Amigos
Só para lembrar:
POLIQUERÊNCIAS (Autoria: Sônia Moura)
Quero-te agora
Para embalar teus sonhos
Quero-te ontem
Para chorar teu pranto
Quero-te amanhã
Para o amor eterno
Quero-te de manhã
Para cantar teu canto
Quero-te à tarde
Para te dar alento
Quero-te à noite
Para o meu intento
Quero-te sempre
Para amar-te tanto
Quero-te agora
Para o meu encanto
Quero-te ontem
Para matar saudades
Quero-te amanhã
Para beijar-te lento
Quero-te de manhã
Para cheirar teu cheiro
Quero-te à tarde
Para encontrar-te amigo
Quero-te à noite
Para sorrir contigo
Quero-te sempre
Para o amor preciso
(Tempo, tempo, tempo.. 14h, domingo.)
Do livro “Entre Beijos e Vinhos” de Sônia Moura
ENCANTAMENTO (Autoria: Sônia Moura)
Que mistério é este que me faz perder-me em mim
Perdendo minh`alma e me deixando parva assim?
Que feitiço é este que me faz tatear às cegas
Sem encontrar o caminho de volta para mim?
Que alquimia é esta que me faz esquecer de mim
Embriagando-me toda, num dissabor sem fim?
Que encantamento é este que se apossa de mim
E corrói meu ser como um esfomeado cupim?
Que força sobrenatural é esta que cala toda palavra em mim
E me faz perder a dimensão da dor me deixando assim
Sem forças para me apartar de ti?
(Da obra: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)
SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte III
[por SÔNIA MOURA]
Por sua habilidade e poder de ressonância e por ser assistemático, o símbolo transforma o particular em geral, o único em muitos, por isto tem a capacidade de evocar o ausente, o que dá ao pensamento simbólico poderes para, através do imaginário, articular manipulações fictícias ou mentais, fundir símbolo e coisa simbolizada, assim, por detrás do imaginário, acontece a ordenação de fatos como os sonhos, a magia, o delírio e das imagens poéticas, levando a homem a viajar no tempo.
Assim é que por sua constância e relatividade, por seu poder de aproximação e interpenetração, por se achar pleno de realidades concretas não totalmente esclarecidas e por sua estrutura não estática, inscreve-se numa certa lógica, mesmo não sendo um simples argumento.
Marcada pela constância e pela relatividade – características fundamentais do símbolo – a sustentação da lógica simbólica estará garantida pelo engendramento do que existe no interior do símbolo, os elos e as conexões, os quais permitem a comunicação entre os símbolos, levando o pensamento simbólico a revelar uma tendência que também é encontrada no pensamento científico e racional – a tendência das relações.
Como nasce do inconsciente, elemento criador do homem e do seu meio, apresentando-se pela síntese do contrário, o símbolo traduz uma relação intrínseca entre o simbolizador e a coisa simbolizada, instigando a imaginação, então, diferente do que é meramente científico e racional, esquiva-se de se mostrar como uma simples demonstração.
A lógica conceitual e a análise intelectual rodopiam em torno da imagem simbólica que é central, pondo o psiquismo em movimento, uma vez que a linguagem simbólica instiga a associação de dois termos: um aparentemente apreensível e o outro que escapa à apreensão.
Deste modo confirma-se que para a linguagem simbólica não existe o tempo perdido, pois a função mediadora do símbolo junta-se à função unificadora e juntas reúnem fatos e histórias e atam o homem ao mundo, pela memória emotiva, preservando e religando o tempo, o espaço e o homem e, desta forma, renova e refaz o que poderia desaparecer, perpetuando assim todo o mistério da vida.
(Apresentado por Sônia Moura – UFF)
SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte II
[por SÔNIA MOURA]
Uma das funções primordiais do símbolo é ajudar o homem a decifrar o indefinido, o incompreensível, embora fortemente sentido, sem, no entanto, arrancar por completo o véu, pois, se o termo oculto revelar-se por completo, o símbolo perecerá.
Por ser a representação de imagens pinçadas do mundo real, concreto, o símbolo traz em si a sintetização das influências do consciente e do inconsciente e, longe de ser mera expressão linguística, por seu caráter dinâmico, sensível e afetivo, este usa a palavra, não para falar das coisas, mas para representá-las.
Unindo o visível e o invisível, o compreensível e o compreensível, o símbolo rompe com esquemas e conceitos pré-estabelecidos, transporta-se para além da razão, todavia, sua polaridade não exclui analogias e aproximações, como é o caso das grandes imagens arquetípicas que unem povos e culturas diferentes em torno de um símbolo.
Atuando em várias dimensões, o símbolo pode aparentemente separar, por suas diversas significações e interpretações, porém une ideias e pensamentos, quando uma ou mais comunidades se reconhecem, se encontram e identificam emoções pela força das expressões e representações simbólicas.
