O UNICÓRNIO

O UNICÓRNIO (Autoria: Sônia Moura)

Branco como a luz do luar, o unicórnio docemente contemplava a flor azul nascida naquela manhã de primavera. O cheiro que ela desprendia era inebriante e ele se encantara com aquele azul que bordava as pétalas da (re)nascida.

Não queria colhê-la , mas também não queria deixá-la sozinha no meio da floresta, não podia afastar-se dali.

E se um descuidado pisasse aquelas pétalas aveludadas, não poderia deixá-la à mercê da própria sorte.

Havia também o perigo iminente de um inseto ou uma fera que, instigados pelo cheiro que a flor exalava, desejassem comê-la, ela era, de fato, uma tentação: cheiro, cor, forma, tudo nela era sinônimo da tentação.

E, se para ele a contemplação bastava, nos outros, poderia despertar desejos canibalescos, então ele não podia afastar-se de junto dela.

A docilidade do unicórnio transbordava pelo olhar lançado à flor.

Anoiteceu.

E, como à noite, os deuses dos sonhos nos permitem viajar, o unicórnio viu a sua flor transformar-se em uma linda jovem, parecia renascer para uma nova vida.

Assim como as pétalas da flor, a pele da virgem era tão aveludada e  com um sorriso ela o tornou cativo. Ele não resistiu, aproximou-se dela, sem nenhuma cautela e desejou ardentemente poder abraçá-la com toda força e ternura que lhe fosse permitido, ainda que por alguns minutos.

Ao tocar-lhe a pele, seu corpo estremeceu e ele ficou paralisado, como se tivesse em transe, mas, ainda assim, insistiu e roçou-lhe mansamente o corpo aveludado.

A moça sorriu para ele, depois, tocou-lhe a face, acariciou-lhe o chifre em espiral e, neste momento, ele era, agora, um ser humano. Os jovens lançaram-se um nos braços do outro e aconteceu o beijo ardente, unindo definitivamente os amantes.

O sol vinha chegando de mansinho, enquanto ele despertava com a sensação de que tudo fora real. Demorou para abrir os olhos, queria que aquilo que eles viveram em sonho fosse verdade, não apenas um sonho.

Continuou sonhado com sua flor azul, queria ver este sonho realizado, ah! como queria!

Abriu lentamente os olhos e descobriu o que o sonho e o desejo podem realizar.

(Do livro: Súbitas Presenças de Sônia Moura)

UNICORNIO

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *