POEMÁGICA

 poemágica

POEMÁGICA (Autoria: Sônia Moura)

Não há chuva e nem há sol
Não é noite, nem é dia
Não é sal, nem é mel
Não é pássaro, nem avião
Não há plenitude e não há solidão
Não é palavra, nem silêncio
Não há métrica e não há rima
Mas…
Há um poema de amor
Escondido por trás da fina cortina
E como uma tarde de luz dolente
O cabide vazio penetra em minha mente

O mar banha os meus sonhos
E sorri para mim
Não vejo o meu rosto
Não sei onde estou
E nem sei onde vou
Apenas resolvo seguir

O poema irá comigo
Porque sem ele nada fará sentido
Quero entender este tema
Quero olhá-lo com os olhos da alma
E penetrá-lo mansamente
Com a mais indecente sofreguidão
Para ver se afasto a solidão
Afasto as sombras que insistem em dançar
Bem no meio da palavra amor

Tão órfão como eu, está este poema
Mais parece um pássaro sem penas
Sem ninho, sem cânticos
Então…
Me ponho no lugar da ave e
Canto aos quatro ventos
Chamo aqueles misteriosos versos
Imploro para que venham até mim
E assim, quem sabe encontre neles
A resposta que tanto procuro
E só assim
Saio do meio deste embaraço
E me acho
(Do livro Poemágica de Sônia Moura
POEMÁGICA

NOITE POÉTICA

 noite poética

Noite Poética  (por Sônia Moura)

 

Rindo sempre de suas próprias histórias, Januária contou-me esta, bem interessante.

Certa feita, enfeitou-se com um colar de contas verde-esmeralda, acompanhado por um singelo par de brincos da mesma cor, colocou um pretinho básico e saiu para curtir a noite, que aliás estava totalmente poética, segundo ela.

Brincou, riu, farreou, dançou.

E, quando o dia clareou, descobriu-se numa cama qualquer, num hotel da Central do Brasil, agora, enlaçada por outro pretinho básico, muito carinhoso.

Sei entender muito bem onde estava, olhou para o céu, sorriu para o dia, pegou seu colar de contas verde-esmeralda, beijou o moço e saiu para a vida.

Nunca mais viu aquele homem que conheceu numa boite, ele DJ, ela dançarina, porém a lembrança daquela noite, nunca mais partiu.

Quando pensa nas gostosas loucuras da vida, Januária apenas sorri…

(Do livro CONTOS & CONTAS DE Sônia Moura)

Noite Poética

DISCO DE VINIL

 disco de vinil

DISCO DE VINIL (Autoria: Sônia Moura)

Conhecia Fátima e Ivo há muito tempo, morávamos no mesmo bairro desde os doze anos, isto já faz tanto tempo…
O tempo voou e, quando demos por nós, já estávamos de casamento marcado, eu com Marinete e Ivo com Juliana. Veio o casamento de Ivo (o Magrela), meses depois o de Ricardo (o Magrão), o de Cristóvão (o Navegador), de Soraia (como suspiramos pelos cantos por Soraia!), de Cecília, de Andréia e, finalmente, o meu. A vida caminhava…
Eu e Ivo fomos os únicos a não sair do bairro, do nosso velho bairro. Acabamos compadres. Eu amava Marinete, o tempo fortalecia nossa amizade e, por tabela, nosso amor, Marinete tem um sexto sentido muito apurado, aliás dizem que as mulheres são assim mesmo, mas ela era demais, não costumava errar.
Seria sexto sentido, inteligência ou observação?, meu pai sempre disse que era tudo junto; adorava a nora que o tratava como um pai, um irmão e ultimamente como um filho.
Gostávamos de conversar na cama, no nosso ninho, como dizia Marinete, às vezes, esquecíamos da hora, outras vezes, o desejo falava mais alto e a conversa dava lugar ao sexo gostoso.
Numa destas noites o sexo veio primeiro e depois vieram outras palavras. Abracei Marinete e o papo correu tão gostoso como o sexo.
Falamos sobre nós mesmos, Marinete perguntou-me se eu me lembrava do disco de vinil que eu lhe dera num dia dos namorados. Claro que sim, eu disse. E continuei, mas este disco já era, ainda bem que eu continuo aqui. Marinete levantou-se, foi até o armário, voltou com uma caixa preta, amarrada com uma grossa fita amarela e me entregou.
Abri com mãos ávidas e olhos curiosos, e lá estavam bilhetes, cartas, recados, cartões, entrada de cinema, papéis amarelados pelo tempo.
Um perfume suave se espalhou pelo quarto, Marinete colocava sachês dentro de caixas e gavetas.
Um frescor de saudade e de lembranças se apoderou de mim, e comecei a remexer papéis, fitinhas, envelopes, lembranças, e, lá no fundo, estava um pedaço do disco de vinil.
Era o disco de que ela tanto gostava, mas que, num momento de arroubo juvenil, espatifara-o por ciúmes da minha namorada de infância. Minha mulher jurava que eu ainda pensava em Andréia.
Ali estavam marcas do nosso amor, tudo era importante, mas o pedaço do disco de vinil era uma prova de que o sexto sentido feminino é forte mesmo.
Marinete tinha razão.

(Do livro: Súbitas Presenças de Sônia Moura)

disco de vinil

(DES)AMOR

 (des)amor

(DES) AMOR  (por SÔNIA MOURA)
Ouço alguém dar uma bela definição sobre o que é o amor de mão única:
“Amar sem ser amado é o verbo no tempo perdido”.

Convenhamos, nem mesmo o melhor dos gramáticos ou o melhor dos lexicógrafos daria uma definição tão contemplativa para esta composição verbal.

O BAILE DAS MÁSCARAS – considerações finais

 O baile das máscaras

O BAILE DAS MÁSCARAS – considerações finais

As máscaras representam as marcas da inquietação humana, da apreensão de sentidos dilemáticos das formas sensíveis, as quais guardam o poder do apelo desmitificador, a partir de suas raízes, dissolvendo ou confirmando imagens convencionais cristalizadas.
O uso das máscaras pode dar forma aos sonhos, aos medos e às fantasias, podem ainda retratar medos ou manipular forças contraditórias das origens, que serão completadas com visões humanas e artísticas, permitindo extrair, através delas e de seus diversos usos, um novo real.
Transformar o lógico ou o ilógico no sensível, o racional em intuitivo, através da criação artística – mágica – sagrada ou profana – este é o papel da arte: ajudar o homem a superar-se, por isto a máscara, sendo também representação artística, não deve ser apenas uma “fabulação”, mas sim um renascimento original , fixando, sobre as marcas do tempo, os sinais da identidade do homem e de seu grupo, pela referência de sua situação no mundo, uma vez que, o inventar e o criar implicam a revalorização da ordem cosmogânica, a partir das fontes que assumem o grau de intensificação mágico- simbólica, desde que estas fontes não sejam desfiguradas.
A fonte e a força da criação dos povos, por meio da arte, e o desejo de superar-se, sem perder as marcas profundas da identidade do ser, interligam-se em segmentos, redimensionando aspectos transcendentes e a intimidade do universo humano, neste ponto se dá um modo antigo de relação entre mitos e símbolos cósmicos, onde não se sabe quem é mais poderoso, se é a realidade ou se é a imaginação.
Felizmente alguns grupos isolados ainda guardam vestígios de uma época que está-se esgotando, permitindo-nos contar esta história, dizendo assim:

Era uma vez, há muito, muito tempo, uma arte que, em sua concepção original, permitia a dramatização das questões humanas numa bela dança das máscaras, e que, ainda hoje, nos ajuda a bailar na festa recheada de múltiplas presenças, as quais são invocadas nos salões plurais, para que possamos continuar bailando em universos afetivos e emocionais.

(UFF – 2005)

O baile das máscaras

O BAILE DAS MÁSCARAS – parte IV

 o baile das máscaras

O Baile das Máscaras – parte IV – Máscaras Africanas

A arte étnica das máscaras africanas tem por princípio básico a estética, é, sobretudo forma de expressão, vem de dentro para fora do indivíduo, é “invenção”, “criação” e não mera imitação da natureza, uma vez que é arte mediadora entre os mundos natural e sobrenatural.

Regras preciosas, ritos e atos são observados  na feitura das máscaras, já que estas guardam a essência mágica. Para confeccioná-las é (era) preciso ter autorização do chefe religioso da  aldeia, que por seu reconhecido poder político (pode ser chamado “feiticeiro”) e, entre suas funções, está a de “chefe das máscaras”, ele  preside todas as reuniões de ordem ritual em que a máscara aparece e dirige todo o cerimonial.

Madeira, pedra, marfim, metal, técnicas de fusão de materiais, cinzel e incisão são materiais e técnicas usadas  na criação das máscaras, mas o principal material é a madeira, pois é mais fácil de ser encontrada. Porém, nem todo o tipo de madeira pode ser usada na confecção da máscara, seja por limitações rituais, seja por qualidades negativas atribuídas a certas plantas ou pela qualidade da própria madeira.

A madeira deve ser fresca, pois a madeira mais velha é mais difícil de ser trabalhada e também pode rachar ao secar, tornando-se inútil para o entalhe. Ao encontrar a madeira adequada à criação da máscara, o escultor deverá transportá-la para um lugar isolado e protegido dos olhares indiscretos ou curiosos, fazer alguns rituais e  ficar em uma certa forma  de  “isolamento” até concluir sua obra. Os instrumentos que ele utiliza na fabricação da máscara são, por vezes, construídos por ele mesmo, uma vez que  são considerados objetos de caráter sagrado, e em alguns casos a eles são ofertados sacrifícios.

À noite, o escultor (que pode desempenhar  outra atividade – por exemplo – a de agricultor) volta à aldeia, esconde, junto ao chefe das máscaras, sua obra inacabada ou o seu  modelo e, ao alvorecer, volta ao seu refúgio.

Após o entalhe, o escultor usará folhas rugosas, cipós, tiras de pele de animais, areia, pedras ou fragmentos de osso, para lixar a peça; a cor será dada pelo emprego de corantes vegetais obtidos com folhas maceradas, pela imersão na lama ou pelo escurecimento a fogo. O lado decorativo aparece pelo acréscimo de materiais heterogêneos como dentes, chifres, pêlos, conchas, fibras vegetais, espelhos, miçangas, sementes, pedaços de metal e faixas de tecidos. A decoração é muito importante pois  intensifica de modo dramático a expressividade  e o profundo sentimento mágico e sagrado ,  intrínseco ao objeto.

Ao finalizar a feitura da máscara, o proprietário ou o chefe das máscaras deverá  conserva-la  em lugar seguro e protegido (às vezes, quem desempenha o papel de guardião é o próprio artista), e a máscara  só sairá deste local  para os devidos usos.

Quando o dono da máscara morre, ela passa para um herdeiro (fica em família)  ou  passa para um sucessor da mesma sociedade secreta e, quando uma máscara perde o seu poder, deve ser substituída, porque não pode mais ser utilizada. Cabe ao artista  (escultor) submeter-se ao rito de purificação, conseguir o material adequado, enfim, cumprir todo o ritual de feitura da nova máscara.  Uma breve cerimônia deverá marcar a passagem do espírito da máscara velha para a nova e sua primeira aparição em público deverá ser festejada e os presentes lhe oferecerão donativos  e reconhecerão seus valores, inclusive os estéticos.

Se é um privilégio ser o portador de uma máscara, também designa a este obrigações e sanções, pois seu prestígio conferirá à máscara o mesmo prestígio, podendo aumentar ou diminuir – lhe o valor. A diminuição do valor poderá levar à destruição da máscara, pois esta perde o seu valor ritual e o mesmo acontece à máscara danificada. No entanto, o tempo e a idade são  elementos que lhe dão maior força sagrada, pois esta foi  herdada pelas diversas gerações, que lhe transmitiram o que tinham de melhor.

O mesmo vale para o artista, quando não é autodidata deve fazer seu aprendizado com um artista reconhecido, isto “aumenta” o valor de sua obra. Sua liberdade de invenção é limitada, pois deve seguir os princípios básicos impostos pelas tradições.

Esta forma de  criação   coloca o artista  em contato com forças sobrenaturais, este contato confere riscos a esta posição, mesmo assim o escultor se sente um eleito e tem  muito orgulho do seu trabalho artístico. Ele desfruta de uma posição privilegiada, mas provoca certo temor , por sua capacidade de criar formas que têm ligação com o sagrado e com qualidades sagradas, ou seja, cria instrumentos de poder.

A arte africana sempre teve uma função eminentemente social, era entendida como um meio de ensinamento e motivação de existência cotidiana e metafísica do homem, explicando o sentido da vida e indicando a posição correta dentro do grupo, assim, em manifestações artísticas : iniciações, atos da  sociedade  secreta,  ritos fúnebres e agrícolas, cerimônias públicas, as máscaras eram a síntese da arte e da narração dialógica entre o homem e o mundo visível e invisível.

É assim que se faz  (ou …se fazia).

(UFF -2005)

o baile das máscaras

O Baile das Máscaras – Parte III

O Baile das mnáscaras

Máscaras – raízes e poderes  (por Sônia Moura)

Parte III

Os povos apreenderam plenamente o significado mais profundo das máscaras ao fazerem destas um instrumento que desenha a trajetória do homem do nascimento à morte. Nem sempre a máscara traduz a emoção do indivíduo, porém, ao buscar através dela a constância das emoções e sua universalidade,  o particular passa a ser  compreendido e superado, e, desaparece para dar lugar ao universal, pois, por sua natureza, a máscara apresenta ligações com necessidades psicológicas básicas, comuns a todos nós.

O elemento motivador mágico- religioso das máscaras está ligado às necessidades da vida cotidiana, mas  nas artes e em outros empregos , a máscara  serve, especialmente, para permitir ao homem conviver com a multiplicidade da vida e para que ele possa criar novas realidades, desta forma  poderá ser  homem, espírito, bom, mau, animal, divindade, portanto, a máscara dá voz a metamorfoses simbólicas,  este é o poder transfigurador da máscara.

Ligado às forças misteriosas, o uso ou o culto das máscaras para muitos povos propicia a capacidade de modificar a realidade e a evolução humana, penetrando no mundo sagrado de seus antepassados (humanos ou animais) e conectando-se com eles, transformando o mundo complexo e hostil em um mundo menos hostil.

A máscara permite a participação e a exploração, quando une a comunidade inteira como um único corpo em torno dela, quando da sua representação o grupo “fala” a mesma língua simbólica e complexa, que só pode ser interpretada por iniciados.

Por exemplo, para o africano, a máscara é toda a indumentária, portanto pode ser um pingente com o rosto de um antepassado ou para proteção, pode ser apenas um acessório para ser mostrado em reuniões de iniciados, pode ser vestida, colocada sobre o rosto,  como capacete ou como “amuleto”.

Unindo máscara, dança e ritmo, o africano representa na máscara a essência do universo, o ponto mágico de contato e de participação do homem com a natureza, ao dar a mesma além da forma,  movimento e ritmo.

Portanto, o uso de máscaras liga-se a cada evento e às suas finalidades.

Eis as principais funções de uma máscara:

a) Ajudar em disfarces;

b) servir como símbolo de identificação;

c) ajudar a esconder identidades;

d) como elemento transfigurador;

e) pode representar: espíritos da natureza, deuses, antepassados, seres sobrenaturais ou rosto de animais;

f) parte de rituais;

g) para integrar/inteirar dança e/ou movimento;

h) fundamental em expressões religiosas;

i) adereço;

j) previnir contágios de outras pessoas.

k) símbolo de caráter “enganoso”.

Assim acontecem os diálogos com realidades transcendentes…

(Apresentação UFF – 2005)

O Baile das máscaras

Cisne Negro

 cisne negro

Cisne Negro   (Autoria: Sônia Moura)

Vamos dar um tempo em O Baile das Máscaras, mas, ainda assim vamos continuar bailando, para falarmos sobre o filme Cisne Negro, que tem como pano de fundo o balé O Lago dos Cisnes.

Assim, entre o voo do cisne e as margens do Lago, de forma perspicaz, o filme nos coloca nas margens da arte, mas, se alçaremos voos majestosos ou se mergulharemos nos profundos lagos da nossa mente e de nossa alma, somente a compreensão de cada um poderá dizer.

Bailando ou representado num tablado de encontros e desencontros, vamos percorrendo os caminhos da lucidez e da loucura, os quais se cruzam entre as esquinas do sonhos, das fantasias, das realidades, das sandices, das vaidades  e das buscas por novos caminhos, a partir de qualquer ponto ou de qualquer encruzilhada da mente e vivência da personagem principal (Nina) e também do espectador.

Este é um filme extremamente poético, e a sua poesia parte justamente dos pontos de conflitos tão comuns, mas que nos parecem muito distantes, porque não desejamos ou não conseguimos vê-los e muito menos tirá-los do nosso mundo submerso, quem sabe, por ser tão difícil nos afastarmos do que pensamos ser nossa zona de conforto, isto é, aquilo que já está (quase) cimentado em nós?

Nas cavernas das mentes, há sempre algo mais a ser explorado e, na verdade, o que este filme nos traz é um profundo questionamento sobre o comportamento e sobre a alma humana e suas sucessivas obliquações.

Simbolicamente, se entendermos o cisne negro como representante do mal e o cisne branco como representante do bem, constataremos que buscamos sempre eliminar o cisne negro e iluminar o cisne branco, já que ambos existem em todos nós, neste enredo, vamos perceber que isto é o que sempre se fez e sempre se faz, seja porque somos conduzidos por nossas experiências,vivências ou porque somos induzidos por conceitos religiosos, morais ou sociais.

E, para arrancarmos de nós o lado cisne negro, precisamos encontrar culpados por nossas “falhas” e, assim como os cisnes (negro e branco) nos tornamos dependentes do outro para sobreviver, para nos transformarmos e para deixarmos aflorar a dualidade que existe em todos nós e passamos a viver atrás das grades de nossas próprias prisões, e assim, passamos a ter  a solidão como companhia.

Quando somos/estamos dependentes e/ou nos deixamos dominar por qualquer tipo de enfeitiçamento, os nossos voos não acontecem, somos pássaros com asas quebradas, cortadas e, se não voamos, fica muito difícil mergulharmos em nosso lago pessoal.

Para mim, este é um dos destaques do filme ao mostrar que somos prisioneiros de nós mesmos, quando acreditamos que o “feiticeiro Rothbart” é dono do nosso destino, ou quando acreditamos que apenas a fidelidade de um amor eterno poderá nos salvar.

O filme nos apresenta uma densa teia que metaforiza as dualidades humanas, os conflitos criados por nós ou pelo outro, e, para nos livrarmos desta teia aprisionadora, é preciso nos livrarmos do que se costuma aclamar como perfeição e também nos apartarmos do eterno.

Nada é para sempre e nada é totalmente perfeito. Nada e Ninguém!

Já que o filme toma como trampolim o Lago dos Cisnes, para falar da vida e da morte, a dualidade barroca é a grande estrutura de ambas as obras – o balé e o filme – nos quais a solidão dos personagens dilui-se pelas veredas da solidão humana, e para dar adeus à solidão, um dos cisnes deverá morrer, por este motivo, Nina mata o cisne branco, pois este é mais irreal em nós que o considerado indevido, incorreto e abjeto – o cisne negro.

No filme, a fantasia, assim como a realidade pode ser somente uma redundância, e, por outro lado, esteticamente ele nos mostra que a sua plenitude poética pressupõe a convicção de um real entre o realizado e o fantasiado, e, ainda que a prática produtiva humana não seja exercida sem que se a represente como ideologia articuladora das relações sociais, nem a vida nem a arte se reduzem ao conhecimento nem à teoria ou à técnica, portanto, é preciso sentir.

Em suma, este filme é uma paráfrase contextual da vida.

cisne negro

O BAILE DAS MÁSCARAS – parte II(Origens e Significações)

 O baile das máscaras

O Baile das Máscaras  (por: Sônia Moura)                                                                                

Parte II – Origens e Significações

           A origem etimológica da palavra máscara apresenta controvérsias: maschera(árabe) >< masca(latim)= “demônio”; mashera>mashara  (italiano) = bufão; maschera> mashara> masca>máscara = bruxo, feiticeira (origem celta, germânica), pode significar também: pessoa (persona- lat.), emoção; alma (seele – alemão), monstro (grego). Todas estas significações são pertinentes se levarmos em conta que o uso da máscara – facial ou corporal – permite ao homem exercitar sua loucura, sua fantasia, sua alegria, permite ser  outra persona, extravasando sua emoção, liberando seus monstros, seus demônios e a sua fé, sua convivência com o desconhecido, com a vida e com a morte.

Assim a palavra confirma as significações…

            As máscaras originaram-se na tatuagem e na pintura corporal, no disfarce animal utilizado pelo caçador e no culto dos crânios nas sociedades primitivas, com os grandes criadores chamados “povos nus”, para os quais a máscara não representava ou simbolizava o demiurgo ou o ancestral, a máscara era o próprio.

Assim os deuses se manifestavam…

             E, desde os princípio, o valor artístico da máscara está ligado a seu valor simbólico e ao seu poder de expressão, uma vez que  estes permitem ao homem a catarse dos seus males, a convivência entre este e outros mundos e a vivência de suas alegrias. Sabe-se que muito deste conteúdo perdeu-se enquanto objeto concreto, mascarando-se em disfarces psicológicos, filosóficos ou sociológicos ligados às necessidades sociais de sobrevivência.

Assim a arte interage com a magia, com o sagrado, com o profano e com o dia a dia …

(Apresentação – UFF/2005)

O baile das máscaras