Segundo Paul Ricouer, com base dupla na sua construção e por sua tendência dual, o símbolo encontra-se “em duas dimensões, em dois universos:um de ordem linguística e outro de ordem não lingüista. (Ricouer, Paul. Teoria da Interpretação, 1987 p. 65).
Sem aprisiona-lo, a ordem linguística pode atribuir-lhe sentidos ou significações, mas sua marca está na dimensão não linguística, pela associação: imagens, ato ou fato à coisa simbolizada.
Caleidoscópio de incontáveis significações, os símbolos registram os aspectos emotivos da linguagem, revelando os poderes mágicos das palavra, as quais servem de referências para nomear as coisas simbolizadas. No entanto, é o símbolo que acaba por dominar o seu referencial.
As palavras apenas conseguem sugerir sentido ou sentidos para o símbolos, sem conseguir expressar-lhe todo o valor, pois este rompe com o estabelecido, reunindo os extremos numa só visão: mostrar e esconder, esclarecer e dissimular.
Os símbolos não se deixam levar, eles se impõem e têm suas próprias leis, assim, traduzindo o pensamento, quando governados pela realidade, tornam-se objetivos e racionais ao passarem pelo campo da semântica e, ao passarem pelo campo não semântico, enveredam pelo campo das emoções, dos prazeres, pelo que é subjetivo.
(Apresentado por Sônia Moura – UFF)
SÍMBOLOS – IMAGENS PRIVILEGIADAS – parte I
A definição do que é um símbolo prende-se à definição de mistério. Onde há mais mistérios senão naquilo que é visível e invisível, tocável e intocável, velador e revelador, uno e múltiplo? Assim é que o multifacetado símbolo projeta-se num feixe atado que lhe dá unidade, universalidade, e, ao mesmo tempo, “individualidade”, tornando impossível desamarrar-se este feixe sem prejuízos imediatos e irreparáveis.
Uma vez que não se consegue aprisionar um símbolo ou impingir-lhe tradição, desestruturando qualquer sistema montado, este amolda-se, modifica-se ou perpetua-se, pois se firma pelo que não se vê e sim pelo que se sente.
Etimologicamente, o vocábulo símbolo, oriundo do grego, significa: juntar, reunir, confirmando o que está na origem desta palavra – símbolo é o objeto dividido em dois.
Na Grécia antiga symbolon (sinal de reconhecimento) representava, por exemplo, o objeto por meio do qual mais tarde os pais podiam reconhecer os respectivos filhos de quem se afastaram; também era a senha que os juízes atenienses recebiam ao entrarem no tribunal e contra a qual recebiam os soldados, o símbolo também era a senha entregue aos que assistiam às assembleias do povo.
Podia ser, ainda, uma espécie de passaporte ou licença de permanência para os estrangeiros que transitavam por uma povoação. Símbolo era, também, contribuição, sinal de convenção, palavra de ordem, ou seja, era tudo o que servia para reconhecer alguém ou alguma coisa.
Antes do uso da fala, o homem já utilizava símbolos, por exemplo, pintando composições figurativas nas paredes das cavernas, depois foram adotados novos signos: linguísticos, matemáticos, gráficos e outros mais, que, de um modo ou de outro, dirigem e organizam o pensamento, registram acontecimentos e comunicam fatos, ajudam o raciocínio e consolidam idéias e, como formas de linguagem, organizam o nosso viver.
Assim como outros símbolos, a língua (falada e/ou escrita) está ligada essencialmente à emoção, e, apesar de também fazer parte da estrutura mantenedora do sistema simbólico, só terá vida utilitária, se unir palavras e idéias, pensamento abstrato e pensamento verbal, que deverão ser pares solidários.
Por este motivo, às palavras são atribuídos poderes mágicos capazes de servirem como instrumentos de controle ou como força mais conservadora dos feitos da humanidade; aos signos numéricos são atribuídas peculiaridades abstratas, que, na prática, servirão ao concreto; aos símbolos oníricos são atribuídos fatores desiderativos (em simbologia direta, indireta ou mista); às representações artístico-visuais (desenhos, pinturas, retratos, esculturas) é atribuído o poder das perpetuações da imagem pela reprodução.
Os símbolos são cicatrizes que traduzem sobremaneira a essência neles guardada, por trazerem as marcas daquilo que representam e, também, são considerados expressões racionais e irracionais, concomitantemente.
Usados pelo homem para auxiliar o processo de pensar e registrar suas realizações ou frustrações, os símbolos povoam nossas vidas desempenhando função representativa, portanto, o grande valor deste será determinado pela apreensão da relação que se quer mostrar entre o símbolo e a coisa simbolizada.
(Apresentado por Sônia Moura – UFF)