seguiu atrás

A vaca pensou aflita

Esta paquera vai mal

O boi mugiu e “gritou”

E a vaca nem ligou

E para o boi assim falou:

– Agora quero dormir

Vou procurar minha cama

O boi saiu de fininho

Foi procurar o seu ninho

Já que a vaca Malhada

Com ele não queria nada

Ela estava apaixonada

Por um rapazola maneiro

Que naquelas bandas aportou

E que chamava boi Zinho

Ele era tão bonitinho

Que a vaca  logo
afirmou:

– Quero este gado pra mim

Malhada achava que o bicho novo

Era muito, muito mais charmoso,

E este fato deixou

O boi Cote furioso

Mas não teve jeito não

O boi Cote se penteou

E se enfeitou todinho

Botou seu terno de linho

Mugiu pra lá e pra cá

Fez charme

Dançou um tango

E a vaca nem aí

O boi Zinho foi chegando

Sem alarde, de mansinho,

Assim como quem

Não quer nada

A vaca se aproximou

O boi Zinho se aprumou

A vaca lançou olhares

O boi novo se arrumou

Ficaram olho no olho

Já iam partir pro beijo

Aí o boi Cote se zangou

– Que que é isso dona vaca?

Ainda nem conhece o moço

E já se derrete todinha

Pra um malandro qualquer?

– Pra que tanto alvoroço?

Pergunta a vaca Malhada

Estou gostando do moço,

Eu escolhi o boi Zinho

E ninguém vai me atrapalhar

O boi que mandava na área

Ficou bravo e bufou:

– Isto não fica assim não,

Quem manda no pasto sou eu

Mas a vaca retrucou:

– Manda em toda a manada

Mas não no meu coração,

Você não sabe de nada

Amor não crê em “senhores”

Pois é livre como o vento

Então, o boi Cote mandão

Recolheu-se ao seu canto

Sofreu com o desencanto

Mas aprendeu de uma vez

Esta verdadeira lição

Coração é terra farta

E que ninguém manda não

Malhada, toda fogosa,

Ganhava beijos do amado

Que mesmo sendo boi novo

Quando a viu lá no campo

Logo se apaixonou

Perdido em seus encantos

E estava mesmo disposto

A enfrentar o valentão

Por causa deste amor

Mas ele nem precisou

O boi Cote logo entendeu

Que podia vencer a luta,

Mas o coração da Malhada

Havia sido ocupado

E quando isto acontece

Não tem jeito, não tem volta,

Melhor é se conformar

Assim pensou e assim fez

Naquele mesmo curral

Havia uma vaca solteira

Menos bela que a Malhada

Mas olhando direitinho

Até que era faceira

Boi Cote partiu pra conquista

Mas a vaquinha fez charme

Fingindo que não entendia

O que o boi Cote queria

Ela apenas sorria

Deixando boi Cote louco

Até que um belo dia

Ela cedeu aos apelos

Daquele boi insistente

Que pensando bem

Era até interessante

Tinha charme a valer

E tinha boa intenção

Então ela deu a ele

O seu livre coração

E, assim, a vida seguiu…

 (Obra infanto-juvenil – AMORES BOVINOS de SÔNIA MOURA)

AMORES BOVINOS

ECOS DE AÇO

ECO DE AÇO

Ecos de aço

O som oco do eco era ouvido como se fosse de aço e

Penetrava na caverna labiríntica da saudade

Trazendo à lembrança a antiga presença.

  

O choro descendo

E alguém me dizendo:

         Paciência!

         Paciência?

         Ah! Tenha clemência!

Foi só o que pude falar

  

Eco oco de aço insistente

Martelando a minha saudade

Até achatá-la

Mas não para  matá-la,

Como quero eu

  

O que faço

Com este eco de aço?

Rechaço?

Afasto?

Ou

Acolho e dele me sirvo

Para amenizar a minha dor

De amor?


(Da obra: Coisas de Mulher de Sônia Moura)


dialogo1.jpg

FANTASIA

 fantasia

FANTASIA  (Autoria: Sônia Moura)

Procure assimilar o som

Da mais urdida poesia

Que invadiu minha alma vazia

Para que, juntos, dentro

De algum círculo vicioso,

O qual a luz atravessa

Todas as dimensões da alegria

Possamos gozar do que nos oferece

A realidade da nossa fantasia

Da obra: Coisas de Mulher de Sônia Moura

fantasia

O Vai-e-Vem da Sanfona


o vai-e-v-em da sanfona

O Vai-e-Vem da Sanfona  (Autoria: Sônia Moura)

A vida nos prega peças

A vida é boba à beça

A vida nos traz surpresas

A vida é uma beleza

A vida nos faz chorar

A vida é de amargar

A vida nos faz sorrir

A vida é o porvir

A vida nos traz saudade

A vida é só vontade

A vida nos mostra amor

A vida é só sabor

A vida nos traz desamor

A vida é só temor

A vida nos dá Gonzagão

A vida é a batida de um coração

A vida nos dá  Gonzaguinha

A vida é rima prontinha

A vida é mesmo assim

Um vai-e-vem inconstante

Como o fole da sanfona

Abre e fecha a todo instante

Senão o som não sai

Senão a alegria não entra

Senão a dor e a esperança

Não podem nela morar

A vida é mesmo uma roda

Quem entra não quer sair

A vida é uma doce ilusão

Já dizia Gonzaguinha

Filho do grande Gonzagão!

(Da obra: Poemas em Trânsito de Sônia Moura)

SAUDADE

SAUDADE

SAUDADE (Autoria: Sônia Moura)

Numa noite de maio
Após o teatro, chovia,
Eu, alegre feito passarinho
Você, feliz por mim, sorria

Já faz tanto tempo…

Nesta noite de outubro
Bateu uma saudade…
Esteja onde estiver
Pra você:
O meu carinho
Bordado de saudade

Boa noite, amor
(Da obra: Coisas de Mulher de Sônia Moura)

SAUDADE

LINHAS

 LINHAS

LINHAS  (por Sônia Moura)

 

 Tênues são as linhas de tua luz

Que atravessa o meu caminho

Desenhando a encruzilhada

Ao mostrar que a vida

Sem amor

É (quase) nada

 

(Da obra: Coisas de Mulher de Sônia Moura)

LINHAS

 

 

TEU HOMEM

Teu Homem

TEU HOMEM (Sônia Moura)

Silêncio!
Dá-me tua mão
Sigamos o luar

Não há o que falar
Concentra-te na imagem
Sobreposta de mim
Encantado em ti
Não negues o amor
Absorve o sentido
Afasta a carência
Abraça a inocência

Com olhos fechados
Alarga o olhar
Agora sou pássaro
Em teu ninho a penetrar
Lugar quente e úmido
A me profanar
A me endeusar
A me orgulhar
De ser teu homem
Quem em ti se aninha
Que ri à toa
Por seres minha

(Da obra: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)