MÃE – HISTÓRIA VERDADEIRA!(Autoria: SÔNIA MOURA)
Sentada em sua cadeira de balanço, naquele canto da sala, onde o sol bate todas as manhãs, mamãe sentava-se para ler, ela gostava de ler. Isto foi há tanto tempo…
Hoje, aqui na minha sala, quase sinto minha mãe se incorporar em mim e começo a perguntar-me sobre o que ela pensava, quando olhava para mim, com aquele olhar suave, às vezes sorria um riso de saudade.
É, minha mãe ria um riso de saudade, hoje eu sei.
Acho que adormeci e sonhei ou, quem sabe, minha mãe veio me visitar. Conversamos uma conversa gostosa. Um raio de luz inundava a sala. Conversávamos através do olhar e eu pude vê-la a cuidar de mim, sempre.
Minha vida inteira se mostrou dentro de um caleidoscópio de saudades das coisas de que nunca soube e de outras das quais quase me esqueci.
Nossa, quanto trabalho, como eu era chorão. Deus que rotina: troca fralda, dá de mamar, dá banho, põe no colo, acorda de madrugada, meu Deus como minha mãe dormia pouco…
Voltar a trabalhar, é preciso deixar os filhos, dor, tristeza. A empregada está atrasada, o chefe está bravo, olha a hora, tanto tempo fora… Saudades dos filhos.
Primeiro dia na escola, reunião na escola, dever de casa, vacinas, joelho ralado, gripe, febre alta, vamos ao médico. Trabalho, trabalho, tanto tempo longe… lágrimas.
Acorda, está na hora, vai dormir, já é tarde. Come tudo, verdura faz bem. Tomou banho?, escovou os dentes? Tomou seu leite? Venha cá, dá um beijo.
O mundo é grande e, às vezes, cruel, perigoso. Tantos cuidados, tantos medos, tantas rezas… Meu Deus, proteja-os, fico tão pouco por perto, fico tão pouco com eles, proteja-os. Minha Nossa Senhora, a senhora também é mãe, tome conta deles.
Férias. Vamos ao cinema, vamos à praia, quer sorvete? Todas as brincadeiras o dia todo, todos os dias. Alegrias, alegrias.
O dinheiro está curto, brinquedo lindo, dá-se um jeito, chegou o natal. Crediário. Meu brinquedo!
Alegrias, broncas, beijos, palmadas, afagos, lágrimas, sorrisos…
O tempo passando.
Vestibular. Você consegue. Parabéns! Dinheiro para o lanche, dinheiro para a festinha, dinheiro para os passeios… Dá-se um jeito!
Carteira de motorista. Formatura. Primeiro emprego. Você vai conseguir. Primeiros amores. Vai dar certo.
Primeiro amor, primeira decepção, primeiro beijo, às vezes conto, outras não, mamãe finge que não sabe, finge que não vê, mas sabe.
Casamento. Filhos. Lágrimas de alegria. Avó.
O tempo se anula, mas na se desfaz, ao contrário, ele se refaz…
Voltar a trabalhar, é preciso deixar os filhos, dor, tristeza. A empregada está atrasada, o chefe está bravo, olha a hora, saudades dos filhos. Mãe, pode ficar com eles? A empregada faltou…
A vida e seu eterno recomeço, pois a vida é um espetáculo que se completa em outro, em mais outro e em mais outro…
Despertei.
Nossa de quanta coisa eu me esqueci e, agora, olho meus filhos dormindo tranqüilamente, como um dia eu também dormi.
Fecho a porta do quarto deles e escancaro a porta da vida que já vivi, porque hoje meus filhos também esperam por mim.
Vou para o meu quarto, entendo muito do que ainda não havia entendido e só consigo dizer:
– MÃE, TE AMO!