BOCA VERMELHA E A LUZ DO LUAR
(Autoria: SÔNIA MOURA)
A boca vermelha falava mansinho:
-Te amo, te quero, vem cá meu carinho
Ele, ofegante, chegava mais perto
Ela, faceira, a repetir, repetir…:
-Te amo, te quero, vem cá meu benzinho
Quero te amar
No escuro da noite, a boca vermelha
Era ornamento para o quarto inquieto
Para a cama desfeita
Para o espelho à espreita
Esperando que a boca vermelha
Voltasse a implorar:
-Vem cá, meu benzinho, vem cá!
-Quero te amar
Com olhos atentos
Ele espreitava o vermelho vivo
Da boca carnuda, ali, a implorar:
– Vem cá, meu benzinho, não vou agüentar…
Preciso te amar
O sol se anuncia
Um som se rebela
Uma luz esmaece
O homem estremece
A boca sumiu
O vermelho partiu
Seu sonho de amor
Ficou no lençol
Restos do desejo
Em branco leitoso
Nascido da boca vermelha
E da luz do luar…
(Do livro POEMAS EM TRÂNSITO de SÔNIA MOURA)