À meia noite em ponto

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Há muito já se sabia na vizinhança que Floriano arrastava as asinhas para Clotilde. Em Copacabana, tinha também uma tal de Rosana que deixava Floriano maluquinho, maluqinho…
Ainda tinha a Florisvalda, companheira de viagem, indo ou voltando do trabalho. Era no trem que braços e pernas se tocavam, aquela sensação gostosa percorria o corpo de ambos. Nas primeiras semanas nem um, nem outro se atreveu a falar o que de fato queriam, pois Florisvalda era casada com Macedo, amigo de Floriano, mas um dia, aconteceu, mataram seus desejos, e quase matam uma grande amizade, por pouco o marido de Flor não descobriu. Terminaram tudo. Tudo?
Num dia de sol escaldante, areia fervendo, sangue fervendo, desejos idem, Floriano estava de serviço e, na saída, resolveu tomar uma cervejinha no quiosque mais perto. Ele e Edson aproveitariam o dia, ambos tinham o álibi perfeito, diriam em casa que foram obrigados a dobrar, não tiveram como dizer não, sabe como é…
Foram para praia, no quiosque , um grupo de pagode esquentava mais ainda o dia, mulheres lindas borboleteavam por ali. Floriano cresceu os olhos pra cima de uma lourinha e já não sabia dizer que loura era a mais gostosa, se a cerveja ou a menina com cara de anjo. Dava goles na cerveja e com os olhos comia o corpo seminu da lourinha angelical.
O amigo aconselhou: – Rapaz, vai com calma, já tem mulher demais no seu caminho, calma!
Não adiantou, Floriano não resistiu.
A lourinha fez caras e bocas, ele quis marcar um encontro logo para o dia seguinte, ela abriu um sorrisão sem tamanho, tascou-lhe um beijo, desses de tirar o fôlego de mergulhador com máscara e tudo, e exigiu: – Só serei sua no dia 31 de dezembro, à meia noite em ponto, você pode, não pode? Você me quer, não quer? Ele disse que sim para as duas perguntas. O dia 31 estava tão perto. Resolveu esperar.
Floriano chegou em casa fazendo cara de triste, cabisbaixo. Elizabeth recebeu-o com carinho, e perguntou o porquê de sua tristeza.
– Vou ter que trabalhar dia 31, lá em Copa, chato, não? Todo mundo festejando e eu lá feito um dois de paus. Isto não é justo, não é! Falou.
Meigamente, Elizabeth foi para mais perto do companheiro, beijou-lhe o rosto, afagou –lhe os cabelos, pedindo para que não ficasse triste, eram ossos do ofício, ela compreendia. Elizabeth era muito compreensiva. Disse também que à meia noite em ponto faria um brinde para ele. Floriano riu meio sem graça com uma pontinha de culpa, coçou a cabeça, e… quase desistiu.
Dia 31, à meia noite em ponto, enquanto Floriano, ansioso, aguardava a sua loura angelical, uma Elizabeth endiabrada gemia nos braços de Tadeu. E, à meia noite em ponto, ergueu um brinde ao marido, sem culpa, sem remorso, sem dó.
Gargalhou e beijou sofregamente o outro.

(Do livro Minimamente Crônicas de Sônia Moura)

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