O BAILE DAS MÁSCARAS – parte IV

 o baile das máscaras

O Baile das Máscaras – parte IV – Máscaras Africanas

A arte étnica das máscaras africanas tem por princípio básico a estética, é, sobretudo forma de expressão, vem de dentro para fora do indivíduo, é “invenção”, “criação” e não mera imitação da natureza, uma vez que é arte mediadora entre os mundos natural e sobrenatural.

Regras preciosas, ritos e atos são observados  na feitura das máscaras, já que estas guardam a essência mágica. Para confeccioná-las é (era) preciso ter autorização do chefe religioso da  aldeia, que por seu reconhecido poder político (pode ser chamado “feiticeiro”) e, entre suas funções, está a de “chefe das máscaras”, ele  preside todas as reuniões de ordem ritual em que a máscara aparece e dirige todo o cerimonial.

Madeira, pedra, marfim, metal, técnicas de fusão de materiais, cinzel e incisão são materiais e técnicas usadas  na criação das máscaras, mas o principal material é a madeira, pois é mais fácil de ser encontrada. Porém, nem todo o tipo de madeira pode ser usada na confecção da máscara, seja por limitações rituais, seja por qualidades negativas atribuídas a certas plantas ou pela qualidade da própria madeira.

A madeira deve ser fresca, pois a madeira mais velha é mais difícil de ser trabalhada e também pode rachar ao secar, tornando-se inútil para o entalhe. Ao encontrar a madeira adequada à criação da máscara, o escultor deverá transportá-la para um lugar isolado e protegido dos olhares indiscretos ou curiosos, fazer alguns rituais e  ficar em uma certa forma  de  “isolamento” até concluir sua obra. Os instrumentos que ele utiliza na fabricação da máscara são, por vezes, construídos por ele mesmo, uma vez que  são considerados objetos de caráter sagrado, e em alguns casos a eles são ofertados sacrifícios.

À noite, o escultor (que pode desempenhar  outra atividade – por exemplo – a de agricultor) volta à aldeia, esconde, junto ao chefe das máscaras, sua obra inacabada ou o seu  modelo e, ao alvorecer, volta ao seu refúgio.

Após o entalhe, o escultor usará folhas rugosas, cipós, tiras de pele de animais, areia, pedras ou fragmentos de osso, para lixar a peça; a cor será dada pelo emprego de corantes vegetais obtidos com folhas maceradas, pela imersão na lama ou pelo escurecimento a fogo. O lado decorativo aparece pelo acréscimo de materiais heterogêneos como dentes, chifres, pêlos, conchas, fibras vegetais, espelhos, miçangas, sementes, pedaços de metal e faixas de tecidos. A decoração é muito importante pois  intensifica de modo dramático a expressividade  e o profundo sentimento mágico e sagrado ,  intrínseco ao objeto.

Ao finalizar a feitura da máscara, o proprietário ou o chefe das máscaras deverá  conserva-la  em lugar seguro e protegido (às vezes, quem desempenha o papel de guardião é o próprio artista), e a máscara  só sairá deste local  para os devidos usos.

Quando o dono da máscara morre, ela passa para um herdeiro (fica em família)  ou  passa para um sucessor da mesma sociedade secreta e, quando uma máscara perde o seu poder, deve ser substituída, porque não pode mais ser utilizada. Cabe ao artista  (escultor) submeter-se ao rito de purificação, conseguir o material adequado, enfim, cumprir todo o ritual de feitura da nova máscara.  Uma breve cerimônia deverá marcar a passagem do espírito da máscara velha para a nova e sua primeira aparição em público deverá ser festejada e os presentes lhe oferecerão donativos  e reconhecerão seus valores, inclusive os estéticos.

Se é um privilégio ser o portador de uma máscara, também designa a este obrigações e sanções, pois seu prestígio conferirá à máscara o mesmo prestígio, podendo aumentar ou diminuir – lhe o valor. A diminuição do valor poderá levar à destruição da máscara, pois esta perde o seu valor ritual e o mesmo acontece à máscara danificada. No entanto, o tempo e a idade são  elementos que lhe dão maior força sagrada, pois esta foi  herdada pelas diversas gerações, que lhe transmitiram o que tinham de melhor.

O mesmo vale para o artista, quando não é autodidata deve fazer seu aprendizado com um artista reconhecido, isto “aumenta” o valor de sua obra. Sua liberdade de invenção é limitada, pois deve seguir os princípios básicos impostos pelas tradições.

Esta forma de  criação   coloca o artista  em contato com forças sobrenaturais, este contato confere riscos a esta posição, mesmo assim o escultor se sente um eleito e tem  muito orgulho do seu trabalho artístico. Ele desfruta de uma posição privilegiada, mas provoca certo temor , por sua capacidade de criar formas que têm ligação com o sagrado e com qualidades sagradas, ou seja, cria instrumentos de poder.

A arte africana sempre teve uma função eminentemente social, era entendida como um meio de ensinamento e motivação de existência cotidiana e metafísica do homem, explicando o sentido da vida e indicando a posição correta dentro do grupo, assim, em manifestações artísticas : iniciações, atos da  sociedade  secreta,  ritos fúnebres e agrícolas, cerimônias públicas, as máscaras eram a síntese da arte e da narração dialógica entre o homem e o mundo visível e invisível.

É assim que se faz  (ou …se fazia).

(UFF -2005)

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