AVES PERDIDAS

                                                             Aves Perdidas

AVES PERDIDAS  (por Sônia Moura)

 

Depois de um tempo sem fazer a caminhada matinal à beira-mar, pois a chuva resolveu tomar o lugar do sol, felizmente no domingo (25/10/2009), o sol voltou a reinar e a iluminar o Rio de Janeiro, ainda que por pouco tempo.

A manhã trouxe alegrias: o encontro com os amigos de caminhada, a alegria de banhar-me nas águas copacabanenses, o papo que correu solto, porque estava tudo acumulado há muitos dias.

No entanto, a surpresa maior viria quando eu e Sérgio vimos o filhote de uma belíssima ave que quase se afoga, tentando sair do mar.

A ave era realmente bela, a plumagem negra contrastando com o branco do dia, os pés desproporcionais para o seu tamanho, mas este detalhe perdia para a beleza da cor daqueles pés e pernas – eram verdes, sim, eram verdes e para completar, no início de cada perna, havia um anel na cor de um vermelho bem vivo, que combinava com o bico também vermelho e, para contrastar, no final do bico, havia um detalhe em verde, o qual  só fazia realçar a beleza daquela ave.

Assustada, cansada, estressada, a ave recusava a nossa ajuda, ainda assim, conseguimos levá-la até areia e a deixamos lá, para que secasse sua bela plumagem e, quem sabe, voltasse para o aconchego de seus pares.

Continuamos nossa caminhada, mas o meu coração ficou apertado demais.

Será que ela se salvou, era tão bonita, será que a deixaram em paz, secando suas asinhas encharcadas. Será que conseguiu voar outra vez, será que chegou até seu lugar, será que encontrou seu bando?

O encontro com esta ave me remeteu às coisas da vida.

Quantas vezes nos encontramos perdidos, e, ainda  que tantas vezes,  como a ave,  por medo ou por descrença,  recusemos a ajuda, mas, se conseguimos entender que a ajuda será boa para nós,   as chances de sobrevivermos tornam-se grandes, se nos deixarmos guiar por  uma mão amiga que venha nos amparar.

Nesta manhã de segunda-feira, acordo muito cedo mesmo e resolvo escrever esta crônica, neste momento, a televisão exibe uma reportagem sobre jovens aves perdidas, que extraviaram-se do mundo, ao encontrarem o mundo das drogas.

Tristes fatos, tristes cenas, tristes verdades.

Um jovem mata a namorada num momento de fúria que a droga provocou.

Duas famílias perdidas, desoladas, sofridas, tão desnorteadas como a ave da praia; aves adultas que perdem seus filhotes para a desgraça das drogas.

O que nos resta fazer?

Acho que, antes de mais nada, precisamos rezar muito, sim, rezar. Não sou tão religiosa assim, mas creio na força da oração, ela é fonte de energia e se espalha fácil, dando sustentação nas horas tristes.

A seguir, devemos cobrar das autoridades maior esforço em debelar as fontes que deixam tantas avezinhas perdidas e a maioria, infelizmente, para sempre, criando leis mais severas, sem dó nem piedade, pois os que espalham a droga não têm pena de ninguém, seus corações já foram devorados pela ganância, só o dinheiro conseguido com a venda da droga os acalenta.

Desejo ardentemene que estas jovens aves encontrem em seus caminhos mãos amigas e que nela segurem, para que consigam sair do mar revolto, livrando-se das ondas, que as jogam para lá e para cá.

Oxalá, consigamos salvá-las antes que elas se afoguem.

Deus, proteja nossos ninhos e nossos pequenos passarinhos.

Senhor, tenha piedade de todos nós!

 

P.S.: Se alguém souber o nome da avezinha da praia, por favor escreva-nos.

 

2 comentários sobre “AVES PERDIDAS

  1. Bete disse:

    Já fazia um tempinho que eu não visitava seu site, mas aqui estou. Como sempre suas palavras objetivas e certeiras atingindo o sentido correto, porém sem perder a sensibilidade, que torna o texto belo. Adorei a crônica da avezinha, que realmente remete às “aves-jovens” perdidas, presas a algo que por ironia “supostamente” lhes daria a liberdade.
    Grande beijo
    Bete

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