O FEITIÇO VIROU CONTRA A FEITICEIRA

O FEITIÇO VIROU CONTRA A FEITICEIRA          bRUXA
(Autoria: Sônia Moura)                                        

Elvira fora traída pelo marido, Ricardo agora morava com “a outra”.
O nome da “outra” não era pronunciado, Elvira proibira, não queria dar força à maior inimiga. Dizia que a mãe sempre falava que chamar um inimigo pelo nome, era dar a ele muita força. Elvira queria a outra bem fraca.
A outra se colocava como a melhor amiga e tirara dela o grande amor de sua vida. Isto não tinha perdão.
A traída chorou, esperneou, pensou em se matar, rogou pragas e, finalmente, acalmou-se e foi à luta, mas, antes de sair da toca, fez a si mesma uma promessa singular: só iria namorar homens casados.
Não tinha sofrido tanto por causa de uma mulher? Agora iria vingar-se, saindo com homens casados, queria que as mulheres sofressem o que ela sofreu, então, só namoraria homens casados, de preferência, bem casados.
A raiva era contra a outra e não contra o marido que a abandonara e que a traíra, assim, a vingança era contra as outras mulheres, e claro, ela no papel da “outra”.
Não se importava se fossem apenas encontros esporádicos, mas nos momentos em que se encontravam, fazia de tudo para prender o homem o maior tempo possível com ela, não porque gostasse dele ou de sua companhia, mas queria que a mulher dele sofresse, para isto ela era a outra.
Um dia, Elvira conheceu Nivaldo e lhe fez a pergunta costumeira: – Você é casado? A resposta foi afirmativa. Elvira exultou, este era mais um para que ela colocasse em prática a sua vingança contra as mulheres.
Até aquele dia, Elvira não tinha conseguido sentir o sabor da vingança, nenhum homem dissera a ela que a mulher havia suspeitado de nada mesmo. Elvira se roía de raiva.
Já com Nivaldo tudo estava sendo diferente, ele sempre se queixava de que não podia vê-la como queria, porque a mulher já estava desconfiada. Noutro dia, falava sobre uma discussão que tivera com a mulher ou dizia que Elvira devia tomar cuidado, pois a mulher era uma “fera”!
Elvira se deleitava com estes relatos, vibrava intimamente ao saber que “a outra” sofria.
O tempo ia passando, Nivaldo e Elvira continuavam a se encontrar às escondidas e somente quando ele podia, e, nos últimos tempos, ele podia cada vez mais, ainda que se mostrasse preocupado com a hora da partida.
Elvira não reclamava, só prendia o amado, entre seus braços e pernas, quando este dizia que precisava ir embora, estava na hora, a patroa iria brigar, estava desconfiada, era melhor não bobear.
A agora “outra”, fazia beicinho, falava de amor, implorava e Nivaldo cedia e, no dia seguinte, contava a ela o banzé que a mulher armara na noite anterior e dizia: -É está ficando difícil.
A bem da verdade, Nivaldo e Elvira sentiam-se cada vez mais atraídos, mas fingiam que isto não estava acontecendo.
Um dia, quando estavam se amando, Nivaldo sentiu a súbita presença de Eros e não resistiu, declarou-se à Elvira.
Mesmo com muita vontade de dizer sim à proposta do homem que a abraçava naquele momento, a mulher, que não desejava se prender a mais ninguém e só gostava de namorar homens casados, disse que ficava muito alegre, mas que não queria nada com ele, além dos encontros furtivos, em quartos de motéis e aconselhou-o a continuar com a esposa.
Cupido gargalhava debaixo dos lençóis.
Elvira nunca ficou sabendo, mas Nivaldo não era casado, inventara tudo porque, quando conheceu Elvira, não tinha nenhuma vontade de assumir compromisso com mulher alguma, queria poder sair com quem desejasse, por este motivo, dizia a todas as mulheres que era casado, e, assim, ia levando a vida.
Mas, como Cupido é um menino muito brincalhão, eles se apaixonaram e foi aí que o feitiço virou contra a feiticeira e Elvira perdeu a chance de deixar o passado em seu devido lugar e ser feliz, outra vez.

(Do livro: Súbitas Presenças, de Sônia Moura)

BRUXA

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